O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre nesta terça-feira a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em um discurso que deve destacar que o país respeita as leis internacionais que regem o multilateralismo, segundo preveem interlocutores do governo familiarizados com o tema. O discurso foi redigido com o cuidado de se evitar atritos diretos com o presidente americano, Donald Trump. mas trará mensagens à comunidade internacional e ao público interno.
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Além de soberania e democracia, Lula dará ênfase às mudanças climáticas e à transição energética — quando reforçará o convite à comunidade internacional para a conferência mundial sobre o clima, a COP30, em Belém (PA), em novembro. Ele voltará ainda a temas recorrentes em seus discursos na ONU, como o combate à fome e à pobreza e a reforma dos organismos multilaterais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
1947: A diplomacia de Aranha
No discurso de abertura da II Assembleia Geral, em 1947, o chefe da delegação brasileira, Oswaldo Aranha, disse que a “paz duradoura” só seria atingida “unindo as diversas raças” e “facilitando a convivência das religiões diferentes”. Após a fala, eleito presidente da Assembleia, Aranha articulou o plano da ONU de partilha da Palestina, que levou à criação de Israel.
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1982: Primeiro presidente
Último presidente militar na ditadura, o general João Batista Figueiredo foi o primeiro chefe do Executivo brasileiro a discursar na ONU; até então, os chanceleres e embaixadores abriam as sessões, tradição que surgiu após o discurso de Aranha. Em sua fala, Figueiredo mencionou a crise da dívida externa enfrentada à época pelo Brasil e defendeu ações para viabilizar o livre comércio.
No seu primeiro mandato, Lula levou à Assembleia Geral da ONU um discurso de combate à fome e sinalizou que buscaria ampliar relações com China e Rússia, que depois formariam o bloco dos Brics com o Brasil. Naquele ano, a Assembleia teve ainda um show do cantor Gilberto Gil, à época ministro da Cultura, em homenagem às vítimas de um atentado contra a sede da ONU no Iraque.
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Diante dos reflexos da crise financeira de 2008 e da Primavera Árabe, Dilma Rousseff defendeu o multilateralismo para evitar catástrofes e confirmou o apoio do Brasil ao ingresso da Palestina como membro da ONU. “Pela primeira vez, na história das Nações Unidas, uma voz feminina inaugura o debate geral. É a voz da democracia e da igualdade se ampliando nesta tribuna”, disse.
2019: Discurso de Bolsonaro
Em sua estreia, Jair Bolsonaro optou por um discurso ideológico, com ataques indiretos a países como França e Alemanha, a nações que classificou de ditaduras socialistas, como Cuba e Venezuela, e à própria ONU, à qual acusou de respaldar o “trabalho escravo” do Mais Médicos. Disse ainda que a mídia internacional fazia sensacionalismo ao tratar da floresta brasileira.
2024: Críticas a conflitos
Em seu último discurso, Lula citou o conflito entre Rússia e Ucrânia, e criticou a ofensiva israelense em Gaza. Também pontuou temas prioritários na política externa, como o combate à fome, a reforma da governança global, paz e mudança climática. Sem citar nomes, ainda mencionou o impasse entre o dono da rede X, o bilionário Elon Musk, e o Judiciário brasileiro.