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como Adilsinho ascendeu de ‘bicheiro b’ até comandar uma das maiores redes de cigarro ilegal do país

BRCOM by BRCOM
outubro 12, 2025
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Adilsinho em foto da juventude — Foto: Reprodução

Era noite de 14 de fevereiro de 2023 quando o sargento Daniel Figueiredo Maia, preocupado com a expansão de uma nova marca de cigarros pela Zona Oeste do Rio, contatou um comparsa: “Quanto ‘tá’ custando o R8? ‘Tá’ vendendo onde?” Àquela altura, segundo investigações, o policial militar conciliava o trabalho como agente da lei no 15º BPM (Duque de Caxias) com a atuação como operador da quadrilha de Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, que controla a fabricação e a venda de cigarros ilegais na Região Metropolitana do estado e, hoje, já expande tentáculos pelo país.

  • ‘A cara do crime’: Como um fantasma, Cigarreira ascendeu sem atrair atenção até ser acusado pela morte de delator do PCC
  • Guerra do bicho: Entenda o elo investigado entre Adilsinho, chefe da máfia do cigarro, e o atentado contra Vinícius Drumond

No mês seguinte, como persistia a queda no faturamento, o sargento determinou que o subordinado fizesse uma pesquisa de campo: ele deveria comprar cigarros em diferentes pontos de venda e enviar fotos dos maços. “Tem uma desconfiança de que tem coisa de fora lá”, justificou. Em junho, Cristiano de Souza, dono de uma tabacaria e principal distribuidor no Rio da marca R8 — justamente a citada pelo policial —, acabaria executado com mais de 30 tiros de fuzil por homens encapuzados.

As conversas entre Maia e o interlocutor, extraídas de seu celular com autorização da Justiça, levaram a Polícia Civil a concluir que o assassinato de Souza fez parte de um plano da máfia do cigarro para tirar concorrentes do mapa e controlar toda a cadeia do negócio — um reinado construído à bala. Na segunda reportagem especial da série “A cara do crime”, que destrincha a trajetória de figuras de vulto na bandidagem brasileira, O GLOBO mostra como Adilsinho, nascido no seio de uma família de bicheiros na Baixada Fluminense, usou o centenário modelo de negócios da contravenção, baseado no monopólio e na corrupção policial, para construir um império clandestino que já se estende por oito estados enquanto invade até mesmo o futebol e o carnaval. Entre execuções, sequestros e atentados, as autoridades detectaram as digitais do bando do contrabandista em pelo menos 26 crimes ao longo das últimas duas décadas.

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  • Carreira no futebol e festa de arromba
  • Expansão e tráfico humano
      • como Adilsinho ascendeu de ‘bicheiro b’ até comandar uma das maiores redes de cigarro ilegal do país

Carreira no futebol e festa de arromba

Adilsinho nasceu em maio de 1970, em Duque de Caxias, na Baixada, justamente na época em que os pontos da cidade passaram a ser dominados pela “Paratodos”, banca do bicho da qual seu pai era sócio. A jogatina logo enriqueceu a família, que se mudou para o Leblon, bairro dos cariocas abastados na Zona Sul da capital, onde o herdeiro passou a infância. Apesar de ter se envolvido desde muito novo nos negócios dos parentes, o primeiro registro policial em seu nome é prosaico: em 1991, aos 21 anos, ele foi detido em flagrante dirigindo sem documentos.

Adilsinho em foto da juventude — Foto: Reprodução

Na década seguinte, contudo, as acusações agravaram-se — no mesmo passo em que a operação familiar expandia-se. Escutas telefônicas revelaram que Adilsinho fraudava as máquinas de caça-níquel para garantir uma margem de lucro satisfatória. Numa das conversas obtidas pela Polícia Federal (PF), de novembro de 2006, ele aparece combinando maneiras de estimular a “compulsividade” dos apostadores.

Os diálogos captados na investigação também mostraram que, desde a virada do século, Adilsinho extrapolou os limites de Caxias para operar bingos e máquinas em Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Amazonas. “A gente tem que botar o bloco na rua pra poder crescer. Estou pensando em mandar para Manaus, tem 30 pedidas lá”, explica o próprio bicheiro numa ligação. Ao fim do processo, Adilsinho chegou a ser condenado a 3 anos e meio de prisão, mas a pena prescreveu.

A sentença jamais cumprida não constrangeu o contraventor, que seguiu desbravando divisas. Em fevereiro de 2021, o goiano Bruno Vinícius Nazon Moraes Borges, dono de uma bet que tentava se estabelecer no Maranhão, foi executado a tiros no litoral de São Luís. O inquérito apontou que os autores do crime eram dois homens da escolta pessoal de Adilsinho, que viajaram mais de 3 mil quilômetros, de avião e carro, com o intuito de cumprir a missão. Para a polícia, os pistoleiros atuavam em nome da “Paratodos Rio”, uma espécie de filial da banca de Caxias que conquistou o monopólio da jogatina na capital maranhense e passou a faturar cerca de R$ 1 milhão por mês.

Homicídio ligado a guerra no jogo do bicho na Tijuca, na Zona Norte do Rio
Homicídio ligado a guerra no jogo do bicho na Tijuca, na Zona Norte do Rio

Embora já mantivesse há duas décadas uma rede interestadual de negócios ilegais, Adilsinho era visto pelas autoridades como um bicheiro de “segundo escalão” — que, por isso, passava ao largo de investigações. Ao contrário dos capos da velha cúpula do jogo e seus herdeiros, assíduos frequentadores das páginas policiais, ele costumava aparecer em outra editoria: a de esportes.

Em 2010, Adilsinho fundou o Clube Atlético Barra da Tijuca, que até hoje disputa as divisões inferiores do Campeonato Carioca e tem uniforme com as mesmas cores do Fluminense, seu time do coração. O escudo do Tricolor, aliás, é sua marca no submundo da contravenção e está estampado até nos lacres de suas máquinas de caça-níquel.

Adilsinho marcou 10 gols durante carreira nos campos
Adilsinho marcou 10 gols durante carreira nos campos

Além de comandar a agremiação, Adilsinho atuou como atacante e batedor oficial de pênaltis da equipe. Entre 2011 e 2018, disputou 63 partidas, marcou 10 gols e chegou a ser destacado como o jogador mais velho em atividade no país. Atualmente, segue como presidente do clube, e vários funcionários são acusados de integrarem sua organização criminosa.

Mas não foi o brilho nos campos que pôs Adilsinho em definitivo sob os holofotes. Em maio de 2021, uma festa nababesca com o tema “máfia” no Copacabana Palace, o mais icônico hotel carioca, reuniu 500 convidados, que curtiram shows de Gusttavo Lima, Ludmilla e Dudu Nobre. O videoconvite para a celebração dos 51 anos trazia a trilha sonora do filme “O poderoso chefão”.

Como a festança aconteceu no auge da pandemia da Covid-19, registros da fila na porta do hotel viralizaram nas redes sociais. Um mês depois, Adilsinho virou o foco da Operação Fumus, da PF — que, pela primeira vez, o acusou de chefiar uma quadrilha que monopolizava a venda e a fabricação de cigarros ilegais. Ao longo dos quatro anos seguintes, ele foi alvo de quase uma dezena de operações, sem que a polícia jamais conseguisse localizá-lo.

Adilsinho fez festão no Copacabana Palaca — Foto: Reprodução
Adilsinho fez festão no Copacabana Palaca — Foto: Reprodução

Expansão e tráfico humano

A PF aponta que, a partir de 2018, Adilsinho passou a reinvestir o dinheiro do jogo ilegal na produção e comercialização de cigarros clandestinos, vendidos abaixo do preço mínimo de R$ 6,50 por maço, fixado por decreto. Para garantir os lucros, replicou no novo negócio a mesma lógica da contravenção: monopólio territorial, corrupção de agentes públicos e fraude fiscal. Assim, comerciantes são coagidos a vender apenas os produtos do grupo, concorrentes acabam eliminados a tiros — caso do vendedor Cristiano de Souza —, e a impunidade é assegurada pela infiltração no aparelho estatal. Ao todo, 34 PMs já foram identificados como integrantes da escolta de Adilsinho.

De início, a operação de Adilsinho mantinha fachada de legalidade, já que empresas regularmente abertas eram usadas para emitir notas fiscais e conferir aparência legítima às atividades. Com o mapeamento dessas firmas, porém, a PF descobriu que a quadrilha mergulhou de vez na ilicitude: desde 2022, 70 paraguaios foram resgatados de condições análogas à escravidão em fábricas clandestinas instaladas em três cidades do Rio.

Aliciados em seu país de origem, os estrangeiros são trazidos ilegalmente ao Brasil sob a promessa de receber R$ 5 mil. Em depoimento, relatam jornadas de 12 horas diárias, sem folgas, sob a vigilância de um segurança armado. Os agentes federais também identificaram ramificações da operação em Minas Gerais, para onde os cigarros falsificados eram enviados para venda, e no Espírito Santo, onde a organização criminosa mantinha mais uma fábrica clandestina.

Máquinas de caca-níquel levam escudo do Fluminense, clube pelo qual Adilsinho torce — Foto: Reprodução
Máquinas de caca-níquel levam escudo do Fluminense, clube pelo qual Adilsinho torce — Foto: Reprodução

Mesmo espraiando-se pelo mercado ilegal de cigarro, impulsionado pelo esquema de tráfico humano, Adilsinho não se afastou jamais do jogo do bicho. No início de 2022, a PF descobriu um plano que chacoalharia o mapa da contravenção carioca. Em conversa interceptada, ele revelou a um parente que articulava com outros herdeiros — como Rogério Andrade, sobrinho de Castor de Andrade, e Vinicius Drumond, filho de Luizinho Drumond — a criação de uma “nova cúpula”. O objetivo era superar a ordem estabelecida pelos velhos capos, que dividiram o Rio na década de 1970 para apaziguar conflitos.

“Já deu, já passou! É outra geração agora! Tem que entender! Não tem santo… É tudo malandro, tudo bandido mesmo! Tratam a gente bem na vaselina, mas querem ser centralizadores! A velha cúpula já foi há muito tempo”, disparou Adilsinho na ligação.

O primeiro movimento foi em direção à área mais rentável da capital: um corredor de 32 bairros que vai da Zona Sul ao Engenho Novo e compõe o espólio criminoso de Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, até então controlado por seu ex-genro Bernardo Bello, desafeto de Adilsinho. Com o aval de Shanna Garcia, filha de Maninho, que acusava Bello de usurpar a área e reter os lucros sem repassá-los à família, a “nova cúpula” invadiu a região e dizimou as fileiras do rival.

Execução de Marquinho Catiri: assassinato cinematográfico — Foto: Reprodução
Execução de Marquinho Catiri: assassinato cinematográfico — Foto: Reprodução

O episódio mais marcante dessa guerra foi o assassinato cinematográfico do braço direito de Bello, o miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri. Ele foi alvejado ao deixar a academia, atacado por dez homens posicionados no segundo andar do prédio em frente, que havia sido alugado por um ano exclusivamente para monitorar a rotina da vítima.

Após tomar o controle das máquinas caça-níquel da região, Adilsinho também se apossou da escola de samba associada ao clã Garcia: o Salgueiro. Desde 2024, ele é o homem-forte da agremiação e, no desfile deste ano, além de ter o nome mencionado no microfone, componentes desfilaram com uma camisa com a inscrição “Amigos do patrono”.

Adilsinho na quadra do Salgueiro — Foto: Reprodução
Adilsinho na quadra do Salgueiro — Foto: Reprodução

A “nova cúpula”, entretanto, também rachou em meio a uma briga entre Adilsinho e Vinicius Drumond após a prisão de Rogério Andrade. A investigação de um atentado contra Drumond, em julho passado, conectou os executores ao patrono do Salgueiro.

Desde o fim de 2024, Adilsinho é considerado oficialmente foragido. Há dois mandados de prisão em seu nome: um pelo homicídio de Marquinho Catiri; outro, decorrente da Operação Libertatis, que mirou o esquema de tráfico de paraguaios para as fábricas de cigarro. Em ambos os processos, a defesa nega as acusações. Procurado, o advogado de Adilsinho não retornou.

A SÉRIE ‘A CARA DO CRIME’ DESVELA, PERIODICAMENTE, A TRAJETÓRIA DE BANDIDOS DE VULTO NO CENÁRIO NACIONAL

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