As receitas de sete restaurantes cariocas e sete da Região Serrana terão como companhias, da próxima segunda-feira até o dia 28 deste mês, vinhos produzidos no estado. Batizado de Carta do Rio, o projeto quer colocar em destaque os rótulos fluminenses e aproximá-los do consumidor. Os clientes poderão pedir vinhos de cinco produtores: Altos do Rio, Casa Rozental, Família Eloy, Fazenda Joana e Inconfidência.
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As casas que estão no projeto são Aprazível, Clan BBQ, Escama, Esplanada Grill, Quinta da Henriqueta, Royal Grill e Rudä, no Rio. Algumas estão listadas no Guia Michelin. Já na Região Serrana, estão Bendito Armazém, Catarina’s, Divino & Cucina, Empório Gourmet Itaipava, Girassol, Sítio Gastronômico e 2 Vales.
— Participar desse evento é reafirmar o nosso pertencimento. Em meio a vinhos sofisticados e restaurantes icônicos, reforçamos o movimento de valorizar o que é nosso. O “drinque local” é mais do que uma tendência, é um abraço em nossa identidade carioca — destaca Fábio Fraga, sócio da Altos do Rio, que fica em Secretário, bairro de Petrópolis.
Daniela Maia, secretária de Turismo da capital, considera de “extrema importância apresentar o crescimento das vinícolas e da cultura do vinho no Rio”:
— É um movimento que contribui ainda mais para um turismo gastronômico de qualidade. Trata-se de mais um atrativo, que valoriza ainda mais o nosso turismo nesse momento em que a cidade vem se consolidando como destino gastronômico nacional e internacional.
Tiago Moura, subsecretário estadual de Gastronomia, lembra que o Rio já produz vinhos de qualidade. Rótulos daqui têm recebido altas pontuações e medalhas de ouro em concursos nacionais.
— Uma coisa puxa a outra, e hoje já temos vinícolas fluminenses que se prepararam para explorar o enoturismo, proporcionando experiências incríveis para os visitantes das áreas de produção, em ambientes de puro charme. Nada mais interessante, então, do que unir os produtores com os empresários da alta gastronomia — avalia Moura.
Serão oito vinhos servidos pelos estabelecimentos participantes: cinco tintos e três brancos. Profissionais dessas casas, como garçons e sommeliers, receberam informações sobre as safras dos rótulos e os provaram, para sugerir harmonizações. Estarão nas cartas o Altos do Rio Sauvignon Blanc Matinée 2024; o Altos do Rio Syrah Croquis 2024; o Casa Rozental Sauvignon Blanc 2024; o Família Eloy Syrah 2024; o Família Eloy Cabernet Franc Reserva 2023; o Sauvignon Blanc JO 2024 (Fazenda Joana); o Syrah JO 2024 (Fazenda Joana); e o Inconfidência Rubro 2022. Os preços serão os mesmos em todos os restaurantes e vão de R$ 240 a R$ 560.
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Para Joca Ururary, sócio do Rudä, em Ipanema, a iniciativa vai permitir ao público conhecer as vinícolas locais:
— É uma grande oportunidade de termos vinhos que estão sendo feitos aqui do lado. Eu mesmo viajo para o Chile, para a Argentina, para um monte de lugares, e não conheço quase nada dos vinhos daqui. Os produtores precisam fazer movimentos assim para o carioca saber mais sobre esses rótulos. Queremos transformar o Rudä numa casa com uma carta de vinhos com uma pegada muito brasileira, por conta do estilo de comida do chef Danilo Parah. Precisamos valorizar ainda mais o vinho nacional.
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Além do público da cidade, Ururary diz que esses vinhos serão degustados por turistas estrangeiros, grande parte do público do Rudä:
— Como o Rudä está com dois anos de indicação no Guia Michelin, a gente tem uma frequência de turistas muito grande, como argentinos e franceses. Vai ser uma chance de apresentar não o vinho brasileiro, mas o vinho fluminense para esse turista que muitas vezes é conhecedor de vinho também.
Pedro Hermeto, do Aprazível, em Santa Teresa, avalia que a Carta do Rio terá um aspecto pedagógico:
— Existe um caráter informativo, de dar ciência aos clientes do restaurante de que há vinho feito no Rio. As pessoas não sabem disso. Elas depois vão procurar se tem alguma vinícola aberta à visitação. Você começa a fomentar uma indústria.
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Diogo Couto, sócio da Quinta da Henriqueta e do Escama, avalia que os vinhos produzidos no estado são gastronômicos e vão harmonizar com a culinária oferecida nas duas casas:
— São vinhos que pedem comida. Têm tudo a ver com a culinária da Quinta da Henriqueta, que é portuguesa, com mais sabor e persistência. O Escama tem pratos que vão combinar mais com os brancos. Os brancos barricados vão acompanhar um bom marisco, e os mais leves, os crudos. Achamos que poderia dar casamento, e estamos juntos nesta temporada.
O produtor Marcelo Rozental, da Casa Rozental, em Secretário, frisa que o número de vinícolas é crescente no estado:
— Não estamos falando mais de poucas vinícolas. Presenciamos o nascimento de um novo polo vitivinícola, viabilizado pela técnica da dupla poda. Esta oportunidade de fazermos parte da história é algo único.
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Alexandre Lima, sócio da Fazenda Joana, conta que vai levar um rótulo tinto e um branco de sua marca para as mesas dos restaurantes. Ambos têm a assinatura do engenheiro-agrônomo Murillo de Albuquerque Regina e da enóloga Isabela Peregrino.
Murillo Regina é conhecido como o “pai da dupla poda” no Brasil. O especialista difundiu no país a técnica inovadora que inverte o ciclo da videira. São feitas duas podas anuais, o que permite a maturação e a colheita das uvas no inverno. Na estação, são registradas menos chuvas nessas regiões e elevada amplitude térmica, que é a diferença entre a temperatura do dia e a da noite.
— A técnica é usada, nesta latitude, nos locais do estado onde os três principais fatores climáticos estejam presentes: são os dias quentes, as noites frescas e pouca precipitação pluviométrica. Com esses fatores e o cuidado no cultivo das videiras, conseguimos uvas para vinhos diferenciados — detalha Alexandre Lima.
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Veterano da vinicultura do estado, José Carlos Aranha, da vinícola Inconfidência, de Paraíba do Sul, diz que o projeto pode abrir portas para os vinhos do estado nos restaurantes da capital. Na Região Serrana, o consumidor já os encontra com facilidade.
— Espero que resulte no aumento das vendas de todos. Hoje consigo colocar meus vinhos nos restaurantes da Serra, que basicamente trabalham de quinta a domingo. No Rio, abrem de segunda a segunda, vendendo mais. Seria muito bom. Mas sabemos que eles têm suas cartas e não introduzem um vinho novo de hoje para amanhã.
Outro desafio é ter volume de produção. Atualmente, a Inconfidência elabora de 12 mil a 14 mil garrafas por ano.
— As vinícolas são pequenas. Eu trabalho com indicação geográfica. Não compro uvas de terceiros, não trago de fora do Rio. Meus vinhos são certificados. É uma questão de qualidade e de referência.
Indagado sobre a possibilidade de se ter, no futuro, uma tradição de harmonizar os vinhos fluminenses com as receitas produzidas aqui, Pedro Hermeto diz que isso leva tempo:
— Quando a gente fala de vinho e de tradição em vinho, a gente fala em décadas. Se você pegar lá no Sul, tem lá o galeto que se come acompanhado do Merlot. É um prato muito típico que combina com um vinho de uma variedade amplamente cultivada. Para isso ocorrer aqui, será necessário muito tempo. Mas é uma boa reflexão.