A Polícia Federal apreendeu uma Ferrari, cinco Porsches, uma motocicleta da marca Ducati, dinheiro em espécie e uma arma de fogo durante a nova fase da Operação Sem Desconto, realizada nesta quinta-feira (9) para investigar um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias e pensões do INSS. A ação cumpriu 66 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em oito estados e no Distrito Federal.
Dentre as associações alvo, está o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), cujo vice-presidente é José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Frei Chico não consta como investigado no inquérito da PF. Em nota, a defesa do sindicato diz que foi pega de “surpresa” com a operação e manifestou “repúdio” com as suspeitas atribuídas à instituição.
“Esclareça-se que os advogados não tiveram acesso ao inquérito policial, ao conteúdo das razões da representação policial ou dos fundamentos da decisão que autorizou a deflagração da medida cautelar, mas reitera seu absoluto repúdio e indignação com quaisquer alegações de que foram praticados delitos em sua administração ou que foram realizados descontos indevidos de seus associados”, diz a associação, acrescentando que “comprovará a lisura e legalidade de sua atuação, sempre em prol de seus associados, garantindo-lhes a dignidade e respeito que são devidos”.
O presidente do Sindnapi, Milton Baptista de Souza Filho, o Milton Cavalo, presta depoimento à CPI do INSS nesta quinta-feira. A associação movimentou R$ cerca de 1,2 bilhão em seis anos, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A sede do Sindnapi fica na capital paulista.
Além do Sidnapi, as sedes das associações Amar Brasil e Masterprev também foram alvos de buscas.
De acordo com a Polícia Federal, a operação de hoje tem o objetivo de “aprofundar as investigações e esclarecer a prática de crimes como inserção de dados falsos em sistemas oficiais, constituição de organização criminosa e atos de ocultação e dilapidação patrimonial”.
Os crimes em apuração são de estelionato qualificado, peculato, corrupção ativa, uso de documento falso, lavagem de capitais e organização criminosa. A ação conta com o apoio da Controladoria-Geral da União (CGU).
A primeira fase da operação foi deflagrada em abril de 2025, quando a PF e a CGU revelaram que sindicatos e associações de aposentados faziam descontos indevidos e sem autorização nos contracheques de beneficiários, o que totalizou R$ 6,3 bilhões. Na ocasião, a cúpula do INSS foi afastada suspeita de envolvimento no esquema.
As entidades envolvidas afirmavam oferecer serviços como planos de saúde, academia e assistência jurídica, mas, segundo a CGU, não possuíam estrutura real para executar o que prometiam. Em muitos casos, os aposentados sequer tinham conhecimento de que haviam sido filiados, descobrindo as cobranças apenas ao consultar seus extratos de benefício.
Em setembro, a PF prendeu os empresários Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e Maurício Camisotti, apontados como principais operadores do esquema. Segundo os investigadores, eles coordenavam empresas que funcionavam como intermediárias financeiras entre as associações e os servidores públicos. Parte dos recursos desviados era repassada a funcionários do INSS responsáveis por autorizar os convênios e validar os descontos. Eles negam todas as irregularidades.
Segundo a PF, os bens foram localizados em endereços ligados a empresários e intermediários financeiros suspeitos de participar do esquema de descontos associativos irregulares aplicados a beneficiários da Previdência Social entre 2019 e 2024. As autoridades suspeitam que os veículos de luxo e o dinheiro apreendido tenham sido adquiridos com recursos desviados do sistema previdenciário.
A Operação Sem Desconto apura a atuação de sindicatos e associações que cobravam mensalidades sem autorização de aposentados e pensionistas, causando prejuízo estimado em mais de R$ 6 bilhões. Parte dos valores era repassada a empresas de fachada e, posteriormente, lavada por meio da compra de carros de luxo, imóveis e outros bens de alto valor.
Nas fases anteriores da operação, a PF prendeu o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como principal operador financeiro do grupo, e o empresário Maurício Camisotti. Ambos são investigados por lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e formação de organização criminosa.
A nova etapa da investigação busca rastrear o destino dos recursos desviados e identificar novos beneficiários do esquema, incluindo pessoas físicas e jurídicas que teriam colaborado para ocultar os valores.

