Tomiichi Murayama, que como primeiro-ministro do Japão, em 1995, fez o mais direto e duradouro pedido de desculpas do país pelas atrocidades cometidas por tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial, morreu nesta sexta-feira, aos 101 anos.
Ele faleceu em um hospital em Oita, na província de Kyushu, informou o Partido Social-Democrata, em comunicado divulgado nesta sexta-feira.
Murayama fez seu histórico pedido de desculpas, em rede nacional de televisão, na manhã de 15 de agosto de 1995 — exatos 50 anos após o Japão anunciar que se renderia aos Estados Unidos. O pronunciamento foi breve e cuidadosamente redigido, durando menos de cinco minutos.
“Encaro, com espírito de humildade, esses fatos irrefutáveis da história”, disse ele, “e expresso aqui, mais uma vez, meus sentimentos de profundo remorso e apresento minhas mais sinceras desculpas”.
“Nossa tarefa”, continuou Murayama, “é transmitir às gerações mais jovens os horrores da guerra, para que jamais repitamos os erros da nossa história”.
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O pedido de desculpas foi o marco definidor dos 18 meses de Murayama no cargo. Ele foi mais longe do que qualquer outro líder japonês antes dele, ao expressar arrependimento pelos assassinatos, torturas e estupros de milhões de civis e outras atrocidades. Mas foi severamente limitado por conservadores de sua coalizão governista, e a declaração não foi suficientemente forte para aliviar o ressentimento na China e na Coreia do Sul. Também irritou os nacionalistas.
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Os crimes de guerra do Japão em toda a Ásia muitas vezes ofuscaram o sofrimento e a destruição enfrentados pela própria população civil japonesa durante a guerra. Centenas de milhares de civis japoneses foram mortos nos bombardeios incendiários de suas cidades e nos primeiros — e ainda únicos — ataques com bombas atômicas. Dois milhões de soldados japoneses voltaram para casa em caixões, ou jamais voltaram.
Na época do governo Murayama, o Japão já havia substituído as cidades destruídas por metrópoles reluzentes e se tornado uma potência econômica global. O orgulho nacional crescera, e havia pouco entusiasmo entre seus líderes para olhar para trás — menos ainda para fazê-lo publicamente com arrependimento.
Mas Murayama deixou um marco. Por anos, primeiros-ministros repetiram as expressões cunhadas por ele — “profundo remorso” e “sinceras desculpas” — em seus discursos que lembravam o fim da guerra.
A ascensão de Murayama ao cargo de primeiro-ministro, em 30 de junho de 1994, surpreendeu muitos. Tinha 70 anos. Servira discretamente na Câmara dos Representantes por mais de 20 anos e não era conhecido nacionalmente. Nunca havia ocupado um cargo ministerial nem lidado com assuntos internacionais. Era alto, magro, tranquilo e de semblante paternal, com sobrancelhas desgrenhadas e indomáveis.