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‘O Projeto 2025 avançou mais rápido do que eu poderia imaginar’, afirma autor de livro sobre ideário conservador nos EUA

BRCOM by BRCOM
setembro 28, 2025
in News
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Jornalista e escritor David Graham — Foto: Divulgação

“Eu não tenho nada a ver com o Projeto 2025”, bradou, em meados de 2024, o então candidato à Presidência Donald Trump, se referindo a um conjunto de ideias conservadoras, capitaneadas pela The Heritage Foundation, que vão desde restrições ainda mais amplas ao aborto até o fechamento de agências e departamentos federais, como o da Educação. Na ocasião, Trump tentava se desvencilhar dos aspectos negativos do plano, usados pelos democratas para tentar demolir sua candidatura. O discurso não durou muito: antes de tomar posse, pessoas ligadas ao projeto foram indicadas para cargos de confiança, e suas primeiras ordens executivas traziam pontos defendidos por seus idealizadores.

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Em entrevista ao GLOBO, David Graham, autor do livro “O Projeto”, lançado no Brasil pela Editora Zahar — que analisa as ideias e estratégias do plano conservador — disse estar surpreso com a velocidade com que ideias do Projeto 2025 se tornaram ações de governo. Ele aponta para a imobilidade da oposição democrata, a pouco mais de um ano das eleições legislativas, e alerta para a intenção da Casa Branca de ampliar seus braços de pressão política no exterior. A seguir, os principais trechos da conversa.

É impossível ler seu livro e não perceber quantas propostas do Projeto 2025 estão sendo aplicadas na prática pelo governo Trump. O senhor imaginava que tudo aconteceria assim tão rápido

De forma alguma. Nós vemos documentos assim [como o Projeto 2025] de quatro em quatro anos, mas acho que este é pouco usual em termos de organização e abordagem. São ideias que a extrema direita defende há bastante tempo. Eu de fato acreditava que eles tentariam implementá-las agora e, talvez, conseguir aprovar uma ou duas delas. Mas fiquei assombrado com a rapidez com que avançaram em muitas propostas, e também como conseguiram ampliar os poderes do presidente. Em poucas semanas, já estão dando passos cruciais em políticas específicas, como as relacionadas à liberdade de expressão.

Jornalista e escritor David Graham — Foto: Divulgação

O senhor menciona em “O Projeto” que uma estratégia é colocar o maior número possível de aliados em cargos de governo, não só de alto escalão. É um fator para o sucesso do Projeto 2025?

Sim, e isso marca uma grande diferença em relação ao primeiro governo de Donald Trump, quando ele lidava com pessoas que talvez não fossem as mais qualificadas para seus trabalhos, ou que não necessariamente estivessem alinhadas ideologicamente com ele. Agora, há pessoas em sua equipe que estão ao seu lado, dispostas a executar suas ideias, e que conhecem melhor o governo. Há pessoas que esperaram por anos uma chance para entrar no governo e aplicar essas políticas, e agora que estão ali, parecem determinadas a não perder essa oportunidade.

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Então o alinhamento político e ideológico com Trump agora é mais determinante do que um currículo estrelado…

Sim, e também existe uma abordagem meritocrática, que não exige apenas ter as melhores credenciais. Além disso, essa maneira de agir significa que há políticas de governo que avançam mais por alianças pessoais do que pela eficácia e mesmo pertinência delas.

Capa de "O Projeto", de David Graham — Foto: Divulgação
Capa de “O Projeto”, de David Graham — Foto: Divulgação

Existe uma preocupação do Projeto 2025 com aborto e questões de gênero. Trump tem maioria no Congresso e na Suprema Corte e não tem vozes dissonantes na Casa Branca. O senhor acredita que, ao menos até as eleições de meio de mandato, o caminho esteja aberto para novas mudanças de impacto?

Acho que eles estão se movendo mais lentamente do que esperava, se compararmos com outras ações. Há pouca movimentação, por exemplo, em relação ao aborto. Houve anúncios como prêmios a mulheres com muitos filhos ou incentivos a famílias com filhos, mas isso ficou mais no campo das ideias. Por outro lado, há uma pressão grande contra os direitos das pessoas transgênero, que parece ser a prioridade deles agora. Em algumas áreas, podemos estar vendo o início de mudanças mais amplas, por exemplo, há tentativas de acabar com o Departamento de Educação, algo defendido no Projeto 2025. Mas as coisas estão acontecendo de forma bem mais lenta em outros campos.

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Há divergências dentro do Projeto 2025, por exemplo, sobre política fiscal e tarifas externas. A economia não anda em seus melhores dias, e se houver uma deterioração dos indicadores nos próximos meses, você acredita em disputas internas mais intensas?

Muitas pessoas envolvidas no Projeto 2025 estão alinhadas à sua visão em termos sociais e comportamentais, mas têm uma abordagem mais tradicional em termos econômicos. Existe a divergência sobre tarifas, sobre a política de impostos, sobre comércio exterior…e conforme observamos uma piora na economia, essas tensões estarão mais visíveis. Essa visão mais tradicionalista ainda se faz presente no Partido Republicano, apesar da sigla ter se transformado no “Partido de Trump” em vários aspectos, e é ali que as resistências estão mais barulhentas.

Outro ponto que não está pacificado no campo conservador, mencionado no livro, é sobre o papel dos EUA no mundo. O Projeto 2025 defende, por exemplo, o uso da agência de ajuda externa, a Usaid, como ferramenta de presença externa, mas Trump praticamente acabou com o órgão…

Eles estão mais interessados em uma redução da presença americana no mundo, e em usar o poder americano de forma mais precisa e pontual. E o que vemos no atual mandato de Trump é um presidente mais disposto a se envolver com o mundo, seja através de ataques contra barcos venezuelanos no Caribe, ou de ameaças ao Panamá e à Groenlândia. Pessoas envolvidas diretamente no Projeto 2025 têm uma visão muito forte sobre a China: queriam realinhar toda a política externa americana em torno de Pequim, algo que Trump não fez até agora.

Eles estão mais interessados em uma redução da presença americana no mundo, e em usar o poder americano de forma mais precisa e pontual. E o que vemos no atual mandato de Trump é um presidente mais disposto a se envolver com o mundo, seja através de ataques contra barcos venezuelanos no Caribe, ou de ameaças ao Panamá e à Groenlândia. E as pessoas do Projeto 2025 têm uma visão muito forte sobre a China: queriam realinhar toda a política externa americana ao redor de Pequim, e é algo que Trump não fez até agora.

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Há menos de um mês, o ativista conservador Charlie Kirk, que defendia boa parte do ideário do Projeto 2025, foi assassinado em um evento em Utah, e em seu memorial, no domingo passado, ele chegou a ser comparado a Martin Luther King Jr. e Jesus Cristo. O senhor acredita que ele será alçado a uma posição de mártir do movimento Maga, de Trump, e do Projeto 2025 pelos próximos anos?

É o que parece estar acontecendo, mas é difícil prever porque a política americana está muito volátil agora. É difícil saber o que acontecerá daqui a um mês, seis meses ou um ano. Mas fiquei surpreso ao ver a velocidade com a qual ele se tornou uma espécie de santo padroeiro, há gente falando em criar um feriado nacional, erguer uma estátua no Capitólio e homenagens em escolas estaduais. Há um esforço para transformá-lo nesse tipo de figura, e também que possa servir para projetar todo tipo de política pública. Um símbolo para essa agenda.

Algumas pessoas que fizeram comentários considerados indevidos sobre Kirk, como o comediante Jimmy Kimmel, foram perseguidas, em ações criticadas até por conservadores. O argumento da defesa do legado do ativista poderá ser usado também para justificar ações contra adversários de Trump?

É irônico saber que Kirk falava tanto de liberdade de expressão e, após sua morte, vermos Trump e seus aliados atacando essa mesma liberdade de expressão. Mas a repressão se alinha a muito do que diz o Projeto 2025, e também serve como pretexto para que façam o que pretendiam fazer. Por exemplo, usar a Comissão Federal de Comunicações para ameaçar retirar licenças de emissoras. Basicamente, estão dizendo a elas o que podem e o que não podem exibir. Isso está no Projeto 2025. Retirar a pressão sobre as empresas de tecnologia, dizer a companhias com quem elas podem ou não fazer negócios, ou direcionar investidores sobre quais investimentos podem fazer. Eles queriam agir contra a liberdade de expressão desde o início, e essa é a desculpa perfeita para tal.

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Enquanto o Projeto 2025 avança no governo, pouco se fala na oposição democrata, que no ano passado chegou a alertar sobre o plano durante a campanha, mas sem sucesso. Eles ainda não assimilaram a derrota de Kamala Harris?

Chama a atenção como eles foram ineficazes em sua preparação para enfrentar o Projeto 2025, e como seguem ineficazes até agora. Eles o usaram como um poderoso tema de debates, mas não levaram a sério o fato de um governo poder tirar aquelas coisas do papel. Parecem mais interessados em entender a eleição de 2024, e agem de maneira reativa a tudo. Nas eleições de meio de mandato, acredito que terão um bom resultado, assim como as ações de Trump para mudar mapas eleitorais também poderão lhe dar bons números. As pesquisas também são positivas aos democratas, mas a mensagem deles, assim como seus planos para enfrentar Trump, não parecem claros.

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No posfácio à edição brasileira de “O Projeto”, o senhor menciona como aliados ideológicos de Trump estão atentos ao sucesso — ou fracasso — do Projeto 2025 nos EUA. E isso é especialmente relevante no momento em que Trump parece disposto a agir, com ferramentas de governo, como vimos aqui no Brasil, para expandir suas posições fora dos Estados Unidos…

Eu não imaginei que uma batalha particular em torno de [Jair] Bolsonaro aconteceria da forma como está acontecendo, era algo que considerava ser o pior dos cenários, e fiquei surpreso. Vimos no passado algumas alianças informais, mas foi impactante ver como Trump usou o governo federal de uma maneira que não tinha qualquer relação com o comércio. Também vimos integrantes do governo apoiando o candidato à Presidência da Polônia e apoiando partidos pró-Brexit no Reino Unido. E não é mais apenas uma aliança ideológica, mas, sim, um campo em que o governo federal dos EUA age para atingir seus objetivos. Ninguém que vive fora dos EUA precisa ouvir, mais uma vez, que o país já usou seu poder no exterior para fins ideológicos. Mas é interessante ver Trump fazendo isso agora porque, no passado, ele se apresentou como alguém que seguia um mantra isolacionista. E agora está pressionando por uma aliança transnacional de direita.

E não parece mais uma política pessoal de Trump, mas sim uma política de Estado…

Exatamente, e é muito chocante.

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