O sentimento deixado no Maracanã ao apito final foi o do desperdício de uma noite que começou com potencial para ser uma das maiores do Flamengo na Libertadores, mas acabou com um gosto azedo e que acende o alerta para a viagem a La Plata na próxima quinta-feira. Mesmo com Pedro e Varela marcando duas vezes em menos de dez minutos, com direito a gol mais rápido da história do clube no torneio, o Estudiantes conseguiu igualar o cenário adverso e ainda descontar com Carrillo, em um final de jogo que criou revolta geral com a arbitragem do colombiano Andrés Rojas. A vitória por 2 a 1 é uma vantagem que não se despreza em quartas de final, mas deixa tudo em aberto.
Com este resultado, o rubro-negro pode empatar na Argentina na próxima semana que segue para a semifinal. Mas, se havia temor pela partida poder ter sido temperada de desconfiança pelas últimas eliminações precoces do clube, ou nervosismo por um adversário que planejava um jogo mais defensivo e físico, os diagnósticos se comprovaram no fim, mesmo após o início avassalador.
O primeiro gol saiu com apenas 15 segundos, quando Pedro recebeu de Plata, girou sobre Núñez e bateu de canhota para explodir um estádio no qual muitos ainda nem deviam ter assimilado que a bola estava rolando. O gol foi o 10º mais rápido já feito na Libertadores. Logo depois, Ayrton Lucas apontou pela esquerda e encontrou Varela sozinho na segunda trave. Sozinho, o uruguaio fuzilou a meta do veterano compatriota Muslera com um chute rasteiro.
Recuperado da pubalgia que o assolou a partir da última data Fifa, o lateral venceu a disputa com Emerson Royal e recompensou a escolha feita pelo técnico Filipe de Luís na escalação inicial. Mesmo sem poder contar com Jorginho e Alex Sandro, o treinador teve os retornos de Léo Ortiz, De la Cruz e do próprio Varela.
Gols tão cedo condicionam totalmente a partida, e o Flamengo poderia ter levado uma vantagem bem maior para o segundo jogo. As chances nasciam de todos as formas, pelas laterais, em recuperações de bola no campo de ataque ou com De la Cruz distribuindo a bola.
Só durante o primeiro tempo, Pedro perdeu uma chance de ouro para fazer o terceiro, e Saúl, Samuel Lino e Plata também tiveram finalizações nas quais um pouco mais de capricho teria resultado em gol. O cenário se desenhava com um potencial bem parecido aos das goleadas sobre Corinthians, Juventude, Fortaleza e Vitória no Brasileirão, mas a noite era de Libertadores, e aí o buraco é bem mais embaixo.
Mesmo que Rossi pouco sujasse o uniforme na meta rubro-negra, o Estudiantes tentava suas estocadas. Tímidas, mas que, em sequência, começaram a levar algum perigo e mudaram o panorama da partida no segundo tempo. Arrascaeta passou longe de ser o jogador que vive sua melhor temporada com a camisa do Flamengo, e a criação de jogadas travou. Só as entradas de Samuel Lino pela esquerda não surtiam efeito porque suas finalizações eram fracas e iam direto nas mãos do goleiro.
Na reta final do jogo, aqueles primeiros dez minutos de jogo “envelheceram muito mal”, como diz a expressão. O Estudiantes sabia que o 2 a 0 era lucro diante do cenário inicial e amarrou o jogo, recuperando o roteiro projetado antes da partida.
Vale nota para a atuação de Rojas, que ganhou protagonismo em função das inúmeras reclamações vindas do time brasileiro. Para piorar a vida do Flamengo, ele expulsou Plata aos 36 minutos em uma disputa com Facundo Rodríguez que muitos interpretaram que poderia ter resultado em pênalti para o time da casa. Porém, começou um outro jogo, no qual o Estudiantes ganhou vida.
Justiça feita a isso, o time da casa havia caído de rendimento muito antes. Em jogos de Libertadores, adotar a postura letárgica que se apresentou na segunda metade pode ser fatal, e esta equipe sabe bem disso. Por exemplo, foi desta forma que o modesto Central Córdoba venceu por 2 a 1 no Maracanã na fase de grupos.
O Flamengo não aprendeu a lição. Filipe Luís lançou Allan, Luiz Araújo e Bruno Henrique em campo. Pedro e Arrascaeta saíram. A desorganização desenhada se acentuou com a desvantagem numérica. Aos 45 minutos, Carrillo jogou um banho de água frio em grande parte dos 71.977 presentes — o maior público do “novo Maracanã” em jogo de clube. Após cruzamento pela esquerda, ele aproveitou uma bola rebatida — no braço de um companheiro — e marcou, contando com desvio de Léo Pereira.
— Claro que não queríamos levar gol dentro de casa — comentou Pedro. — Fizemos um grande jogo por 90 minutos. Mas não temos que reclamar, baixar a cabeça. Pelo contrário, foi uma vitória importante. Agora é ir lá para a Argentina buscar a vitória e conseguir essa classificação. Continuar fazendo esse jogo que a gente vem fazendo, com intensidade, buscando gol, buscando jogar bem — completou.
O jogo de volta é na próxima quinta, também à 21h30, no estádio Jorge Luis Hirschi, em La Plata. Antes, às 17h30 do domingo, o líder do Brasileirão volta ao Maracanã para fazer clássico com o Vasco.