A décima-terceira troca de ministros no primeiro escalão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi selada após o titular do Turismo, Celso Sabino, anunciar o pedido de demissão na sexta-feira. O movimento decorre de uma debandada do União Brasil da gestão petista. Antes dele, os motivos que provocaram a mudança em outros 12 ministérios da Esplanada foram desde a pressão por conta da postura diante do 8 de Janeiro até acusação de assédio.
- Hugo Motta diz que Lula está ‘caminhando’ para quarta vitória nas urnas: ‘Já em processo de reeleição’
- Anistia ampla x dosimetria: Figueiredo responde a Ciro Nogueira após cobrança de ‘bom senso’ da direita e expõe divergência
A decisão de Sabino ocorre após o ultimato dado pelo União, que na semana passada antecipou o movimento de saída do governo e determinou a entrega de cargos de todos os seus filiados em um dia. Anteriormente, o partido tinha definido que entregaria os cargos até o fim do mês.
Desde o início do terceiro mandato do petista, em janeiro de 2023, a média é de uma mudança de ministro a cada 76 dias, ou dois meses e meio.
Gonçalves Dias (sem partido)
Gonçalves Dias deixou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República em abril de 2023, diante da repercussão decorrente da divulgação de vídeos em que o general aparecia dentro do Palácio do Planalto durante os atos golpistas de 8 de janeiro.
A decisão pela saída do general foi unânime entre os ministros que participaram de uma reunião convocada pelo presidente Lula no Palácio do Planalto. O encontro foi organizado após a divulgação de imagens, pela CNN Brasil, que mostram Dias no Palácio do Planalto, interagindo com manifestantes golpistas, durante a invasão de 8 de janeiro.
À época, integrantes do governo afirmaram que o próprio vazamento das imagens causou irritação em ministros e foi considerado um movimento de bolsonaristas para conseguir destravar a CPMI sobre os atos de 8 de janeiro. O governo, que era contra, mudou de estratégia após o episódio e passou a apoiar a criação do colegiado.
A avaliação de aliados do presidente é a de que a situação de Dias no governo era frágil desde a invasão do Palácio do Planalto, no primeiro mês da gestão petista. Auxiliares do petista viam certa “inação” na conduta do ministro durante os atos golpistas. A divulgação das imagens, que mostram o general no terceiro andar do Palácio, próximo ao gabinete presidencial, foi, portanto, a gota d’água para o seu afastamento.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/U/B/BLaNTiTNmu5yAp7y9RJA/103356085-mariz-pa-brasilia-13-06-2023-daniela-carneiro-comissao-de-turismo-camara-dos-deputados-min.jpg)
A saída de Daniela Carneiro do Ministério do Turismo ocorreu em julho de 2023. A então ministra perdeu o apoio da bancada do União Brasil após pedir desfiliação do partido e foi substituída por Celso Sabino. O governo Lula realizou a troca em busca de mais apoio da sigla no Congresso.
Em choque com o comando nacional do União Brasil, Carneiro e deputados da bancada do Rio decidiram pedir desfiliação do partido em abril de 2023. O desentendimento começou com a movimentação do vice da sigla, Antonio Rueda, para retirar o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho, marido da então ministra, da direção estadual do União.
A gota d’água da briga, porém, foi a negociação de caciques do União com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para preencher cargos no Rioprevidência e no Detran. Os parlamentares reclamaram que nem sequer foram consultados sobre as indicações. Com a movimentação, o presidente do partido, Luciano Bivar, afirmou que rejeitava perder o comando do ministério. Com o acirramento da crise, Daniela perdeu o apoio da bancada e acabou sendo substituída por Lula na pasta do Turismo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/y/7/XAIAuBS4yJApBxOEIBSQ/101674572-mariz-pa-brasilia-05-01-2023-ana-moser-posse-ministra-dos-esportes-entrevista-com-a.jpg)
A ex-jogadora de vôlei deixou o Ministério do Esporte em setembro de 2023 para dar lugar a André Fufuca (PP). A troca representou mais uma ação do governo Lula na tentativa de firmar uma costura política junto ao Centrão por votos no Congresso. Ao todo, Moser ficou no cargo por 248 dias. Ela não é filiada a nenhum partido político, o que pesou para a sua saída da gestão.
Atleta olímpica, a ex-jogadora de vôlei foi escolhida por Lula como um nome técnico para a pasta que, além do esporte de alto rendimento, administra também iniciativas de incentivo à atividade física em todo o país.
Apesar da experiência na área, Moser não sobreviveu à pressão do Centrão que — exatamente pela capilaridade da pasta em todo o país — exigiu a nomeação de Fufuca em seu lugar.
— É lógico que eu sinto, porque acredito no potencial do Esporte. Por isso que estava na frente, por isso que larguei o que eu fazia à frente do Instituto Esporte Educação, para investir nessa política ampliada, mas as escolhas são muito mais complexas que simplesmente o querer. A governabilidade falou mais alto. Tem objetivos maiores aí a serem protegidos — disse ao GLOBO após a demissão.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/b/F/FHrMo7QLC7sjJkXwIJ3A/110952077-politica-sao-paulo-sp-05-05-2025-entrevista-com-o-ministro-do-empreendedorismo-da-mic.jpg)
A pressão do Centrão também provocou a saída de Márcio França (PSB) da pasta de Portos e Aeroportos, sendo substituído por Silvio Costa Filho (Republicanos) em setembro de 2023. Porém, França não deixou o governo e foi realocado no então recém-criado Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Ao discursar na troca de comando da pasta, França minimizou o desgaste de ter que deixar o posto para abrir espaço para o partido Republicanos. Entretanto, o ex-governador de São Paulo deixou um recado ao governo Lula ao tratar sobre a importância de manter a “lealdade” nas relações políticas.
— Como todos sabem, a montagem de equipe é uma responsabilidade não com o presidente Lula, partido político ou algum grupo, mas com todas as pessoas que votaram e depositaram confiança em todos nós. Todos sabem da importância de que, para ter um governo mais eficiente, tem que ter uma grande base parlamentar — disse França.
Como mostrou o GLOBO, uma das avaliações feitas pelas equipes de articulação do Palácio do Planalto era que a entrega do ministério para o Republicanos poderia aplacar a insatisfação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com o governo federal. Tarcísio é um possível adversário de França na disputa pelo governo estadual em 2026.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/2/k/1hfUgqR5GUwA8EBjstPA/112073039-pa-brasilia-df-20-08-2025-sesao-plenaria-do-supremo-tribunal-federal-stf-na-foto-flavio.jpg)
Flávio Dino deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública em janeiro de 2024 para assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), por indicação de Lula, e foi substituído por Ricardo Lewandowski (sem partido).
Silvio Almeida (sem partido)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/L/G/n63euXTzOAC0JoCdBrkA/105218938-pa-brasilia-df-05-12-2023-ministro-dos-direitos-humanos-silvio-almeida-na-audiencia.jpg)
Acusado de assédio por Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, Silvio Almeida foi demitido por Lula e acabou sendo trocado por Macaé Evaristo (PT) na pasta de Direitos Humanos e Cidadania em setembro do ano passado. Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que o presidente “considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações”.
Almeida é investigado em um inquérito que apura se ele cometeu o crime de importunação ou assédio sexual contra algumas mulheres, entre elas Anielle. Na denúncia, a ministra alega que Almeida teria tocado na perna dela e dado beijos inapropriados ao cumprimentá-la, além de usar palavras de cunho sexual e baixo calão. Ele nega todas as acusações, classificando-as como “ilações absurdas”.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/t/g/5jK9iLROiShuCkNXeWkg/109688559-pa-brasilia-df-14-01-2025-presidente-lula-na-cerimonia-de-posse-de-sidonio-palmeira-no-c.jpg)
Paulo Pimenta foi substituído por Sidônio Palmeira (sem partido) na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República em janeiro de 2025 após críticas à condução da área. A troca do comando faz parte de uma estratégia de Lula de dar uma guinada na comunicação do governo na segunda metade do mandato.
A possibilidade de demissão de Pimenta ganhou força no mês anterior, quando Lula tornou pública sua insatisfação com a comunicação do governo. Em discurso em evento do PT, o presidente afirmou que havia erros na estratégia de divulgação de ações da sua gestão e que será necessário fazer “correções”.
Na época, Pimenta disse concordar com a avaliação do presidente e admitiu dificuldades do governo em dar visibilidade a ações dos ministérios. Para ele, porém, não era uma questão que envolvia apenas a gestão petista, mas sim “um desafio para a esquerda no Brasil e no mundo”.
A pasta é responsável pela relação direta com movimentos sociais e, de acordo com o entorno de Lula, tinha potencial para ter mais protagonismo político, o que motivou a troca por Sidônio.
Nísia Trindade (sem partido)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/u/n/oABkFQSsONppdMbAKlGA/107944403-pa-brasilia-df-01-08-2024-entrevista-exclusiva-ministra-da-saude-nisia-trindade-em-seu.jpg)
Um mês após a saída de Pimenta da Esplanada, em fevereiro, a então ministra da Saúde Nísia Trindade não resistiu a diferentes pressões e deu lugar a Alexandre Padilha (PT). Lula demonstrou insatisfação com a falta de resultados da gestão na área.
Nísia foi a primeira mulher a comandar o Ministério da Saúde e presidiu a Fiocruz durante a pandemia de Covid-19. O perfil técnico foi visto como um ativo pelo governo no início do mandato de Lula, após a série de críticas à pasta na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas a demora nas entregas e a dificuldade na articulação política desgastaram Nísia e, na visão do Planalto, inviabilizaram a permanência.
Lula vinha reclamando com aliados da demora da pasta em gerar ações que pudessem ser usadas pelo governo como exemplos de impacto positivo na população. A principal queixa era direcionada ao programa Mais Acesso a Especialistas, que tem como meta ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias na rede pública. Nísia foi cobrada por Lula em mais de uma ocasião diante do avanço a passos lentos da iniciativa. O programa alcançou 99% dos municípios do país atendidos só em fevereiro, dez meses após ter sido lançado.
A passagem de Nísia também foi marcada por crises, como a explosão de casos de dengue, falhas na estratégia de vacinação e falta de medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), como insulina.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/F/g/MAD2AyTKy7MhtoiGiY4A/bre19344.jpg)
Antes de assumir a pasta da Saúde, Padilha ocupava a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, que passou a ser comandada por Gleisi Hoffmann (PT). Ela voltou a assumir um cargo de ministra onze anos após ter comandado a Casa Civil na gestão de Dilma Rousseff.
Juscelino Filho (União Brasil)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/w/h/7jnEaITj2irjMu3IFV2g/105819644-pa-brasilia-df-07-02-2024-entrevita-exclusiva-ministro-das-comunicacoes-juscelino.jpg)
Juscelino Filho entregou o cargo de ministro das Comunicações em abril de 2025 para focar na própria defesa após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de desvio de emendas parlamentares.
“Hoje tomei uma das decisões mais difíceis da minha trajetória pública. Solicitei ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva meu desligamento do cargo de ministro das Comunicações. Não o fiz por falta de compromisso, muito pelo contrário. Saio por acreditar que, neste momento, o mais importante é proteger o projeto de país que ajudamos a construir e em que sigo acreditando”, disse na carta de demissão.
A demissão de Juscelino chegou a ser discutida em junho do ano passado, quando a Polícia Federal (PF) apresentou seu indiciamento. Na ocasião, pressionado pelo União Brasil, partido do ministro, Lula decidiu mantê-lo, mas traçou uma eventual denúncia como linha de corte para que a demissão ocorresse.
O inquérito da PF apontou o envolvimento de Juscelino no desvio de recursos de emendas parlamentares para pavimentação de ruas de Vitorino Freire, no interior do Maranhão. A cidade era comandada por sua irmã, Luanna Rezende, até o ano passado.
A defesa de Juscelino nega irregularidades e afirma que o papel do então deputado foi o de indicar as emendas parlamentares, sem ingerência sobre a contratação e a execução da obra.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/O/X/aCmI2FSmWW5vT9hgx77A/066a9899.jpg)
O então ministro da Previdência Carlos Lupi pediu demissão do cargo de ministro da Previdência em maio, nove dias após uma operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelar um esquema bilionário de desvios em aposentadorias e pensões do INSS.
Apesar das investigações não citarem Lupi, ele estava desgastado pelas revelações. O entendimento de integrantes do Palácio do Planalto foi que prevaleceu uma ideia segundo a qual ele não tomou providências para estancar os descontos. As apurações revelaram também uma demora nas ações do governo sobre o tema, mesmo após diversos alertas.
Como mostrou o GLOBO, a saída de Lupi despertou incômodo na bancada do PDT, que costuma aderir majoritariamente ao governo na Câmara, e também gerou críticas do ex-presidenciável Ciro Gomes, que vem se colocando de forma oposicionista ao PT.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/g/3/Q4cPzpTxWtJf33h4YghQ/bren3057.jpeg)
A ex-ministra das Mulheres Cida Gonçalves foi substituída no cargo pela assistente social e professora Márcia Lopes também em maio deste ano. A decisão ocorreu diante do descontentamento no Planalto quanto à gestão da pasta e processos na Comissão de Ética da Presidência contra a então titular.
A Comissão de Ética da Presidência já arquivou um processo que acusava Cida Gonçalves de negociar a demissão de uma ex-secretária propondo verba para apoiá-la em candidatura e também uma acusação de racismo.
Uma gravação que veio a público também gerou constrangimento no Planalto antes da demissão. Em áudio divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, Cida Gonçalves diz a interlocutores que interrompe suas agendas imediatamente para atender à primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. Os únicos no governo que recebem o mesmo tratamento, segundo ela, são o Lula e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ela afirma ainda que consegue “enrolar” os ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral) e Alexandre Padilha (na época na Secretaria de Relações Institucionais).