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‘Netanyahu é um problema, mas há problemas muito mais profundos’, afirma diretor israelense de filme ‘Sim’

BRCOM by BRCOM
outubro 12, 2025
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Soldados israelenses realizam manutenção em seus veículos blindados em uma posição ao longo da cerca da fronteira entre Israel e Gaza — Foto: Jack Guez/AFP

A sequência inicial de “Sim”, um dos destaques do Festival do Rio deste ano, pode levar o espectador a pensar que está diante de alguma releitura caótica dos anos 1990, uma história de amor banhada a álcool, drogas e europop, ou uma obra recém-descoberta de Federico Fellini. Mas verdade, este é um filme de guerra. “Sim”, do israelense Nadav Lapid, não mostra os combates em Gaza ou a catástrofe humanitária. O diretor, que causou furor em Cannes, foca nas hipocrisias, nos abismos e nas nuances da sociedade israelense pós-ataques do Hamas, embora a produção tenha começado bem antes de outubro de 2023. O fio condutor é a elaboração de novo hino, cuja letra choca pela violência e pelos pedidos abertos pelo extermínio do povo em Gaza — o que choca mais ainda é saber que a música, uma versão deturpada de um clássico israelense, “Irmandade”, existe na vida real.

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Em entrevista ao GLOBO, Lapid falou sobre algumas das sutilezas de sua obra, e expressou duras críticas não apenas ao governo do premier Benjamin Netanyahu, mas também à sociedade israelense: para ele, o país vive uma “cegueira profunda” sobre a guerra, cuja cura não é simples.

Há uma grande questão no início do filme : todos podem dizer “sim”, e alguns são obrigados a dizer “sim”, mas o “não” às vezes é reservado a poucos, especialmente aos que têm poder nas mãos. É uma dicotomia que vale para a vida e para a guerra, onde poucos decidem o destino de muitos…

Penso que situações extremas exigem respostas extremas. E penso que a situação em Israel, e não apenas ali, mas em todos os lugares, nos coloca em uma extrema dicotomia. Precisamos escolher entre o “sim” e o “não”. E, ao mesmo tempo, uma das coisas que caracteriza uma crise é quando há apenas opções ruins. No filme, a opção do “não” não existe mais para aquelas pessoas, mas o “sim” os levará diretamente para o inferno, e o temperamento do filme não permite uma escolha por um caminho intermediário. Apenas viver por viver, rumo a lugar algum, desde que não seja permanecer no mesmo lugar.

Soldados israelenses realizam manutenção em seus veículos blindados em uma posição ao longo da cerca da fronteira entre Israel e Gaza — Foto: Jack Guez/AFP

Há outro sentimento prevalente no filme, a vingança, evidente na canção que serve como linha central e que também, fora da tela, permeia o conflito em Gaza…

O filme foi reescrito em cerca de um mês após o início da guerra, e não diria que foi algo profético, mas dizer, naquela época, que o hino nacional deste Estado se tornou uma canção de vingança e sobre a extinção total do outro era algo bem revolucionário naquela época. Dois anos depois, me parece uma prova disso.

O senhor mencionou que a família de Haim Gouri (autor de “Irmandade”) foi contra o uso da versão alterada da música, que fala abertamente sobre exterminar a população de Gaza e diz que “não sobrará nada ali”, mas a decisão foi por exibir mesmo assim. Por que você escolheu mostrar essa versão e um clipe, produzido pelo grupo político, com crianças cantando a música?

Decidi usar porque, como diretor, você busca a verdade daquele momento através do cinema, e quando estava escrevendo o roteiro me questionei sobre a essência do que é um hino nacional, a melodia de uma nação, e sobre o que acontece quando a melodia dessa nação se torna uma melodia de vingança e genocídio. Uma coisa é ler suas palavras, e outra é assistir a um espetáculo audiovisual que mostra exatamente aquelas coisas. Quando vi o clipe produzido por essa organização, pensei que aquilo era insano, era exatamente o espetáculo audiovisual que estava buscando, com crianças falando sobre o presente e o futuro deste lugar. Crianças cantando como elas vão matar crianças de outro lugar. Muitas pessoas de esquerda em Israel acreditam que os problemas do país têm apenas causas políticas, e que começaram há dois, três, quatro anos. Netanyahu é um problema, mas há problemas muito mais profundos.

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Em maio, em Cannes, o senhor disse que Israel sofria de “cegueira” em relação ao sofrimento em Gaza, e em boa parte do filme a guerra é tratada como algo distante, citada às vezes em breves notificações de celular. Algo mudou nestes meses sobre a percepção do público israelense?

Não, e acredito que seriam necessários 100 mil filmes como “Sim” — e espero que ele seja lançado em Israel — para abalar alguns espíritos, porque acredito que essa cegueira seja muito profunda. É uma cegueira que impede a busca por qualquer cura em potencial. É como alguém que enfrenta sintomas severos de alguma doença, que são vistos por outras pessoas, mas que não consegue percebê-los sozinho, e isso faz com que ele não mude sua rotina. E é claro que tudo vai piorar. No caso de Israel, acredito que isso seja um problema coletivo.

Uma crítica de “Sim” no Jerusalem Post (jornal israelense) dizia que o senhor provavelmente terá problemas com o Ministério da Cultura. Houve obstáculos no caminho entre escrever o roteiro e o lançamento por causa da temática?

Muitos técnicos de cinema em Israel se recusaram a participar, atores ficaram com medo ou foram aconselhados por seus agentes a recusar os papéis. E acho que isso caracteriza países que estão caminhando em direção ao fascismo. É louco, mas algumas pessoas não entendem mais o que é liberdade artística, outras têm medo de participar. Mas quando atores têm medo de dizer falas em uma cena porque alguém lhe disse que será o fim de suas carreiras, entendo que é o triunfo do fascismo, quando ele consegue penetrar nas almas e criar uma ansiedade permanente. Não sou uma pessoa que tenha medo do governo israelense ou dos idiotas no Ministério da Cultura. Não ligo para eles. Não tenho medo deles. Tenho mais medo do que eles representam.

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O senhor recebeu algum tipo de crítica vinda de Israel?

Alguns jornalistas assistiram ao filme em Cannes, e as críticas foram ótimas. Mas a questão maior é se ele será capaz de causar abalos. Israel é um caso fascinante. Se pensarmos, por exemplo, no Irã, por um lado acredito que seja melhor viver em Tel Aviv do que em Teerã. Por outro, no Irã fica claro que o maior problema é o regime. Quando Jafar Panahi (cineasta iraniano) faz seus filmes, ele está criticando esse regime. Não está falando que o problema é dele ou do povo iraniano. Em Israel, de uma maneira paradoxal, a questão é mais severa, uma vez que o país ainda é uma democracia de certa forma. O problema não é só Netanyahu, o problema é que há algo adoecido na alma coletiva. Espero que o filme, ao mexer a câmera tão rapidamente, ao tocar música tão alto, consiga penetrar essas camadas de cegueira sem fim.

Existe uma campanha global de boicote a Israel, que vai desde o futebol até as artes, ligada à guerra. O senhor considera que essa generalização de todo um país é perigosa? Houve algum tipo de pressão ligada a “Sim”?

Tudo começa com o que aconteceu ao redor do filme em Cannes. Ele faz com que as pessoas sintam medo, faz com que pessoas poderosas sintam medo. Nós estamos acostumados a pensar que o cinema estava perdendo o poder, mas o fato de que ele fez com que as pessoas poderosas tivessem medo foi um fenômeno interessante. Ele criou um debate na França, recebeu reações duras da comunidade judaica, mas também de pessoas do lado oposto, do BDS (“Boicote, Desinvestimento, Sanções”, um dos principais movimentos globais de pressão sobre Israel). Alguns deles querem me ver como um inimigo, isso me deixa triste porque não quero os ver como inimigos. Contudo, sinto que não conseguem aceitar a ideia de que o filme mais extremo e radical sobre Gaza tenha sido feito por um israelense. Enquanto dizem que o governo de Netanyahu ou que o Exército de Israel está cometendo um genocídio hoje, eu já estava escrevendo, ao final de outubro de 2023, que o hino nacional de Israel se tornava uma música de genocídio. É um argumento muito mais radical, e acredito que algumas dessas pessoas sejam tão dogmáticas, com uma visão tão binária de realidade, que estejam com medo de reconhecer uma exceção como essa, como “Sim”.

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O senhor foi o primeiro a assinar um abaixo-assinado global por um cessar-fogo em Gaza, em 2023, e na quinta-feira Israel e Hamas firmaram a primeira fase de um acordo visando o fim da guerra. Em sua visão, qual a importância desse passo?

Nosso instinto humano hoje é de alívio, porque ao menos hoje e amanhã, e no dia depois de amanhã, menos pessoas, talvez nenhuma, irão morrer, o que já é um grande avanço. Mas o que aconteceu hoje prova uma coisa: a única maneira de mudar algo é através da pressão internacional permanente. Esse é o problema de sociedades adoecidas, elas não conseguem se curar por conta própria. É importante que o mundo não se esqueça depois que as armas silenciarem, e permaneça com a pressão sobre Israel para mudar elementos profundos na maneira como pensamos sobre nós mesmos e sobre nossos vizinhos. Dessa forma, talvez algum dia possamos viver juntos.

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