Claudia Ohana não é do tipo que se contente apenas com palavras. “Comigo não tem essa de blá blá blá. Acredito em atitudes”, afirma, banhada pelo sol que invade a sala de seu apartamento no Humaitá, Zona Sul do Rio. A frase é dita enquanto reflete sobre o legado deixado pela mãe. Nazareth Ohana, a primeira mulher montadora do cinema brasileiro, morreu quando a atriz tinha 15 anos, vítima de um acidente de trânsito. “Ela era muito foda e muito louca. Não era militante feminista, mas mostrava isso na maneira como agia. Era independente, e tinha a liberdade de dormir com quem quisesse, por exemplo.”
Embora a perda precoce tenha sido brutal para uma adolescente (“Uma porrada na cara. Tive que parar de brincar de boneca para ser adulta”), foi com essa bagagem que Claudia assumiu as rédeas da própria história. Com pai ausente, decidiu morar sozinha, começou a fazer testes para trabalhar no cinema e enfrentou com pulsos firmes o machismo. “Imagina uma jovem de 15 anos morando só? Mas sempre soube dizer não”, conta, sobre a maneira como superou também a pecha de símbolo sexual, munida de muita dedicação ao ofício. “Isso me irritava. Queria mostrar que era uma boa atriz e sempre estudei muito para isso. Sou assim até hoje. Faço coach quando tenho um novo trabalho.”
Dedicação reverberada na agenda cheia. Além de estar em cartaz no Teatro dos Quatro, na Gávea, com a peça “Toc Toc — Obsessivamente divertido”, ela tem dois filmes a serem lançados nos próximos meses: “Chamado noturno”, de Arthur Vinciprova, e “Entrequadras”, de Filipe Gontijo. Também vai reviver, nesta segunda-feira, a inesquecível vampira-popstar Natasha, da novela “Vamp” (1991), no show de comemoração pelos 60 anos da TV Globo e se prepara para um musical no teatro, sobre o qual ainda não pode contar detalhes. “Estou toda bookada”, orgulha-se.
Claudia fará, ainda, participação em “Vale tudo”, depois de ter matado a saudade das novelas em 2023, com a elogiada atuação em “Vai na fé”, como a terapeuta holística Dora. “Foi uma honra escrever para ela”, diz a autora, Rosane Svartman. “A Claudia trouxe muito para a personagem. Misturou, com maestria, força e fragilidade. Tudo com um toque de poesia. Isso me emocionava, era como se ela tivesse escrito o papel juntamente conosco.”
Lembrada também por um ensaio histórico para a revista Playboy, a atriz segue, aos 62 anos, sem se distanciar das próprias convicções ao pautar debates sobre etarismo em seu Instagram @ohanareal, onde reúne mais de um milhão de seguidores. Recentemente, causou burburinho ao caminhar pela Avenida Paulista, em São Paulo, munida de um cartaz com a frase “Nós não estamos velhas aos 62”. “É um momento de realmente dizermos ‘não’ e exigirmos respeito. Faz parte de um processo em que fui vivendo e sentindo a necessidade de dizer: ‘Não venham me tachar!’”, avisa. “Eu me sinto muito jovem e não vou me vestir como as pessoas esperam. As mulheres que passam dos 60 anos hoje em dia são muito diferentes daquelas de uma década atrás. Acho que estamos vivenciando algo grande, e esse é um caminho sem volta.”
Coisas de quem lida, de peito aberto, com os efeitos do tempo. Foi assim, alguns anos atrás, quando se viu acometida por irritações e confusões mentais. Depois, vieram as ondas de calor. “Ahhhh… É a menopausa”, pensei. “Mas a angústia passou e ficaram só os calores. Não pude fazer reposição hormonal porque tive diverticulite. Segurei a onda fazendo exercícios e cuidando da alimentação. Quando me sentia angustiada, fazia uma caminhada de uma hora, dançava… Também cai a libido, não só sexual, mas pela vida como um todo. Um lado bom é que você fica mais tranquila, sem precisar daquele sexo desenfreado, de quando é mais nova e quer comer o mundo. E eu era um pouco assim.”
Munida dessas ferramentas superou também a nosofobia, condição psicológica associada ao medo de adoecer. “Não podia ficar longe de um hospital. Se me chamassem para uma casa de campo, precisava saber se havia algum por perto. Houve uma época em que pensava haver um osso solto na cabeça. Era como se conseguisse escutá-lo balançar”, recorda-se. “Fiz terapia e neurolinguística para superar.”
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Em meio a este emaranhado de memórias e constatações sobre o presente, estar diante de Claudia é olhar nos olhos de uma mulher radiante. Sensação confirmada pela própria atriz. “Eu solto raios”, diz, dando risadas. “Tem horas em que você tem que fazer escolhas na vida. Ser feliz é uma delas. Então, acordo cedo, tomo meu shot de limão com cúrcuma, faço meditação e vou à praia sempre. Você tem que perder esse tempo com você.”
E seria uma nova paixão outro ingrediente deste combo de bem-estar? “Para, que ele está ouvindo”, desconversa, soltando mais risadas, mirando o andar superior da casa com o olhar. “Talvez esteja namorando. Digo a ele que temos uma amizade colorida”, completa, sem mais detalhes.
