Três anos depois de OpenAI e Nvidia terem ajudado a dar início à febre global da inteligência artificial, as duas empresas se unem para abrir caminho a uma fase de desenvolvimento ainda mais cara, com um acordo que reacendeu rapidamente os temores de uma bolha da IA.
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Na segunda-feira, a Nvidia anunciou que investirá até US$ 100 bilhões (cerca de R$ 530 bilhões) na OpenAI para ajudar a criadora do ChatGPT a sustentar uma expansão maciça de data centers equipados com chips da própria Nvidia — um negócio que, segundo alguns analistas, levanta dúvidas sobre se a empresa estaria investindo pesadamente para sustentar o mercado e manter as companhias gastando em seus produtos. Ou seja, estaria investindo numa ponta para receber encomendas de chips em outra.
“A ação claramente alimentará preocupações circulares” , escreveu Stacy Rasgon, analista da Bernstein Research, em nota a investidores após o anúncio.
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Essas preocupações já acompanhavam a Nvidia em diferentes graus ao longo do boom da IA. A fabricante de chips participou de mais de 50 investimentos de risco em startups de IA em 2024 e caminha para superar esse número neste ano, segundo a PitchBook, plataforma de dados do setor de inovação.
Muitas dessas empresas, que incluem desenvolvedoras de modelos e provedores de nuvem, depois usam o capital para comprar as caras GPUs da Nvidia.
Mas a dimensão do investimento na OpenAI “parece eclipsar todos os outros” afirmou Rasgon. O acordo provavelmente “alimentará essas preocupações de forma muito mais intensa do que vimos antes e (talvez justificadamente) levantará dúvidas sobre a lógica por trás da ação”, escreveu.
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A Nvidia afirmou que o aporte não será usado para “compras diretas” de seus produtos, acrescentou o analista.
Outras gigantes de tecnologia, como Microsoft e Amazon, também fizeram investimentos estratégicos em startups de IA de ponta para estimular negócios em suas plataformas de nuvem. Mas a Nvidia ocupa uma posição única no ecossistema, dominando o mercado de chips avançados essenciais para treinar modelos de IA de última geração. Como resultado, é, em grande medida, a maior beneficiária da febre da inteligência artificial até aqui.
O acordo com a OpenAI também chega em um momento incerto para o setor. Cada vez mais, dentro e fora da indústria, reconhece-se o risco de uma bolha de IA semelhante ao colapso das pontocom há 25 anos.
O CEO da OpenAI, Sam Altman, já indicou que as avaliações financeiras de algumas startups de IA podem não fazer sentido, embora defenda o potencial de longo prazo da tecnologia e a necessidade de investir “trilhões” em infraestrutura para sustentá-la.
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Ao se aproximar da empresa mais valiosa do mundo, a OpenAI pode ganhar acesso a financiamentos e capacidade computacional que não conseguiria sozinha, já que ainda é um negócio deficitário.
— É como ter seus pais coassinando sua primeira hipoteca — disse Jay Goldberg, analista da Seaport Global Securities, que mantém uma rara recomendação de venda para as ações da Nvidia.
Goldberg afirmou também que o acordo tem cheiro de financiamento circular e pode ser emblemático de um comportamento “típico de bolha”.
— Quando os tempos são bons, isso vai deixar tudo ainda melhor. Vamos crescer mais rápido; os números vão subir muito mais rápido. Mas quando o ciclo virar, e ele vai virar, isso torna tudo pior na descida.