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Nesta quinta-feira, Netanyahu anunciou que vai usar seu discurso na ONU para condenar os líderes internacionais que reconheceram o Estado palestino. O líder israelense antecipou o conteúdo de sua fala antes de embarcar para Nova York, horas antes do pronunciamento de Abbas no plenário das Nações Unidas.
“Na Assembleia Geral da ONU, falarei a nossa verdade — a dos cidadãos de Israel, a verdade dos soldados das Forças de Defesa de Israel, a verdade do nosso país. Denunciarei os líderes que, em vez de denunciar os assassinos, estupradores e queimadores de crianças, querem dar a eles um Estado no coração da Terra de Israel. Isso não vai acontecer”, escreveu o premier em uma publicação em rede social, na qual compartilhou um breve pronunciamento em vídeo.
Impedido de viajar a Nova York após ter o visto diplomático negado pelo governo do presidente dos EUA, Donald Trump, o líder palestino condenou publicamente nesta quinta-feira o atentado terrorista lançado pelo Hamas contra Israel, e defendeu que o grupo e outras facções em Gaza entreguem suas armas à ANP como parte do processo de reconhecimento do Estado palestino.
Falando por videoconferência, Abbas também condenou a ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza classificando-a como um genocídio “monitorado e documentado” que ficará marcado nos livros de História, e cobrou ações decisivas para conter o que chamou de “planos expansionistas” do Estado judeu. O líder palestino já compareceu virtualmente à conferência convocada por França, Arábia Saudita e outros aliados europeus — realizada na segunda-feira, véspera da Assembleia Geral — para reconhecer o Estado palestino.
Na ocasião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que o reconhecimento da Palestina como Estado é “um direito e não uma recompensa”, em alusão a uma declaração de Netanyahu, que disse: “aqueles que reconhecem um Estado palestino estão dando um prêmio enorme ao terror”.
— Nada pode justificar a punição coletiva infligida ao povo de Gaza e qualquer forma de limpeza étnica (…) Sem dois Estados, não haverá paz no Oriente Médio, e o radicalismo se espalhará — completou Guterres.
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Cada vez mais vozes criticam a continuidade das ações militares de Israel contra o Hamas, que afetou profundamente a vida dos cidadãos palestinos, matando mais de 65 mil, segundo a contagem oficial do Ministério da Saúde palestino (que não distingue civis e combatentes, e tem a validade posta em dúvida por Israel, apesar de ser classificado como confiável pela ONU). Vários observadores internacionais classificam a situação como genocídio, e países pressionam pelo encerramento do conflito e uma solução política.
A principal fonte de pressão recente vem da Europa. A Espanha anunciou uma proibição de comércio de armas, munições e equipamentos militares com Israel. A Eslovênia chegou a proibir, nesta quinta-feira, a entrada de Netanyahu no país.
Na semana passada, investigadores da ONU acusaram Israel de cometer um “genocídio” em Gaza com o objetivo de “destruir os palestinos” que vivem no território e culparam o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outros funcionários de alto escalão por instigar o crime. Após o anúncio, o Ministério das Relações Exteriores de Israel “rejeitou categoricamente o documento tendencioso e mentiroso”.
Um dia depois, a Comissão Europeia, órgão Executivo da União Europeia, apresentou um projeto para restringir benefícios preferenciais de comércio com Israel e impor sanções contra ministros do gabinete de Benjamin Netanyahu, colonos judeus e representantes do Hamas, na proposta mais ampla para pressionar pelo fim da guerra na Faixa de Gaza.
A iniciativa acontece em um momento em que a ofensiva israelense contra a principal cidade do enclave palestino força o deslocamento de centenas de milhares de pessoas, motivando a preocupações sobre um agravamento ainda maior da catástrofe humanitária na região.
O Exército israelense afirmou nesta quinta-feira que, desde o fim de agosto, cerca de 700 mil palestinos fugiram da Cidade de Gaza em direção ao sul do enclave, em meio à ofensiva de Tel Aviv lançada com o objetivo de “destruir” o grupo terrorista Hamas. Já o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA, na sigla em inglês), por outro lado, apresentou um número mais conservador, afirmando que cerca de 388 mil palestinos teriam fugido.
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A guerra entre Israel e Hamas e as ações militares adjacentes do Estado judeu foram citada em vários discursos ao longo dos primeiros dias de Assembleia Geral da ONU — incluindo no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a classificar a guerra em Gaza como um genocídio, e condenou o atentado terrorista lançado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.
Ao final de um encontro bilateral com Trump na quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron disse ter tratado sobre a situação do Oriente Médio com o presidente americano. Ao ser questionado sobre os planos israelenses de ampliar a ocupação na Cisjordânia, Macron disse que essa era uma “linha vermelha” para o republicano.
— Sobre esse assunto, em termos muito claros, os europeus e os americanos estão na mesma página — disse Macron. — [Qualquer tentativa de anexar a Cisjordânia] seria o fim dos Acordos de Abraão, que foi uma das histórias de sucesso do primeiro governo Trump. Os Emirados Árabes Unidos foram muito claros sobre isso. Acho que é um limite para os EUA.
Fontes americanas ouvidas pelo jornal New York Times afirmaram que Trump garantiu nesta semana a líderes de nações árabes e de maioria muçulmana que não permitiria que Israel anexasse a Cisjordânia.
À medida que as Forças Armadas de Israel se concentram na operação militar contra a Cidade de Gaza, principal centro urbano da faixa litorânea palestina, sob o pretexto de eliminar o último grande foco de resistência do Hamas e resgatar os reféns sequestrados em outubro de 2023, autoridades políticas do país têm revelado planos para ocupar de forma definitiva não apenas o enclave, como também o território mais ao norte, governado pela Autoridade Nacional Palestina.
Na semana passada, o ministro das Finanças israelense de extrema direita, Bezalel Smotrich, afirmou em um evento imobiliário que Gaza era uma potencial “mina de ouro” imobiliária, e que estaria conversando com os EUA sobre a divisão do enclave após a guerra — Trump e seu genro, Jared Kushner, haviam defendido a especulação imobiliária em Gaza no passado. No fim de semana, o governo israelense aprovou o plano de ocupação E1 para a Cisjordânia, que autorizaria a construção de 3.400 casas em um corredor que na prática cortaria o acesso do território palestino a Jerusalém Oriental, ocupada por Israel após a Guerra de Seis Dias, em 1967.
Apesar da pressão, o governo israelense não deu sinais de que pretende mudar de abordagem — e se firma no apoio irrestrito de Washington. Analistas apontam que enquanto houver sinal verde por parte da Casa Branca, dificilmente Israel optará por outro caminho. Macron reconheceu que a pressão dos EUA é fundamental.
— Temos que convencer os americanos a pressionar Israel [já que os EUA são] o país com real influência — disse o presidente francês.
Apesar de ter revelado incômodo com algumas decisões de Israel, como o ataque a alvos do Hamas no Catar, e se dizer a favor de um fim da guerra em Gaza, Trump não tomou nenhuma medida decisiva para pressionar a liderança do Estado judeu a aceitar um acordo. Ao mesmo tempo, endureceu contra líderes palestinos.
Nova York não será a única parada de Netanyahu nos EUA. O premier israelense afirmou que da ONU partirá para Washington, onde pretende se encontrar com Trump.
— Eu vou conversar com ele sobre as grandes oportunidades que nossas vitórias trouxeram, assim como sobre nossa necessidade de completar os objetivos da guerra: trazer de volta todos os nossos reféns, derrotar o Hamas e expandir o círculo de paz que se abriu para nós — disse antes de embarcar.