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Nos bastidores, a leitura de fontes que acompanham de perto os desdobramentos do caso é a de que o ex-comandante da Aeronáutica trouxe um depoimento duro e firme, que corrobora as principais teses levantadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na denúncia e que deve levar o ex-presidente ao o mesmo destino de outro ocupante do Palácio do Planalto, Fernando Collor – a prisão domiciliar.
Durante uma hora e 20 minutos, Baptista Junior confirmou ter participado de reuniões no Palácio da Alvorada em que Bolsonaro discutiu uma minuta golpista para impedir a posse de Lula, relatou que o ex-comandante do Exército Freire Gomes ameaçou o ex-presidente com prisão se o plano fosse levado a cabo – e disse que a articulação antidemocrática só não teve êxito porque não houve a “participação unânime das Forças Armadas”.
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A crença de que Bolsonaro pode ir para a prisão domiciliar começou a crescer entre seus aliados depois que Collor foi para prisão domiciliar também por decisão de Moraes, sob a alegação de que enfrenta problemas de saúde, após ser condenado pelo Supremo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato.
Na decisão, tomada no início do mês, Moraes levou em conta a idade avançada do ex-presidente (75 anos) e o estado de saúde do ex-presidente, que tem doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar.
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Bolsonaro é cinco anos mais jovem que Collor, mas também enfrenta questões médicas. No mês passado, precisou ser submetido a uma cirurgia de doze horas na região do abdômen, no procedimento considerado mais complexo desde o atentado que sofreu em 2018, durante as eleições presidenciais.
“É um desfecho possível”, diz reservadamente ao blog um dos principais advogados que atuam no caso, ao comentar a possibilidade de Bolsonaro cumprir uma eventual pena em prisão domiciliar.
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Além disso, em um esforço para esvaziar as discussões do projeto de lei da anistia, Moraes tem tirado da prisão investigados por envolvimento na intentona golpista que culminou com a invasão e a depredação da sede dos três poderes em Brasília, em 8 de Janeiro de 2023. Ao longo dos últimos dois meses, ao menos 18 investigados trocaram a prisão em penitenciárias pela prisão domiciliar.
Ao conceder as prisões domiciliares nas investigações do 8 de Janeiro, o ministro tem imposto as mesmas medidas cautelares aos investigados: uso de tornozeleira eletrônica; veto ao uso de redes sociais, inclusive de terceiros; proibição de se comunicar com os demais envolvidos na apuração do 8 de Janeiro; impedimento de dar entrevistas a “qualquer meio de comunicação”, incluindo jornais, revistas, sites e blogs, a menos que haja autorização do Supremo; e proibição de visitas, à exceção de advogados e parentes mais próximos, como pais, irmãos, filhos e netos.
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Bolsonaro é réu por por organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado – crimes que, somados, podem levar a uma pena de 43 anos.
Na avaliação de quatro defensores de outros investigados ouvidos reservadamente pela equipe da coluna, Bolsonaro deve receber uma pena de 25 a 35 anos.
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A conta considera que, se os outros réus que desempenharam papel menor em toda a trama, como os condenados por depredar as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro, tiveram penas entre 14 e 17 anos de prisão, não há como Bolsonaro não receber uma sentença consideravelmente maior. O próprio ex-presidente já confirmou nos bastidores a interlocutores que considera essa uma probabilidade.
Isso porque, de acordo com a denúncia da PGR, ele teria sido o líder de uma organização criminosa que articulou uma intentona golpista para impedir a posse do presidente Lula e do vice Geraldo Alckmin.
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