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educadora diz que drama da educação em áreas de risco passa pela falta de suporte

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outubro 27, 2025
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Walmyra D’Azevedo Tavares, de 84 anos, dedicou duas décadas à direção do Ciep Operário Vicente Mariano, no Complexo da Maré — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A trajetória de uma professora de Matemática com mais de 15 anos de ensino em uma comunidade da Zona Sudoeste foi interrompida pela violência no início deste ano. Ao sair da escola, ela foi abordada por um grupo de traficantes, incluindo um ex-aluno: “Tia, vem com a gente, precisamos da senhora para desenrolar um bagulho aqui”.

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Escoltada até uma casa na favela, os criminosos tentaram fazer a professora revisar cadernos de contabilidade do tráfico para confirmar se um homem que cuidava das finanças da facção estava desviando dinheiro, antes que o “tribunal do tráfico” o executasse.

— Fiquei com muito medo. Eu chorava e pedia para ir embora. Disse que não poderia fazer. Falei que eu não me envolvia com isso — recorda-se a professora.

Diante da recusa, os criminosos a pressionaram, usando a escola como ameaça: “Tia, se não for a senhora, alguém da escola vai ter que fazer. Senão o bagulho vai ficar doido”.

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A professora solicitou transferência imediata, mas o trauma foi inevitável. Hoje, ela está afastada, tratando uma crise de ansiedade.

Em apenas três anos (2023 a agosto de 2025), a violência armada impactou as aulas de quase 500 mil alunos da rede municipal do Rio. E, segundo o programa Acesso Mais Seguro, da Secretaria municipal de Educação (SME), anualmente mais de 440 unidades escolares são atingidas.

Em 2023, foram cerca de 166,5 mil alunos atingidos, com a Cidade de Deus no topo. Em 2024, o número subiu para 180,1 mil, liderado pelo Complexo da Maré. Em 2025, o Complexo do Chapadão já é o mais afetado e a cidade teve 150,7 mil alunos impactados até agosto.

Walmyra D’Azevedo Tavares, de 84 anos, dedicou duas décadas à direção do Ciep Operário Vicente Mariano, no Complexo da Maré — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Walmyra D’Azevedo Tavares, de 84 anos, dedicou duas décadas à direção do Ciep Operário Vicente Mariano, no Complexo da Maré. No ano passado, já aposentada, publicou o livro “Memórias de uma diretora escolar”, em que descreve episódios difíceis de violência. Num trecho da obra, ela conta que, durante um confronto entre facções, presenciou alunos e pais serem alvejados:

“Estávamos em formação no pátio da escola. Era por volta das 7h. Muitas crianças estavam chegando quando ouvimos disparos. Todo mundo correu. Algumas crianças foram atingidas na perna, e um pai foi baleado. Eles foram levados para o Hospital de Bonsucesso. Naquele dia, eu também passei mal”.

Alunos e professores caminham pelo Complexo da Maré — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Alunos e professores caminham pelo Complexo da Maré — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A escola chegou a ser usada como refúgio pelos traficantes. Em 2005, durante uma operação policial, bandidos armados se esconderam no banheiro da unidade para fugir da perseguição, forçando Walmyra a encarar os agentes que questionavam a presença de criminosos ali. A ex-diretora afirma que o trauma maior era psicológico:

— A escola era uma ilha. Do lado de dentro tínhamos paz, enquanto no entorno vivíamos uma guerra. O mais difícil de tudo não era o bandido armado, muito menos encarar as operações. O mais difícil era convencer os alunos a ficarem no chão durante o confronto. Eles não entendiam que, mesmo na escola, corriam risco de vida.

Professora Helaine Cristiana Alves Santos — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Professora Helaine Cristiana Alves Santos — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

Já a professora Helaine Cristiana Alves Santos, que também leciona no Complexo da Maré, não raro encontra ex-alunos armados com fuzis na comunidade. Para ela, o drama da educação em áreas de risco passa pelo que classifica como falta de suporte:

— Eu sou consciente de que o professor sozinho não dá conta. É importante que o Estado realmente venha efetivamente com uma política de valorização da escola pública.

O secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, concorda:

— É extremamente lamentável que, todos os dias, tenhamos que analisar o território para saber se uma escola pode funcionar ou não por causa da violência. Cada dia que não pode ter aula é uma tragédia.

De janeiro até agosto deste ano, 441 escolas registraram impactos na rotina como fechamento da unidade e paralisação de aulas, por conta da violência, afetando aproximadamente 150,7 mil alunos.

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