A jornada de protestos desse domingo no Equador deixou um manifestante morto e 17 militares retidos como resultado de violentos confrontos entre os mobilizados e as autoridades no Norte do país.
Na segunda-feira, a maior organização indígena do país, Conaie, convocou uma greve nacional por tempo indeterminado para protestar contra a alta dos preços dos combustíveis.
- Noboa decreta estado de exceção devido a protestos contra o fim do subsídio ao diesel no Equador
O aumento dos preços da gasolina e do diesel já havia provocado forte mobilização durante os governos dos ex-presidentes Lenín Moreno e Guillermo Lasso, em 2019 e 2022.
A Conaie denunciou que o camponês indígena Efraín Fuerez, de 46 anos, foi “metralhado com três disparos” pelas Forças Armadas e morreu pela manhã no hospital de Cotacachi, na província de Imbabura, a pouco mais de 100km de Quito. A polícia e as Forças Armadas não se pronunciaram sobre a acusação.
Um vídeo compartilhado pela Conaie no X mostra um grupo de militares dando chutes em dois homens caídos, um aparentemente ferido e o outro tentando socorrê-lo.
“Responsabilizamos Daniel Noboa, exigimos uma investigação imediata e justiça para Efraín e sua comunidade”, acrescentou o movimento indígena junto às imagens sobre o “pai de dois filhos e pilar de sua família”.
Horas depois, na mesma cidade, as Forças Armadas do Equador acusaram manifestantes de ferir doze soldados e deter outros 17.
“Eles custodiavam um comboio de alimentos” e “foram violentamente emboscados por grupos terroristas infiltrados em Cotacachi”, disse o organismo militar no X.
Junto à mensagem, compartilharam imagens de militares ensanguentados e o vídeo de um deles sendo agredido entre gritos e empurrões de dezenas de pessoas, algumas com paus.
“Não me batam!”, ouve-se o soldado dizer.
“O que aconteceu em Cotacachi não foi protesto: foi uma emboscada covarde executada por estruturas criminosas – terroristas – que atacaram nossas Forças Armadas”, disse Zaida Rovira, ministra de Governo, no X.
O presidente de direita Daniel Noboa afirma que a quadrilha venezuelana Tren de Aragua está por trás das mobilizações e advertiu que os manifestantes que descumprirem a lei “serão denunciados por terrorismo e vão pegar 30 anos de prisão”.
Com o objetivo de desmobilizar os protestos, que começaram na última terça-feira, Noboa declarou estado de exceção em oito das 24 províncias do país. Em cinco delas também há toque de recolher noturno.
Mas muitos desafiaram a medida e saíram às ruas para bloquear estradas com barricadas e até troncos, além de enfrentar diretamente as autoridades.
A Conaie compartilhou no X vídeos de supostos disparos da polícia contra a população civil e acusou o Executivo de desencadear “uma caçada sangrenta contra o povo”.
“Militares e policiais disparam balas reais, dinamite e armamento letal contra comunidades indígenas”, disse em mensagem na rede social, apelando à ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Também denunciaram cortes no sinal de celular e de internet para silenciar as denúncias dos mobilizados pela greve nacional.
Desde o início dos protestos, foram registrados 48 feridos e 100 detenções, segundo a organização Aliança pelos Direitos Humanos Equador. Também advertiram sobre o “risco de graves violações aos direitos humanos (…) por parte dos militares”, diante do envio de um centenar de soldados à província de Imbabura.
Ali, a Procuradoria equatoriana informou que abrirá uma investigação para esclarecer a morte de Fuerez.
A Conaie liderou violentas manifestações que derrubaram três presidentes entre 1997 e 2005. O último protesto contra o aumento do preço dos combustíveis, contra o ex-mandatário Lasso em 2022, deixou seis mortos e mais de 600 feridos.
Os povos originários representam quase 8% dos 17 milhões de habitantes do Equador, segundo o último censo. Líderes indígenas sustentam que, de acordo com estudos antropológicos, somam 25%.