Sediar uma cúpula de chefes de Estado e governo como a que acontecerá no Rio nos próximos dias, definitivamente, não é uma tarefa fácil. Para além de toda a demanda diplomática e burocrática, que envolve negociações de agenda com dezenas de delegações estrangeiras, é preciso, antes de mais nada, garantir a segurança das autoridades — uma tarefa que leva meses de planejamento e pode custar alguns milhões de reais.
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Operação de guerra
Os planos de segurança para a XVII Cúpula do Brics começaram em novembro passado, logo após o fim da Cúpula do G20, outro grande teste para a capital fluminense. De lá para cá, órgãos como os ministérios da Defesa (MD) e das Relações Exteriores (MRE), além dos comandos de todas as Forças Armadas e de segurança do país, reuniram-se diversas vezes entre si, mas também com representantes das delegações dos países convidados, segundo uma fonte militar.
É a partir dessas reuniões que são traçados os ajustes para o protocolo de segurança do evento.
— A gente transmite [para as delegações] o que pode ser informado em termos de planejamento e segurança e verifica a necessidade de reforço [em alguma área], tanto por questões de segurança mesmo [apontadas pelas delegações], quanto para favorecer a cooperação internacional — afirma o comandante Leonel Mariano da Silva Junior, chefe do Estado-Maior da Divisão Litorânea da Marinha. — É a imagem do Brasil que está envolvida.
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As diretrizes do Ministério da Defesa para as ações das Forças Armadas foram emitidas em 6 de maio. Pouco mais de um mês depois, em 16 de junho, o Plano Estratégico Integrado de Segurança (Peis) para a Cúpula do Brics no Rio foi aprovado pelo Comitê Integrado de Segurança da Presidência do Brics, do qual fazem parte seis ministérios: Relações Exteriores; Casa Civil; Defesa; Justiça e Segurança Pública; Gestão e Inovação em Serviços Públicos; e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Mas foi somente na última terça-feira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que autoriza de fato o emprego das Forças Armadas em uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O mecanismo, acionado cerca de 150 vezes desde a redemocratização do Brasil, tem sido utilizado para emprego da Aeronáutica, do Exército e da Marinha em apoio à segurança pública, especialmente em situações de crise ou calamidade, mas também em eventos internacionais de alto nível ou de grande porte.
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— As Forças Armadas já têm um modus operandi de atuação conjunta para segurança integrada às demais agências envolvidas bastante aprimorado ao longo dos anos, desde o Panamericano de 2007. Estamos em constante prontidão — acrescenta o comandante Leonel.
O forte esquema de segurança montado para a realização da XVII Cúpula dos Brics envolve mais de 15 mil militares da Aeronáutica, da Marinha e do Exército, 15,5 mil policiais militares e 1.400 policiais civis, além de agentes da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que não revelaram seus números.
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Apenas o Comando Operacional Conjunto Redentor, ativado e coordenado pelo MD em ocasiões especiais, terá à sua disposição mais de 400 viaturas, 140 motos e 20 embarcações, além de aeronaves de patrulhamento e defesa área (equipados com mísseis) nos locais dos eventos. O grupo empregará ainda radares, drones, estações de comunicações e blindados com o objetivo de manter a segurança do evento e dos participantes. Equipes de segurança vão acompanhar o deslocamento das comitivas do Aeroporto Internacional do Galeão até os hotéis (concentrados na Zona Sul) e dos hotéis até o Museu de Arte Moderna (MAM), onde as reuniões vão acontecer.
Com uma estrutura semelhante à que foi testada na reunião de líderes do G20, no ano passado, o custo estimado para a operação das Forças Armadas é de R$ 18.141.907, com repasses feitos pelo MRE e pelo Ministério da Fazenda, segundo informações do Ministério da Defesa enviadas ao GLOBO. O valor não inclui os gastos com as polícias estaduais e federais, que disporão de centenas de viaturas (blindadas e não blindadas) e softwares de inteligência e de reconhecimento facial e atiradores de elite, entre outros aparatos.
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O espaço aéreo foi dividido em três áreas de segurança que serão “ativadas” uma hora antes das reuniões e desativadas uma hora depois do encerramento. Aeronaves que invadirem os espaços proibidos, cujo epicentro é o MAM, serão interceptadas, acarretando uma simples checagem do plano de voo até sua destruição, de acordo com a FAB.
Além disso, a Sala Master de Comando e Controle, que será responsável por gerenciar os fluxos aéreos durante a cúpula, “terá autonomia para autorizar, suspender ou cancelar voos conforme as necessidades operacionais, visando garantir a segurança, fluidez e previsibilidade das operações aéreas na região”, informou a Aeronáutica por e-mail.
— Como atuar em coordenação com o que a gente chama de “interagências”, ou seja, como integrar as capacidades de todas essas forças, mas também da prefeitura e da sociedade civil, é sempre o maior desafio — avalia o chefe da Divisão Litorânea. — Por isso buscamos sempre desenvolver isso com os grandes eventos.
35 delegações na cúpula
São esperadas 35 delegações de 28 países e instituições como a ONU e o Banco Mundial. Entre os chefes de governo e Estado convidados, três recusaram o convite, entre eles os presidentes da China e da Rússia. O chinês Xi Jinping alegou conflito de agendas e será representado pelo premier Li Qiang no Rio. Já Moscou disse que o Brasil “não conseguiu assumir uma posição clara que permita a participação do nosso presidente na reunião”.
O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, também não comparecerá à cúpula devido à guerra entre Irã e Israel, com participação dos EUA, que entrou em fase de cessar-fogo. Ele será representado pelo premier Mostafa Madbouly.
Do mesmo modo, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, não deve vir ao Rio. Um anúncio oficial ainda não foi feito, mas nos bastidores o que se diz é que Teerã teme pela segurança de Pezeshkian, que poderia se tornar um alvo israelense durante o voo.
Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o Brics adicionou cinco novos membros em 2024: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã. Em janeiro passado, a Indonésia incorporou-se ao grupo — a Argentina, convidada pela presidência brasileira em 2023, posteriormente declinou o convite. O grupo agora representa 46% da população mundial, 27% do PIB global e 72% das reservas de terras raras do planeta.