O governo da Colômbia pediu na noite de quarta-feira à Casa Branca que “cesse” os ataques a embarcações no Pacífico e no Caribe, horas depois de Washington confirmar ter afundado um novo barco supostamente ligado a cartéis de tráfico de drogas na região — o segundo em uma janela de 48 horas. O apelo de Bogotá ocorre em meio à troca de farpas entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder colombiano, Gustavo Petro, pela escalada de tensões provocada pelas ações militares americanas.
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“A Colômbia faz um apelo ao governo dos Estados Unidos para que cesse esses ataques e o insta a respeitar as normas ditadas pelo direito internacional”, posicionou-se o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia em uma nota. “[O governo] rejeita a destruição de uma embarcação supostamente relacionada ao narcotráfico no Oceano Pacífico por parte dos Estados Unidos”.
O secretário da Guerra americano, Pete Hegseth, anunciou na quarta-feira dois ataques contra embarcações supostamente ligadas ao tráfico internacional de drogas no Oceano Pacífico — onde estão as principais rotas utilizadas por cartéis para levar entorpecentes aos EUA. Hegseth citou, em cada caso, que o alvo se trataria de “embarcação operada por uma Organização Terrorista Designada (DTO, na sigla em inglês)” — Trump equiparou grupos ligados ao tráfico a organizações terroristas no primeiro mês de mandato — e voltou a dizer que os ataques foram autorizados com base em informações de inteligência.
“Nossa inteligência sabia que a embarcação estava envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitava por uma rota conhecida de narcotráfico e transportava entorpecentes”, escreveu Hegseth. “Esses ataques continuarão, dia após dia. Não se trata apenas de traficantes de drogas — são narcoterroristas trazendo morte e destruição às nossas cidades. Esses DTOs são a ‘al-Qaeda’ do nosso hemisfério e não escaparão da justiça. Nós os encontraremos e os mataremos, até que a ameaça ao povo americano seja extinta”.
As operações americanas no Pacífico e no Caribe mataram um total de 37 pessoas até o momento, segundo os dados divulgados pelas autoridades americanas. A maior parte dos afundamentos de embarcações aconteceu no Mar do Caribe, onde o Pentágono promoveu a maior mobilização de tropas na América Latina desde a década de 1980, mas as ações começaram a ser ampliadas para o Pacífico.
Trump e Petro trocaram ameaças acaloradas na quarta-feira pelos episódios no Pacífico, que deixaram cinco mortos. O americano qualificou Petro como “criminoso” e sugeriu que ele era um narcotraficante que estava levando seu país à ruína. O colombiano respondeu que se defenderá “legalmente com advogados americanos”.
Bogotá reiterou “seu apelo ao governo dos Estados Unidos para dialogar, por meio dos canais diplomáticos”, a fim de “continuar conjuntamente a luta contra as drogas na região”, como vinham fazendo “há décadas”. (Com AFP)

