Alulu exuberanthys ocorre em clima tropical e floresce quando quer. O verbete é invenção, porque poderia mesmo ser nome de flor, mas é doce a coincidência que une o primeiro disco de Alulu Paranhos com a chegada da primavera. Alulu é o nome artístico de Luiza, cantora e compositora carioca de 25 anos. Com bolo e café, ela recebe os repórteres do GLOBO numa tarde de céu azul em seu apartamento no Humaitá, Zona Sul da cidade. Senta no meio da sala diante de uma larga janela de onde incide bastante luz e vai demonstrando, ao longo de uma hora de entrevista, que tem a desenvoltura dessas estrelas que nascem no Rio. Meio serelepe e elétrica, dona de uma malandragem corporal e verbal, mas também madura, coesa, vai repassando toda sua trajetória até “Põe esperança nisso”, seu álbum de estreia que já está nas plataformas. Amanhã ela lança o trabalho em show no Manouche, o palco intimista da Casa Camolese, no Jockey Club, no Jardim Botânico.
“Põe esperança nisso” traz na imagem da capa Alulu montada numa moto lotada de flores, muitas flores. É o retrato aberto de uma menina expansiva que se descobriu artista na virada da adolescência, quando trocou um sisudo colégio católico por uma escola cabeça-aberta, onde cursou o ensino médio.
— Mudou tudo. Antes eu valorizava outras coisas, tinha que ter a calça X, a blusa Y, não gostava do meu cabelo que eu já estava começando a alisar. Mudar de escola me abriu a cabeça pra muita coisa. Filosofia através do cinema, da dança brasileira, a gente lia muito Galeano, coisas assim. Ali foi quando, na verdade, eu acho que eu comecei a sair da escola.
Filha de um jornalista da Zona Norte e de uma publicitária da Zona Sul, teve uma criação permissiva, embora equilibrada, que colaborou para sua formação artística, ela conta.
— Meus pais sempre foram muito tranquilos em relação a tudo. Minha mãe agora está descobrindo os benefícios do cogumelo, minha avó entrou numa de tomar também (risos). Mas não sou a artista do “meus heróis morreram de overdose”, sou muito comprometida com a cura, com a saúde mental, com o autocuidado. Esse álbum tem muito disso também — diz.
Há toda essa energia de estreia que envolve “Põe esperança nisso”, e ela parece mesmo encarar como um ponto de partida, mas faz algum tempo que Alulu está no corre da vida de artista. Ela lançou seu primeiro single em 2020, durante a pandemia, e um EP no ano seguinte, que ela chama de “albinho”, com faixas como “Bicicletinha” e “Botânica”. Já cursou Dança na UFRJ, não concluiu. Há seis anos, dá expediente semanal em palcos da cidade com o Forró do Pife, grupo que é sua “escola”, como ela diz. Mas é no seu álbum recente que ela tem se encontrado, existencial e filosoficamente, como Alulu conta.
— Tive uma fase em que eu estava mal, passando muito tempo na rede social. Não estava conseguindo escrever, me sentindo perdida, me anulando o tempo todo nas telas. A terapia me ajudou muito. Estava mal porque eu não sabia quem eu era por falta de ser, né? A Marina Sena disse numa entrevista que, se você não está vivendo a vida, não consegue escrever. Concordo totalmente — diz a cantora.
O conceito do disco veio num encontro com o músico alagoano Bruno Berle:
— Ele me mostrou uma música chamada “Ainda é verão” (Alulu fecha os olhos e canta os versos), que é assim: “Se ainda é verão, nosso amor nunca morre, como planta no sertão vai sobreviver e a paz no coração, como tudo que se move, a dor não é constante, nunca haverá de ser.” Bateu muito forte em mim. Ali eu decidi que queria falar de esperança.
De Denise Oliveira Dendê e Phylipe Nunes, “Ainda é verão” entrou no disco de Alulu, que divide a faixa com Berle. Produzido por Mahmundi e Josefe, “Põe esperança nisso” tem oito músicas autorais, canções de Alulu e de parceiros como Pep Starling, Clara Valverde, Iara Rennó e Ava Rocha. E duas releituras: “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque, e “Pra declarar minha saudade”, de Arlindo Cruz, ganharam versões boleradas, seguindo uma estética tropical que amarra todo o álbum.
— Esse aqui é o propósito do meu álbum — sentencia Alulu. — Acho que nunca faria um álbum sobre tristeza, mas também não a ignoro. Faço, sim, um álbum transformando a tristeza. E um álbum de canção, onde as palavras trouxessem mensagens, porque eu estava precisando de mensagem.