BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result
No Result
View All Result
BRcom - Agregador de Notícias
No Result
View All Result

Em áreas remotas e sem internet, o orelhão ainda é o principal meio de comunicação

BRCOM by BRCOM
setembro 28, 2025
in News
0
Na Comunidade Quilombola Ouro Fino (TO), orelhão é o principal meio de comunicação: em áreas remotas, bateria dos aparelhos é carregada com energia solar — Foto: Divulgação / Anatel

Faça chuva ou faça sol, nada impede que moradores das redondezas do distrito de Conceição, em caso de qualquer necessidade, deixem suas casas e caminhem até o único orelhão do povoado, localizado a 30 minutos de carro de Bela Vista de Goiás, cidade que fica a 45km de Goiânia. O aparelho instalado do outro lado da calçada do mercado do empresário Adenilson Rabelo é o meio de comunicação mais confiável por lá, uma área onde não há sinal de celular. O orelhão também é um dos 330 que restam no estado — uma fração dos 13 mil ainda ativos no país, segundo a Anatel.

  • Mineração ilegal: tudo o que se sabe sobre a ação que prendeu membro da cúpula de agência reguladora e ex-diretor da PF
  • Gabriel Spalone: Quem é o influenciador suspeito de desviar R$ 147 milhões com golpe do Pix e que foi preso no Paraná

Enquanto conversava com O GLOBO por um celular comprado há cinco anos — e lidava com a instabilidade da internet e falhas na conexão —, Rabelo precisou atender a uma chamada no telefone público. Na volta, ele contou:

— Ligaram para pedir ao seu João para vir para cá amanhã, ao meio-dia, porque a filha, que mora em São Paulo, quer falar com ele.

O empresário é uma espécie de secretário da comunidade; vai anotando os recados deixados por quem liga. Ele também afirma que, quando precisa falar com as empresas fornecedoras pelo 0800 ou marcar uma consulta médica, recorre ao orelhão, por garantia.

— Como aqui não tem sinal, uso muito. É muito útil para nós — diz o empresário, lembrando que, em 2013, quando comprou uma chácara na região, sequer havia wi-fi. — É difícil, viu? Complicado. Não acredito nisso até hoje, em pleno estado de Goiás.

Rabelo diz que o orelhão atende pessoas que moram em um raio de cerca de 15km do povoado, incluindo trabalhadores de fazendas e de sítios que precisam falar com parentes em outros estados.

Em março do ano passado, a prefeitura solicitou que fosse instalada uma torre de telefonia móvel para atender cerca de mil pessoas, mas o pedido ainda não foi atendido.

Os orelhões começaram a ser retirados das ruas em 2019, quando ainda havia cerca de 810 mil deles. Hoje, entre aparelhos quebrados e funcionais, são aproximadamente 78,5 mil remanescentes. No momento, a telefônica Oi é obrigada a manter a oferta em 10.650 localidades distribuídas em 2.748 municípios, nas quais é a única prestadora. Caso novos prestadores de serviço surjam nesses lugares, não há mais essa obrigação; e o aparelho, se existir, pode ser retirado. Sudeste e Nordeste são as regiões com a maior quantidade de telefones públicos disponíveis. Em seguida, vêm Sul, Norte e Centro-Oeste, segundo os dados da Anatel.

Se nas áreas urbanas os telefones públicos quase não existem, nas mais remotas, mesmo nas que têm internet, há muita demanda por eles. Morador da zona rural de Bodoquena (MS), Juarez Alves Souza, de 70 anos, deseja que um orelhão volte a ser instalado no assentamento Sumatra. Lá, a internet consegue chegar, mas se falta luz, a conexão cai, e não há como avisar à empresa de energia. E nessas regiões mais afastadas, os orelhões funcionam com baterias alimentadas por energia solar.

— Estamos em uma área rural com muitas trovoadas e queda de galhos na rede de energia — diz Souza, que trabalha em uma escola do assentamento e relata que os problemas são mais comuns na época das chuvas.

Em fevereiro deste ano, um vereador solicitou à Anatel a instalação de um telefone público via satélite no local. No pedido, ele afirma que a falta do aparelho prejudica pessoas idosas e famílias sem condições de pagar por planos de internet. O assentamento não tem torre de telefonia móvel, destaca o político. Em nota, a agência disse que a Oi não está mais obrigada a manter o serviço no assentamento, que não consta na lista onde ele ainda é obrigatório.

Na Comunidade Quilombola Ouro Fino (TO), orelhão é o principal meio de comunicação: em áreas remotas, bateria dos aparelhos é carregada com energia solar — Foto: Divulgação / Anatel

No início de setembro, a Anatel concluiu uma operação no Tocantins para verificar o funcionamento dos orelhões a mais de 30 quilômetros das sedes dos municípios. Dos 63 aparelhos ainda ativos no estado, um deles, vistoriado pela Anatel, encontra-se na Escola Municipal Arcanjo Soares, na zona rural de Campos Lindos, perto da divisa com o Maranhão.

— Temos internet e celulares, mas precisamos do orelhão para fazer ligações quando não temos sinal. Para ligar para outra cidade, banco ou 0800 — contou, pelo telefone público, a professora de educação infantil Lucimar Neto, de 47 anos.

Para facilitar o acesso de moradores do Tocantins ao telefone público, a Anatel determinou que as ligações se tornassem sem custos no Tocantins devido às dificuldades enfrentadas pelas concessionárias na distribuição dos cartões indutivos, o que também se repetiu em outros estados, sobretudo nas zonas rurais, diz o superintendente da Anatel, Giuliano Quinan.

— São orelhões que ficam em fazendas, assentamentos, escolas rurais, postos de saúde, onde há algum aglomerado de pessoas — descreve o executivo. — Em todo o Norte, ainda há quem dependa bastante desse equipamento. Nos centros, você já tem o serviço móvel, o celular, mas, onde não tem, o orelhão acaba sendo um ponto de apoio em situações de emergência.

Orelhões ativos pelo Brasil — Foto: Arte / O GLOBO
Orelhões ativos pelo Brasil — Foto: Arte / O GLOBO

Em alguns dos aparelhos vistoriados pela equipe no estado, os próprios usuários se encarregaram de dar a informação, com avisos escritos de forma improvisada: “Telefone liberado. Não precisa usar cartão”.

Foram visitadas pelos funcionários da Anatel 14 cidades no Tocantins. As equipes percorreram dez mil quilômetros em mais de 370 horas de fiscalização, com o apoio de drones. Segundo a agência, a operação “revelou as grandes dificuldades da região”, onde metade dos percursos foi feita em estradas sem pavimentação:

— O fiscal se desdobra para cumprir a fiscalização. Às vezes, a coordenada geográfica ou o endereço não bate exatamente com o local onde o orelhão está realmente instalado. A dificuldade de encontrar o telefone torna o planejamento precário. O fiscal vai a campo sem saber se vai conseguir dormir, se vai almoçar — resume Quinan.

Nas áreas remotas, os orelhões não atendem apenas comunidades rurais. Em março de 2023, a Funai fez uma reclamação à Anatel sobre a ausência de telefones em 66 aldeias do Médio Xingu. Entre os defeitos estavam baterias que não carregavam, teclas defeituosas e dificuldades em realizar e receber chamadas. Procurada, a Funai disse que os problemas já foram resolvidos e acrescentou que, desde então, houve instalação de novos aparelhos. A fundação afirma que, apesar de muitas aldeias já contarem com acesso à internet, os orelhões ainda servem como meio de comunicação alternativo.

Em Abreulândia, no Tocantins, aviso de que orelhão faz ligações gratuitas: “Telefone liberado. Não precisa usar cartão” — Foto: Divulgação / Anatel
Em Abreulândia, no Tocantins, aviso de que orelhão faz ligações gratuitas: “Telefone liberado. Não precisa usar cartão” — Foto: Divulgação / Anatel

Em áreas remotas e sem internet, o orelhão ainda é o principal meio de comunicação

Previous Post

os avanços da ciência para tratar pacientes com leucemia

Next Post

Sem Boulos como puxador, PSOL apostaria em Erika Hilton, ‘voto de opinião’ e esposa do deputado para manter patamar de 2022

Next Post
Deputada Erika Hilton (PSOL-SP) é uma das lideranças de destaque no Congresso Nacional — Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/Divulgação

Sem Boulos como puxador, PSOL apostaria em Erika Hilton, 'voto de opinião' e esposa do deputado para manter patamar de 2022

  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.

No Result
View All Result
  • #55 (sem título)
  • New Links
  • newlinks

© 2025 JNews - Premium WordPress news & magazine theme by Jegtheme.