O ex-diretor do FBI, a polícia federal dos EUA, James B. Comey se declarou inocente em sua audiência de acusação na manhã desta quarta-feira no tribunal federal em Alexandria, Virgínia. Comey já foi insultado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em algumas ocasiões e é alvo da campanha de retaliação insaturada pelo republicano em seu novo mandato.
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O juiz que supervisionou a audiência de Comey marcou a data do julgamento para 5 de janeiro. Mas o principal advogado dele, Patrick J. Fitzgerald, afirmou que pretende apresentar moções para rejeitar o caso antes disso. Uma delas alega acusação maliciosa e seletiva por parte do governo com base na exigência pública de Trump de que Comey fosse processado.
Fitzgerald, que é ex-promotor federal, também disse que a pressa do Departamento de Justiça em indiciar Comey deixou sua equipe de defesa sem clareza sobre os detalhes das acusações que ele enfrenta. O ex-diretor do FBI foi indiciado em setembro em um processo de duas páginas que quase não ofereceu detalhes sobre as acusações.
As acusações contra Comey incluem uma suposta declaração falsa feita por ele e a obstrução de um processo do Congresso em conexão com seu depoimento perante um comitê do Senado em setembro de 2020. Ele pode pegar até cinco anos de prisão se for condenado, embora muitos promotores atuais e antigos acreditem que o caso será difícil de provar.
A alegação de Comey e o pedido de julgamento por júri foram apresentados em uma breve audiência perante o juiz Michael S. Nachmanoff. O magistrado disse estar “um pouco cético” quanto às insinuações dos promotores de que o caso é complexo o suficiente para exigir tempo extra.
— Este não me parece um caso excessivamente complicado — disse ele.
O caso contra Comey , que ordenou a investigação sobre as conexões da campanha de Trump com a Rússia em 2016, é a ação legal mais significativa movida contra pessoas que Trump criticou e atacou publicamente. A acusação contra o ex-diretor do FBI ocorreu logo após o presidente americano praticamente ordenar ao seu procurador-geral que tomasse medidas legais contra Comey, o senador Adam B. Schiff, democrata da Califórnia, e a procuradora-geral de Nova York, Letitia James.
O processo que investiga Comey avançou apesar da oposição dos promotores do Distrito Leste da Virgínia. A promotora que, em última análise, o conduziu foi Lindsey Halligan, uma advogada da Casa Branca nomeada às pressas por Trump como procuradora dos EUA depois que seu antecessor encontrou evidências insuficientes para sustentar uma acusação.
Moções de acusação vingativas são notoriamente difíceis de vencer, mas a notória ofensiva de Trump e seus repetidos ataques a Comey podem fornecer à defesa do ex-diretor do FBI uma maneira de protegê-lo.
Desde o momento em que Donald Trump iniciou sua campanha para retornar à Casa Branca, ele expressou um claro desejo de buscar vingança contra seus inimigos. Trump reclamou incansavelmente sobre os vários processos movidos contra ele durante o governo do ex-presidente Joe Biden e os usou como justificativa para buscar retaliação, argumentando que o Departamento de Justiça foi “transformado em arma” contra ele sob seu antecessor.
De volta ao poder, Trump agora usa o departamento como arma para seus próprios fins, dizem os críticos, de forma mais direta do que qualquer presidente desde a era Nixon. Seus apelos para que promotores apresentem acusações criminais contra seus adversários corroeram a tradição de décadas de independência do Departamento de Justiça em relação à Casa Branca e ameaçam o Estado de Direito.
O Departamento de Justiça, agora liderado pelos ex-advogados pessoais de Trump, demitiu dezenas de promotores de carreira, muitos dos quais trabalharam em casos envolvendo o presidente americano. O republicano e seus aliados têm como alvo e já afastaram vários procuradores dos EUA, enquanto Trump busca uma rápida tramitação em casos envolvendo vários de seus oponentes.
Cada um dos alvos que o presidente americano tem perseguido por meio do Departamento de Justiça negou qualquer irregularidade, em declarações ou por meio de advogados. Veja alguns deles:
O que o governo alega: Apesar da objeção de promotores de carreira, a promotora Halligan apresentou uma acusação alegando que Comey mentiu perante uma comissão do Senado em setembro de 2020, ao negar ter autorizado alguém do FBI a vazar informações para a mídia. Ele também é acusado de fazer declaração falsa ao Congresso e de obstruir um processo no Congresso para seu depoimento.
Por que Trump está mirando Comey: Comey liderou os estágios iniciais de uma investigação sobre os laços entre a Rússia e a campanha presidencial de Trump em 2016. O republicano demitiu Comey por seu trabalho, que levou a uma investigação tensa de dois anos considerada por Trump como “uma caça às bruxas”.
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Letitia James: procuradora-geral de Nova York
O que o governo alega: Possível fraude hipotecária relacionada a imóveis de James. Esta é uma tática que o governo tem usado contra alguns dos inimigos políticos de Trump, incluindo o senador Adam B. Schiff.
Por que Trump está de olho em James: Como procuradora-geral de Nova York, James abriu uma investigação contra Trump sob alegações de que ele inflou o valor de seus ativos imobiliários. Ela acabou conseguindo uma multa de meio bilhão de dólares (cerca de R$ 2,6 bilhões) contra ele, mas a multa foi posteriormente rejeitada por um tribunal de apelações.
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Adam B. Schiff: senador democrata da Califórnia
O que o governo alega: Possível fraude hipotecária relacionada a uma propriedade em Maryland.
Por que Schiff é alvo de Trump: Quando Schiff estava na Câmara dos deputados, ele ajudou a liderar o primeiro julgamento de impeachment de Trump, em 2019.
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John R. Bolton: ex-conselheiro de Segurança Nacional
O que o governo alega: Durante o governo Biden, uma investigação sobre se Bolton havia manuseado indevidamente material sigiloso ganhou força. A investigação continuou sob o governo Trump, com escopo pouco claro, mas semelhante a casos anteriores envolvendo autoridades acusadas de uso indevido de e-mails ou documentos privados relacionados a segredos de segurança nacional. Durante o verão, agentes federais executaram mandados de busca na casa e no escritório de Bolton.
Por que Trump está de olho em Bolton: Bolton trabalhou como conselheiro de segurança nacional durante o primeiro mandato de Trump. Mas os dois entraram em conflito diversas vezes e, desde que Bolton deixou o cargo, ele tem criticado frequentemente as posições do presidente americano em política externa.
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John O. Brennan: ex-diretor da CIA
O que o governo alega: As alegações contra Brennan são vagas, mas parecem estar relacionadas ao seu envolvimento em ajudar a elaborar uma avaliação da comunidade de inteligência sobre a influência russa nas eleições de 2016.
Por que Trump está mirando Brennan: Brennan é um ex-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA). A resposta da agência à interferência russa nas eleições de 2016 sob seu comando atraiu a ira de Trump.
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Fani Willis: procuradora distrital do condado de Fulton, Geórgia
O que o governo alega: Um grande júri federal intimou registros relacionados a viagens que os promotores acreditam que Willis fez ao exterior na época das eleições de 2024. Mas não está claro o escopo da investigação nem por que os promotores estavam buscando os registros.
Por que Willis é alvo de Trump: Willis é a promotora distrital do Condado de Fulton, Geórgia, que indiciou Trump em um caso abrangente que o acusa, juntamente com outros suspeitos, de tentar anular a eleição presidencial de 2020. Um tribunal de apelações desqualificou Willis de processar o caso, e é improvável que ele avance em breve.
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Fundações da Open Society: rede internacional de filantropia fundada por George Soros
O que o governo alega: Não há alegações específicas contra o bilionário George Soros ou sua organização, mas um memorando emitido para meia dúzia de escritórios de procuradores dos EUA chega a listar possíveis acusações que os promotores podem considerar, que vão de incêndio criminoso a apoio material ao terrorismo.
Por que Trump está mirando a Open Society Foundations: A rede global de filantropia, que financiou muitas causas e organizações liberais, foi fundada por Soros, um doador bilionário democrata que há muito tempo é alvo das queixas de Trump e um bicho-papão da direita. A pressão para que os procuradores dos EUA investiguem o caso ganhou força após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, quando a Casa Branca prometeu reprimir grupos liberais e progressistas.