Por chegar ao Finals vestindo a lycra amarela, Yago Dora teria pela frente uma “faca de dois gumes”: ao mesmo tempo em que só precisaria vencer uma bateria para realizar o sonho de ser campeão mundial, o brasileiro de 29 anos enfrentaria um adversário mais “quente” na decisão, logo em sua primeira participação na etapa que decide o título mundial desde 2021. Pressão? Nada disso. O paranaense criado em Florianópolis desfilou, ontem, nas esquerdas de Cloudbreak, em Fiji, e garantiu a oitava conquista da Brazilian Storm nos últimos 11 anos, com cinco surfistas diferentes (Gabriel Medina, Filipe Toledo, Italo Ferreira e Adriano de Souza, além dele).
Conhecido pela plasticidade das manobras, Yago distribuiu belas rasgadas de frontside (de frente para a onda) na final contra o backside do americano Griffin Colapinto. Mesmo diante de um embalado rival, que tinha derrotado o brasileiro Italo Ferreira e o sul-africano Jordy Smith, o brasileiro mostrou compromentimento e deixou o adversário precisando tirar uma nota acima de 9 pontos para virar a bateria. O somatório final foi 15,66 contra 12,33.
— Algo especial aconteceu esta semana. Desde que cheguei aqui, senti que as coisas estavam indo a meu favor. Não importava quem eu enfrentasse na final, eu sabia que tudo daria certo e que eu sairia vitorioso. Estou tão feliz que nem consigo encontrar palavras — celebrou Yago, emocionado.
Com duas vitórias na temporada regular (Peniche-POR e Trestles-EUA), ele teve uma virada de chave na carreira desde que tomou, no ano passado, uma decisão difícil que envolveu os lados profissional e pessoal. O atleta resolveu não ser mais treinado pelo seu pai, Leandro Dora, seu fiel escudeiro no surfe e na vida. Ele já vinha fortalecendo uma parceria com o técnico Leandro da Silva em algumas etapas, e isso, nesta temporada, virou oficial.
A esperança de uma final brasileira durou pouco. Depois de perder a liderança do ranking ao oscilar na segunda metade da temporada, Italo Ferreira quase ficou fora do Finals, mas garantiu a última vaga como quinto colocado. Por ser o último da fila, o potiguar poderia surfar até seis baterias para se tornar bicampeão mundial. E o começo foi animador. Esbanjando um cardápio variado de aéreos, ele colocou o australiano Jack Robinson na combinação — quando o surfista precisa de pelo menos duas notas para virar a bateria — com um somatório de 14,33 contra 5,83.
Com a confiança lá em cima, Italo tentou repetir a estratégia diante de Colapinto, mas a paciência prevaleceu. O brasileiro até conseguiu voos altos nas dez ondas surfadas durante a bateria, porém, nenhuma delas entrou no critério excelente — 8 pontos ou mais. Com a derrota no segundo duelo do dia (16,33 contra 13,67), o medalhista olímpico de ouro terminou a temporada em quarto lugar.
— O resultado foi decidido no fim, então realmente ficou bem apertado, porque eu não sabia quais seriam as notas do meu adversário. Na verdade, é sempre um ponto a mais, e aí você fica tentando calcular o que pode ser feito. Mas, se eu tivesse mais tempo, provavelmente iria virar a bateria — desabafou Italo após a eliminação.
Com um calendário sem o Finals e recheado de mudanças no ano que vem, os surfistas da elite terão cerca de sete meses de “férias”. A primeira parada é em Bells Beach, na Austrália, em abril, e a última é na onda tubular de Pipeline, no Havaí, em dezembro de 2026.