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Nas profundezas do Mediterrâneo, cientistas estudam micróbios que ‘comem’ metano e podem ajudar a frear o aquecimento global

BRCOM by BRCOM
outubro 8, 2025
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Equipe de cientistas — Foto: New York Times

A oitenta quilômetros da costa da Toscana, em uma extensão azul brilhante interrompida apenas por ilhotas rochosas e ameaçadoras — entre elas, a verdadeira Ilha de Montecristo —, criaturas antigas se escondem sob as ondas.

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Elas passam os dias se alimentando de uma fonte improvável de nutrição: o metano, um potente gás de efeito estufa que escapa por rachaduras no fundo do mar.

Nos últimos anos, pesquisadores têm tentado colocar esses microrganismos para trabalhar em uma tarefa urgente. Se seus apetites puderem ser redirecionados para outras fontes do gás — como as centenas de milhões de toneladas emitidas anualmente por jazidas de petróleo e gás, pela pecuária e por pântanos —, eles poderão ajudar a desacelerar as mudanças climáticas.

Mas, antes disso, os cientistas precisam compreender melhor esses micróbios, que estão na Terra há bilhões de anos e ainda permanecem enigmáticos em muitos aspectos

Equipe de cientistas — Foto: New York Times

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  • Vulcões de lama e criaturas invisíveis
  • A vida em lugares inabitáveis
  • Caçadores de micróbios extremos
  • O futuro dos comedores de metano
      • Nas profundezas do Mediterrâneo, cientistas estudam micróbios que ‘comem’ metano e podem ajudar a frear o aquecimento global

Vulcões de lama e criaturas invisíveis

Um dos habitats preferidos desses organismos é o fundo do oceano, onde o metano enterrado nas profundezas se infiltra por fissuras no leito marinho. Em 2017, pescadores relataram ter visto um jato de nove metros de água turva irromper do mar, próximo a Montecristo. Geólogos descobriram ali uma série de vulcões de lama, borbulhando metano no azul intenso do Mediterrâneo.

Até este ano, porém, ninguém havia tentado capturar os microrganismos que consomem o gás. Isso mudou quando o microbiologista americano Braden Tierney e dois colegas navegaram até o Mar Tirreno, na costa oeste da Itália, em uma fria noite de verão.

“É uma sensação estranha flutuar sobre um lugar que explodiu violentamente há menos de dez anos”, disse o Dr. Tierney, enquanto o barco balançava na escuridão que precede o amanhecer.

As cores no fundo do mar sugerem atividade microbiana — Foto: New York Times
As cores no fundo do mar sugerem atividade microbiana — Foto: New York Times

A vida em lugares inabitáveis

A maior parte do metano atmosférico é produzida por micróbios que decompõem matéria vegetal e animal em pântanos, aterros e estômagos de vacas. Mas há microrganismos que fazem o oposto: absorvem o metano. E só nas últimas décadas os cientistas começaram a entender como isso acontece.

O metano é uma molécula peculiar para qualquer forma de vida. É o principal componente do gás natural, portanto, altamente energético. Mas, para utilizá-lo, os micróbios precisam realizar manobras químicas complexas e gastar boa parte de sua própria energia.

Quando começaram a ser identificadas, essas bactérias foram encontradas em todos os lugares: em rios, no solo, em fontes hidrotermais e até na casca de árvores. Em alguns ambientes, elas consomem o metano antes mesmo que ele alcance a atmosfera.

O impacto é imenso. “Globalmente, os metanotróficos do planeta estão consumindo muitas vezes a quantidade de metano que os humanos liberam”, explica James Henriksen, microbiologista ambiental da Universidade Estadual do Colorado.

Sem eles, a Terra provavelmente seria ainda mais quente. E se pudessem trabalhar em maior escala, poderiam ajudar a resfriar o planeta — como versões ecológicas dos microrganismos já usados na produção de medicamentos, no controle de pragas agrícolas e no tratamento de águas residuais.

Mas esses comedores de metano são difíceis de controlar. Alguns morrem com mínima exposição ao oxigênio. Outros dependem de complexas relações simbióticas. “Eles precisam uns dos outros e, quase certamente, de fatores que ainda desconhecemos”, afirma Jeffrey Marlow, professor de biologia da Universidade de Boston.

Bolhas de água indo para a superfície — Foto: New York Times
Bolhas de água indo para a superfície — Foto: New York Times

Caçadores de micróbios extremos

É por isso que Henriksen, Tierney e a cientista genômica Krista Ryon têm viajado aos ambientes mais extremos da Terra. Eles buscam micróbios que sejam diferentes — ou estranhos o suficiente — para ajudar a reparar parte dos danos causados pela era industrial.

O trio já coletou amostras de fontes termais no Colorado e mergulhou em vulcões na Sicília, no Japão e em Papua-Nova Guiné. Para organizar as expedições, fundaram a ONG Projeto Duas Fronteiras (Two Frontiers Project), financiada pela fabricante de probióticos Seed Health e outros doadores.

Até agora, a equipe vinha estudando bactérias que consomem dióxido de carbono, o principal gás responsável pelo aquecimento global. Uma cepa encontrada na Sicília se mostrou tão eficiente que 12 litros dela poderiam, teoricamente, absorver tanto CO₂ quanto uma árvore. Agora, o grupo busca bactérias que se alimentam de metano — um gás ainda mais potente, embora de vida mais curta na atmosfera.

“Há muitos devoradores de metano incríveis ainda esperando para serem descobertos”, diz Mary Lidstrom, professora emérita da Universidade de Washington. “A natureza sempre nos surpreende.”

No barco de mergulho, Tierney, Ryon e o ecologista marinho Gabriele Turco aguardavam o amanhecer com expectativa. Após quatro horas de navegação, lançaram âncora. Um holofote revelou bolhas de gás subindo preguiçosamente — sinal de vazamento de metano.

“Este canto do Mediterrâneo é um território virgem para a biologia”, disse Turco, que também integra o Centro Nacional para o Futuro da Biodiversidade da Itália.

O futuro dos comedores de metano

Com o sol nascendo, os cientistas mergulharam. Sob suas nadadeiras, um disco de areia e sedimentos formava a cúpula perfeita de um vulcão de lama. A equipe coletou amostras de água, sedimentos e biomassa — aglomerados de micróbios semelhantes a muco.

Tierney encontrou um chumaço de biomassa roxa, do tamanho de uma goma de mascar, e o guardou com entusiasmo. Pouco depois, Turco avistou um minivulcão. Tierney inseriu um tubo na areia: três bolhas espessas emergiram, sinal de gás e vida microbiana.

Foram 22 amostras coletadas ali e mais 21 perto da ilha de Elba, onde há os destroços do navio Elviscot, naufragado em 1972. De volta ao alojamento, os cientistas processaram as amostras na cozinha do Airbnb, com frascos dividindo espaço na geladeira com ovos e croissants.

Os micróbios foram então enviados ao laboratório no Colorado, onde cresceram alimentados com metano.

Hoje, as soluções mais simples para reduzir as emissões não envolvem microrganismos, mas ações diretas — como consertar vazamentos em gasodutos e mudar a alimentação do gado. Mesmo assim, cientistas apostam que os micróbios possam contribuir.

Na Universidade de Washington, Lidstrom e colegas testam um dispositivo que filtra metano em tanques de “sopa microbiana”. O desafio é a escala: mover grandes volumes de ar exige energia — e, se ela vier de combustíveis fósseis, o ganho ambiental se perde.

A startup californiana Windfall Bio, por sua vez, usa metanotróficos para transformar o gás em fertilizantes. A empresa já realizou testes em aterros e fazendas. Mas, como lembra o CEO Josh Silverman, “as pessoas não querem pagar pela sustentabilidade — e isso precisa mudar”.

Ele estuda até pulverizar caixas de papelão com micróbios, para que devorem o metano enquanto circulam pelo mundo.

A equipe do Two Frontiers ainda analisa as amostras italianas. Os primeiros resultados indicam uma combinação simbiótica de algas e bactérias que cresce com luz solar e metano — uma descoberta que pode ajudar a capturar o gás em arrozais, grandes emissores.

O grupo planeja novas expedições em vulcões de lama em terra firme e nas fontes hidrotermais ao largo de Angola e da Namíbia.

O sonho de Marlow, ainda na faculdade, era trabalhar em missões a Marte. Ele estudava micróbios extremos para entender a vida fora da Terra. Hoje, diz: “Está claro que eles também são fundamentais para a vida aqui.”

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