Belo Horizonte recebeu encontro promovido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), no último dia 19, que reuniu autoridades políticas, lideranças empresariais e representantes do setor produtivo. Apenas para convidados, a iniciativa teve como objetivo principal discutir os rumos da economia nacional e refletir sobre as condições necessárias para criar um ambiente saudável de negócios, capaz de estimular investimentos, proteger empregos e garantir previsibilidade em meio ao cenário político atual.
O ex-presidente da República Michel Temer foi um dos destaques do encontro. Em sua fala, ele enfatizou a importância da pacificação política como condição indispensável para que o Brasil avance. Segundo Temer, não há prosperidade econômica sem segurança institucional e social.
— Quanto maior o número de investimentos nacionais ou estrangeiros no país, melhor. É preciso que haja segurança jurídica e segurança social. É isso que incentiva os investimentos.
Ele acrescentou que, em viagens e palestras no exterior, é comum ouvir investidores mencionarem preocupações em relação à instabilidade do Brasil. Para Temer, essa percepção pode ser superada na medida em que o país demonstre maturidade institucional e estabilidade democrática:
— Acredito que o Brasil caminha rapidamente para a estabilidade social. Esse movimento vai fortalecer toda a área produtiva, do comércio à indústria, criando condições para um ciclo sustentável de crescimento.
Na sequência, o presidente da Confederação Nacional do Comércio (CNC), José Roberto Tadros, reforçou o papel do Sistema Comércio como pilar estratégico na defesa dos empresários e no atendimento à sociedade. Ele destacou que é fundamental resgatar a confiança em um momento de intensas polarizações políticas.
— Queremos abrir uma visão clara do que nossos serviços prestam às classes menos favorecidas.
Tadros ainda ampliou sua reflexão sobre a necessidade da criação de condições econômicas mais favoráveis ao consumo e ao investimento. Ele ressaltou que o país precisa enfrentar os desafios que impedem o crescimento:
— O Brasil precisa de um ambiente de negócios mais favorável, que incentive o consumo e o investimento. Juros persistentemente altos dificultam o crescimento e travam a geração de empregos.
Segundo ele, a tarefa que se coloca para as lideranças é superar divergências e atuar de forma articulada.
— É fundamental que os agentes públicos, empresariais e sociais se unam em torno de objetivos comuns. Só assim poderemos resgatar a confiança da sociedade e garantir que os empresários tenham condições de investir com segurança e previsibilidade — concluiu.
O presidente da Fecomércio MG, Nadim Donato, reforçou que a defesa da atividade produtiva deve estar no centro das decisões políticas e institucionais. Para ele, medidas que aumentem custos ou fragilizem empresas comprometem a sustentabilidade econômica e prejudicam a geração de empregos.
— Estabilidade política e flexibilidade nas relações de trabalho são condições indispensáveis para o fortalecimento da economia. Medidas que fragilizam o setor produtivo não podem ser romantizadas. O verdadeiro compromisso com o futuro do Brasil exige responsabilidade, diálogo e a coragem de rejeitar soluções que, em vez de gerar prosperidade, aprofundam os problemas já existentes.
Donato também ressaltou a necessidade de canais permanentes de diálogo entre governo, Congresso Nacional e sociedade organizada. Ele lembrou que, somente ouvindo efetivamente o setor produtivo, será possível alinhar proteção ao trabalhador e preservação da atividade empresarial.
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, marcou presença e destacou que o estado vive um momento positivo, com crescimento acima da média nacional e uma economia mais diversificada do que no passado.
Além da pauta política e institucional, o encontro trouxe à tona o debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 8/2025, que tramita no Congresso Nacional e prevê a substituição da escala de seis dias de trabalho com um de descanso, ao reduzir a jornada semanal de 44 para 36 horas. A medida tem gerado preocupações entre empresários, que apontam risco de encarecimento das atividades e retração no mercado formal.
Sobre o tema, Nadim Donato defendeu um modelo alternativo que preserve a competitividade sem deixar de considerar as necessidades dos trabalhadores: a contratação por hora trabalhada. Nessa modalidade, entidades sindicais laborais e patronais negociam a questão para não haver perdas para o trabalhador, mas flexibilizando o horário de trabalho, “logicamente com o apoio da tecnologia, num mundo evoluído e conectado, temos condições de ser eficientes na gestão dessas rotinas do dia a dia do trabalhador”, analisa Donato.
Esse modelo possibilitaria conciliar as demandas reais das empresas, que, na sua avaliação, sofreriam aumento de custos com a mudança proposta pela PEC, e ao mesmo tempo atender às expectativas de flexibilidade buscadas pelos profissionais.
Ao encerrar o encontro, a mensagem transmitida pelas lideranças foi unânime: o futuro da economia brasileira depende da capacidade de promover diálogo, reduzir tensões políticas e adotar soluções equilibradas para o mundo do trabalho.
— Somente com estabilidade institucional, segurança jurídica e modernização das relações trabalhistas, será possível construir um ambiente favorável aos negócios e à geração de prosperidade para todos — concluiu.