Quando Cassie Ventura, cantora de R&B de 39 anos, decidiu escrever ao juiz federal Arun Subramanian, em Nova York, o fez não apenas em nome próprio. Na carta apresentada ao tribunal nesta terça-feira, ela pediu que a Justiça considere “as muitas vidas que Sean Combs destruiu com seu abuso e controle” ao decidir a pena do magnata da música, de 55 anos, condenado por violações da Lei Mann.
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Ventura, que manteve relacionamento de cerca de uma década com Combs e foi contratada de sua gravadora, foi a principal testemunha do governo no julgamento de tráfico sexual e extorsão concluído este ano. Seu depoimento, prestado em maio, ocorreu quando ela estava grávida de nove meses.
Os promotores federais solicitaram que a pena seja de pelo menos 11 anos e três meses de prisão. Para a defesa de Combs, no entanto, a sentença não deveria ultrapassar 14 meses.
Um júri absolveu o empresário das acusações de conspiração para extorsão e tráfico sexual, mas o condenou em duas acusações ligadas ao transporte de pessoas para prostituição. De acordo com a acusação, Combs traficava sexualmente Cassie e outra ex-namorada identificada como Jane, além de coagí-las a ter relações sexuais com profissionais do sexo sob efeito de drogas. Ele chamava esses episódios de “surtos” ou “noites em hotéis”.
Cartas anexadas ao processo reforçam o peso das acusações. Além do testemunho de Cassie, há declarações dos pais da cantora e de uma ex-assistente pessoal do magnata, identificada como Mia, que afirmou ter sido agredida sexualmente por Combs — acusação negada por ele.
Impactos relatados por Cassie
Na carta, Cassie descreveu que Combs “usou violência, ameaças, substâncias e controle sobre minha carreira para me prender em mais de uma década de abuso”. Ela disse ainda que era levada a participar de confraternizações prolongadas que ocorriam “quase semanalmente” e que os episódios resultavam em “infecções, doenças e dias de exaustão física e emocional”.
“Esses eventos foram degradantes e repugnantes, deixando-me com infecções, doenças e dias de exaustão física e emocional antes que ele exigisse tudo de novo”, escreveu.
A cantora afirmou que chegou a considerar o suicídio, buscou tratamento em clínicas de reabilitação e segue em acompanhamento psicológico devido a pesadelos e flashbacks diários.
“Já estive em reabilitação e participei de dezenas de modalidades terapêuticas para confrontar, compartimentar e lidar com as memórias horríveis de abuso sexual e emocional que sofri por quase dez anos”, relatou.
Cassie contou ainda que mudou sua família de Nova York por temer represálias caso Combs seja libertado.
Contestação à defesa e provas
Os advogados do produtor afirmam que ele é um “homem mudado” e que deseja se tornar mentor de agressores. Cassie rejeita esse argumento:
“Eu sei que quem ele era para mim — o manipulador, o agressor, o abusador, o traficante — é quem ele é como ser humano. Ele não tem interesse em mudar ou se tornar melhor. Ele sempre será o mesmo homem cruel, sedento de poder e manipulador que é”, escreveu.
A artista também lembrou que, após ter ingressado com ação civil acusando Combs de abuso físico e forçá-la a sexo com profissionais do sexo, ele negou as acusações até a divulgação de um vídeo de segurança que mostrava agressões em um hotel de Los Angeles em 2016.
“Foi somente depois que imagens de vídeo corroboraram as palavras exatas da minha queixa civil que ele emitiu um pedido de desculpas insincero na internet”, afirmou.
Combs está detido em um centro de detenção federal no Brooklyn desde setembro de 2024. A definição da sentença caberá ao juiz Arun Subramanian, que terá de equilibrar as recomendações divergentes de acusação e defesa diante de um processo que mobilizou sete cartas de vítimas e familiares, além de um julgamento marcado por depoimentos de quatro dias e provas audiovisuais.
“Embora o júri não parecesse entender ou acreditar que eu tenha me envolvido em atos abusivos por causa da força e da coerção que o réu usou contra mim”, escreveu Cassie, “eu sei que essa é a verdade, e sua sentença deve refletir a realidade das evidências e minha experiência vivida como vítima”.