A farmacêutica Roche lança, nesta quinta-feira, no Brasil, um novo sensor de monitoramento contínuo de glicose para pacientes com diabetes que utiliza inteligência artificial (IA) para antecipar quedas ou picos de açúcar no sangue.
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O aparelho faz parte de uma nova geração de sensores que busca trazer mais segurança ao paciente ao usar a tecnologia para prever o nível de glicose na corrente sanguínea e emitir alertas em tempo real.
— Esses novos sensores têm modelos matemáticos que conseguem prever se a glicose vai subir, se vai descer, e o próprio aparelho dispara alarmes avisando. Um aviso sobre uma hipoglicemia no meio da madrugada, por exemplo, salva vidas, porque se ela não for detectada pode levar o paciente a um coma — diz a doutora em Endocrinologia pela Universidade de São Paulo (USP) Andressa Heimbecher, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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Para Marcio Krakauer, coordenador da Comissão de Inteligência Artificial e Tecnologias em Endocrinologia e Metabologia (CIATEM) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que trabalha com a doença há mais de 30 anos, a chegada dos aparelhos foi um marco para o tratamento:
— Esses sensores são uma mudança de paradigma total no tratamento do diabetes. Porque é uma doença praticamente assintomática na maior parte do tempo. Então os sensores eles são os olhos do diabetes, é como conseguimos enxergar o que está acontecendo no corpo e, com esses novos, o que ainda vai acontecer. As pessoas melhoram o seu controle, reduzem os casos de hipoglicemia e melhoram a qualidade de vida.
O novo aparelho, chamado Accu-Chek® SmartGuide, será vendido nas farmácias do país e foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para adultos a partir de 18 anos. O preço ainda não está definido, mas a Roche diz que o valor “será compatível a outros sensores de monitoramento contínuo disponíveis hoje no mercado”. Hoje, os dispositivos são vendidos no Brasil por cerca de 300 reais cada. Eles duram, em média, 15 dias, ou seja, demandam 600 reais por mês.
— O acesso ainda é uma questão não só no nosso país, mas no mundo inteiro. Aqui, quem tem plano de saúde consegue reembolsar os sensores. E, no poder público, temos, no máximo, alguns projetos, em algumas cidades, que oferecem sensores com alguns tipos de critério bem técnicos. Então esse acesso ainda é realmente um grande gargalo — diz Krakauer.
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O diabetes é uma condição crônica em que o indivíduo não produz ou não absorve adequadamente o hormônio insulina, responsável por retirar o açúcar (glicose) do sangue. Segundo estimativas da Federação Internacional de Diabetes, 11,1% da população adulta de 20 a 79 anos no mundo vive com a doença, cerca de 589 milhões de pessoas. No Brasil, são estimados 16,6 milhões de pacientes, 10,6% da população.
Os tipos mais comuns de diabetes são o 1 e o 2. No primeiro, o indivíduo tem uma doença autoimune que leva o próprio corpo a atacar as células beta do pâncreas, que produzem a insulina. Por isso, o paciente fica dependente de aplicações do hormônio.
Já o tipo 2, que responde por cerca de 90% dos casos, é causado por hábitos de vida. Nesse caso, fatores como excesso de peso e má alimentação sobrecarregam as células produtoras de insulina, o que afeta a produção ou absorção do hormônio.
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O novo sensor poderá ser usado, mediante indicação médica, tanto por pacientes com diabetes tipo 1, como por aqueles com diabetes tipo 2, mas que também dependem da aplicação de insulina. Ele mede de forma contínua o nível do açúcar no sangue para identificar casos de excesso (hiperglicemia) e falta (hipoglicemia).
Uma novidade é o uso de IA no recurso “Predição de Hipoglicemia”, que informa quando há risco de queda dos níveis de glicose 30 minutos antes, em qualquer horário do dia, permitindo ao paciente tomar medidas imediatas e evitar o episódio.
Já a “Predição Noturna” alerta com antecedência sobre o risco de possíveis quedas de glicemia durante o sono, um momento crítico em que pacientes muitas vezes não percebem os sinais da hipoglicemia.
É possível ainda visualizar a tendência de alta e baixa nos níveis de glicose nos próximos 120 minutos com a funcionalidade “Predição de Glicose em 2 Horas”. O aparelho é projetado para uso contínuo até 14 dias, é resistente à água e realiza leituras automáticas a cada 5 minutos.
Ele se conecta via Bluetooth com smartphones Android ou IOS (iPhone) e exibe as informações por meio de um aplicativo. Usuários interessados podem se cadastrar na lista de pré-lançamento neste link e serão avisados sobre informações para a compra e descontos como parte do programa da Roche “Bem Especial”.
Nova geração de sensores
O sensor é o primeiro a usar IA para antecipar as mudanças na glicemia, mas acompanha outras opções avançadas que têm chegado ao mercado com o recurso de estimar tendências do nível de açúcar. O objetivo é prever os picos e quedas e dar mais segurança ao paciente.
É o caso do FreeStyle Libre 2, da Abbott, que conta com setas de tendência para prever se a glicose vai subir ou cair, e o G7, da Dexcom, que tem um mecanismo semelhante, mas não está disponível no país. Geralmente, os sensores conseguem antecipar com precisão mudanças nos próximos 15 a 30 minutos.
— A grande vantagem desses sistemas é conseguir também monitorar o paciente a distância. Tenho um paciente que estava nos EUA e o diabetes descontrolou. Na hora, consegui entrar no site, ver como estava a glicemia naquele momento, como ela vinha evoluindo nos últimos dias e fazer o ajuste. Esse controle é muito importante para o paciente que usa insulina — conta Andressa.
Krakauer explica que o risco da hiperglicemia a longo prazo é que ela pode levar a complicações crônicas, como problemas nos olhos, nos rins, nos nervos e principalmente a parte cardiovascular. Segundo o especialista, 70% a 80% das pessoas estão fora das metas de controle da glicemia no país.
— E quem usa insulina ou remédios que abaixam a glicose também sofrem com a possibilidade de também ter hipoglicemias, que levam às complicações crônicas, como impactos cognitivos, demências, doenças circulatórias, mas também causam um comprometimento no momento em que ela acontece, não apenas a longo prazo, por isso são tão perigosas — complementa.
Mas, com o monitoramento contínuo por meio dos sensores, o próprio paciente passa a ter uma percepção melhor de autocuidado. Isso porque ele consegue visualizar rapidamente a forma como os alimentos que consome no dia a dia impactam a taxa de açúcar em seu sangue, diz Andressa:
— O sensor vem para facilitar todo esse sistema de controle. E temos projetos muito interessantes internacionais para que o sensor avise a unidade de saúde mais próxima em episódios de hipoglicemia ou hiperglicemia, que envie o alerta para um familiar também, temos avançado muito.

