Todo mundo tem um lado bonito. Você tem que buscá-lo.” A frase dita por Antonio Guerreiro em entrevista ao GLOBO, em 2015, funciona como uma síntese de sua jornada. Morto em 2019, aos 72 anos, o fotógrafo deixou um legado robusto e refinado de retratos, nos quais registrou grandes nomes da cena cultural brasileira, sobretudo entre os anos 1970 e 1980. Um recorte que está no livro “Antonio Guerreiro — Portraits” (Barléu), organizado por Carlos Leal, com lançamento nesta quinta-feira, às 18h30, na Livraria Argumento, no Leblon.
São 120 cliques de gente como Caetano Veloso, Gal Costa, Rita Lee, Sonia Braga, Fernanda Montenegro, Vinicius de Moraes, Hélio Oiticica e Gilberto Freyre. Uma seleção que, nas palavras de Carlos, dão ao livro um peso memorialista. “Há pessoas importantíssimas, como a atriz Sandra Brea (1952-2000), que as novas gerações não conhecem”, ilustra. “E o Brasil precisa saber mais sobre os seus personagens.”
Em comum, as fotos guardam a atenção de Guerreiro às sutilezas. Algo evidente em retratos como o de Gisella Amaral (1941-2019), no qual ele ressalta a beleza das mãos da socialite, em primeiro plano, ou de Fernanda Montenegro, que usa o próprio vestido para uma composição geométrica no quadro.
Registros que, em muitos casos, demandavam um trabalho árduo, relembra a viúva do fotógrafo, Theresa Freire. “Ele tinha toda uma técnica. Colocava uma música em volume baixinho e aumentava conforme as pessoas se soltavam. Ele sabia envolvê-las, mesmo que levasse quatro horas para isso. Costumava dizer: ‘Ainda não cheguei aonde queria’.”, diz ela, que cuida do acervo do fotógrafo, com mais de dez mil negativos.
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A atriz Renata Sorrah, que tem um registro da década de 1980 no livro, lembra-se do clima descrito por Theresa. “Ele era muito agradável e tinha uma conversa ótima”, conta. “Na hora de clicar, colocava a gente para cima. Nunca fui muito boa modelo para foto, e ele me ajudou muito.” Uma maneira nobre de entrar para a posteridade. Afinal, como aposta Carlos Leal, o livro leva esses retratos adiante no tempo e no espaço: “Tenho certeza de que, daqui a um século, alguém vai estar estudando a cultura brasileira nesse período e vai cair na publicação para conhecer de perto os seus personagens.”