Conforme noticiado pelo GLOBO, igrejas e estabelecimentos comerciais do Andaraí fecharam as portas nesta quinta-feira, amedrontados por ameaças de criminosos. Após a publicação da matéria, o policiamento foi reforçado na região e, com isso, as paróquias de Cosme e Damião, na Rua Leopoldo, e de São José e Nossa Senhora das Dores, na Rua Barão de Mesquita, reabriram: ambas terão missas na noite desta sexta-feira. Uma reunião entre o 6º BPM (Tijuca) e lideranças religiosas foi marcada, para “compreender detalhadamente os fatos, prestar orientações e reforçar o compromisso da Polícia Militar com a proteção da comunidade e a manutenção da normalidade no bairro”, informa a PM.
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Na São José, instalada no mesmo endereço que unidades militares, como o 6º BPM (Tijuca), que fica a 400 metros dali, e o 1º Batalhão de Polícia do Exército, a 1 quilômetro, o dia anterior foi de muito medo. Criminosos ligaram para a igreja e exigiram falar com o pároco: além de ameaçá-lo, cobraram a quantia de R$ 1 mil.
Diante da negativa do religioso, por segurança, a igreja foi fechada. Missas e uma reunião dos narcóticos anônimos foram canceladas. Um aviso de suspensão das atividades chegou a ser colado na porta da paróquia. Neste dia seguinte, o templo foi reaberto e há previsão de missa às 18h, quando o portão principal será aberto aos fiéis. Uma viatura da PM está baseada na esquina das ruas Barão de Mesquita e Sousa Cruz, fazendo a segurança ao lado da igreja.
Essa foi a primeira vez que a paróquia precisou ser fechada após ameaças. Até o momento, não se sabe de onde partiu a ligação. Entre as hipóteses, está ainda a de que um estelionatário possa ter se aproveitado do clima de tensão nas comunidades do entorno para tentar tirar dinheiro da igreja.
— Até agora, está tudo bem — disse uma mulher na porta da paróquia.
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No mesmo bairro, um trajeto de carro até a Paróquia de Cosme e Damião passa por inscrições em muros de casas com referências à facção Terceiro Comando Puro (TCP), grupo armado que atualmente domina os morros da Cruz e Casa Branca.
Após a tomada do Comando Vermelho (CV) no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, esta é a última área do TCP na Grande Tijuca. Os morros do Borel e do Andaraí também são dominadas pelo CV. No último sábado, dia de Cosme e Damião, a igreja dedicada aos santos gêmeos precisou fechar às pressas depois que um homem foi morto praticamente em frente ao templo religioso.
— Eles (bandidos) não respeitam mais coisa nenhuma. Sábado, teve tiroteio na porta da igreja, deixou dois feridos. Os caras descem o morro para duelar na rua. As calçadas cheias de criança e os vagabundos botando o terror? Infelizmente, não é só aqui — desabafa um morador da Rua Leopoldo.
A Paróquia de Cosme e Damião, então, voltou a ser fechada na quinta-feira, após ameaça de bandidos. Nesta sexta-feira, o templo foi reaberto e terá missa às 19h. Um trailer foi instalado pela PM na porta paróquia, para basear uma quantidade maior de policiais, além de viaturas.
Em nota, a corporação informa que foi implementado um policiamento preventivo, em conjunto com a 10ª UPP/6º BPM (Borel), no Andaraí, para “prevenir eventuais confrontos entre grupos rivais, garantindo a preservação da ordem pública, a segurança da comunidade e o pleno funcionamento das atividades religiosas e sociais na região”.
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O GLOBO mostrou que comerciantes do entorno do Morro do Andaraí pagam taxas a bandidos para poderem manter seus comércios abertos, em valores que podem chegar a R$ 6 mil. Imóveis vizinhos da Paróquia de Cosme e Damião, no entanto, dizem, de forma reticente, não serem cobrados.
Já na Barão de Mesquita, comerciantes relataram não haver pagamento em espécie. Mas que criminosos exigem serviços.
— Nunca cobraram nada. Só pedem favores no comércio do entorno, como quentinhas ou cestas básicas — relatou um comerciante, que respondeu ironicamente sobre o destino das doações. — Um negócio “sério”. Seríssimo (risos). Aqui mudou muito: estou aqui há 25 anos e nunca foi tão complicado quanto agora.
— Ninguém passou aqui. A gente fica só atento — disse outro comerciante, vizinho à São José.
