Uma Academia antes e uma depois de foto de Fernanda Torres ser compartilhada nas redes sociais. É basicamente como Bill Kramer, CEO da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, entende o fenômeno de “Ainda estou aqui” na última temporada de premiações. O dirigente é um dos convidados da 27ª edição do Festival do Rio e visita o Brasil após o país conquistar seu primeiro Oscar de melhor filme internacional, em março, com o filme de Walter Salles.
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— Foi histórico. Ver toda a empolgação em torno de “Ainda estou aqui”, o crescimento de nossas mídias sociais, o aumento da audiência da cerimônia na América Latina, foi tudo muito empolgante. Foi incrível ver vídeos das pessoas parando o carnaval para assistir à premiação nas ruas do Brasil — lembra Kramer em entrevista ao GLOBO em seu quarto de hotel, em Copacabana, na Zona Sul do Rio. — Temos muitos e muitos novos seguidores do Brasil. E posso te dizer quando tudo começou. Em novembro, tivemos a cerimônia do Governors Awards, com a entrega dos Oscars honorários. A Fernanda compareceu. Postamos uma foto dela e tudo explodiu. E nunca mais voltamos a ser como antes. Foi tanto engajamento, tanto amor, tanto apoio, tantos comentários em português. Ficamos muito felizes, porque é o que buscamos como organização.
Ainda sobre a presença brasileira nas redes sociais da Academia, o executivo destaca que o Oscar 2025 superou o Super Bowl e o Grammy em termos de engajamento social.
Acompanhado no Rio de Meredith Shea, diretora de Filiação, Impacto e Indústria da Academia, Kramer realizou na manhã desta sexta-feira (3) uma masterclass sobre o futuro do cinema mundial na programação do RioMarket, área de mercado do Festival do Rio. Na noite de hoje, ele participará de um jantar promovido pela Globo com a presença de artistas e executivos brasileiros, como Dira Paes, Rodrigo Santoro, Regina Casé, Walter Carvalho, Leandra Leal, Alice Carvalho, Renata Brandão e Mariza Leão. Outra convidada do evento, a atriz francesa Juliette Binoche também participará do encontro.
— A Academia é uma organização cada vez mais global. 20% dos nossos 11 mil membros vivem fora dos Estados Unidos. E este número está crescendo. Por causa disso, temos viajado por todo mundo, visitando festivais de cinema, promovendo encontros com nossos membros, conversando sobre a Academia e encorajando nossos realizadores a procurarem saber como fazer parte da organização — diz Kramer. — Temos cerca de 200 membros na América Latina, sendo 60 do Brasil. E queremos que este número aumente.
Como CEO da Academia, Kramer supervisiona todas as áreas de atuação da organização: premiações, filiações, preservação da história do cinema e museu. Com uma coleção de 52 milhões de itens relacionados a cinema — nem todos em exposição —, o Museu da Academia foi inaugurado há cinco anos. No próximo dia 18, o local será palco da 4ª Academy Museum Gala, que premiará Walter Salles com o Luminary Award. Outros homenageados da noite serão a atriz Penélope Cruz, o cantor Bruce Springsteen e o comediante Bowen Yang.
— Walter Salles é um diretor excepcional que vem fazendo grandes filmes há muitos anos. É um amigo da Academia. Sentimos que era o ano perfeito para celebrar seu trabalho, na trilha de “Ainda estou aqui”. Ele receberá um prêmio que celebra sua incrível colaboração para o cinema global — informa Kramer.
Particularmente engajado com a internacionalização da Academia e visão de um mercado de cinema global, o CEO prefere não comentar, até pela falta de clareza, a proposta do presidente americano Donald Trump de taxar em 100% filmes estrangeiros. Ele resume:
— Acredito que a natureza global de como os filmes são feitos, distribuídos e vistos ao redor do mundo continuará.
Para não demonstrar preferência, Kramer não comenta sobre filmes da próxima temporada do Oscar, como o brasileiro “O agente secreto”, mas fala com boas expectativas para a próxima edição da cerimônia, que acontece no dia 15 de março de 2026. Ele destaca o retorno de Conan O’Brien como apresentador e espera que a audiência continue em na curva ascendente dos últimos quatro anos, após a premiações registrar sua pior audiência histórica em 2021, durante a pandemia.