Assim como nos Estados Unidos, onde “Karen” se tornou uma forma depreciativa de se referir a uma mulher exigente e mimada, a Colômbia também tem um nome estigmatizado: Brayan, frequentemente usado para se referir a homens “delinquentes” e de baixa renda. Neste mês, o presidente Gustavo Petro gerou críticas generalizadas após parecer levar ao pé da letra o estereótipo comum, incluindo todos os homens chamados Brayan — também grafado como Brian —, chamando-os de “homens vampiros” que deixam mulheres “grávidas e abandonadas”.
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Seus comentários, feitos durante uma reunião de gabinete, se espalharam rapidamente nas redes sociais. A reação foi imediata. Um veículo de mídia consultou o registro nacional da Colômbia, que listava 165.538 Brayans.
Algumas pessoas responderam com sátira: Brayan Mantilla, uma figura popular nas redes sociais, convocou pessoas com o mesmo nome em um vídeo pedindo a criação de um Dia Nacional do Brayan e anunciou a fundação da Associação Colombiana de Brayan. O Burger King chegou a oferecer uma promoção especial em sanduíches para qualquer Brayan que apresentasse sua identidade.
— Estamos cansados — disse Mantilla no vídeo: — Durante anos fomos injustamente discriminados, transformados em memes e privados do direito de sermos levados a sério em nossas vidas profissionais e pessoais. Existem Brayans de todos os tipos. Brayans trabalhadores. Brayans sonhadores. Brayans lutando por um futuro melhor. Não somos culpados pelo nome que nossos pais nos deram.
Dois homens chamados Brayan chegaram a entrar com processos contra Petro, alegando violação de seus direitos. Memes retratando Petro como professor, com a legenda “Levante a mão, Brayan, se você engravidou sua namorada e depois a abandonou,” proliferaram.
Além do humor, alguns afirmam que os comentários revelam questões mais profundas de classismo.
Juan Mosquera, escritor e jornalista colombiano, disse que nomes como Brayan geralmente têm origem em influências estrangeiras e eram comuns em comunidades de baixa renda como um sinal de aspiração.
— Ele está falando mal de todos os pobres ao dizer isso — disse Mosquera sobre Petro, acrescentando que o estereótipo retrata jovens de bairros desfavorecidos como irresponsáveis e mulherengos.
Petro não comentou sobre suas declarações, mas Armando Benedetti, ministro do Interior, afirmou que elas foram feitas como uma piada. Ele tentou desviar as críticas em um vídeo, enfatizando que a administração ampliou o acesso ao ensino superior.
— O que importa é abrir oportunidades — não importa se seu nome é Brayan ou não — disse ele, acrescentando: — Educação gratuita é a prova definitiva de que estamos abertos a todos, especialmente às classes trabalhadoras.
Brian Fernández cresceu em um bairro de Medellín controlado por gangues, onde traficantes de drogas eram admirados pelos carros caros e roupas de grife.
Guiado pelos pais a perceber os lados negativos daquele estilo de vida, ele se destacou na escola, conquistou uma bolsa de estudos e se formou como arquiteto na prestigiada Universidade Nacional da Colômbia. Hoje trabalha com projetos hospitalares, paredes impressas em 3D e arquitetura bioclimática.
Ainda assim, disse ele, pessoas em seus círculos profissionais e acadêmicos fazem suposições sobre ele por causa do modo como fala e se veste.
— Muita gente me diz na cara: ‘Uau, você realmente corresponde ao seu nome, Brian’ — disse: — Quando digo que meu nome é Brian, pensam que devo ser uma pessoa ruim e se mostram relutantes em me conhecer ou me dar uma chance.
Ele afirmou apoiar Petro, mas se sentiu incomodado com os comentários do presidente.
— Há pessoas que sabem que é um meme, mas outras acreditam que todos são realmente assim — acrescentou: — Talvez você não conheça nenhum Brayan no seu mundo de pessoas ricas.
A polêmica se soma a um padrão de gafes públicas ligadas ao estilo improvisado de Petro.
Em fevereiro, ele começou a transmitir todas as reuniões de gabinete, o que o analista político Sergio Guzmán descreveu como “oportunidades de apenas desabafar”.
Em uma reunião de julho, Petro repreendeu o então ministro da Igualdade, um homem negro, por sua relutância em contratar dois candidatos com experiência na indústria de filmes adultos, dizendo: “Ninguém que seja negro vai me dizer que um ator pornô deve ser excluído”.
Petro foi eleito em 2022 como o primeiro presidente de esquerda da Colômbia. Ele concorreu com uma plataforma de reforma agrária, sustentabilidade ambiental e paz com grupos armados envolvidos em um conflito de décadas. Embora tenha avançado em redistribuição de terras e políticas ambientais, seus esforços de paz em grande parte estagnaram.
Propostas polêmicas para reformar o sistema de saúde público, acusações de corrupção contra funcionários do governo e uma política externa confrontacional têm corroído a popularidade de Petro.
Na semana passada, na ONU, Petro pediu a prisão do presidente Donald Trump e se dirigiu a manifestantes pró-Palestina em frente à sede da ONU em Nova York, convocando soldados dos EUA a “desobedecer às ordens de Trump.” Horas depois, o Departamento de Estado dos EUA anunciou a revogação do visto de Petro.
