A investigação da Polícia Federal sobre um esquema de manipulação em apostas esportivas envolvendo o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, refez o passo a passo das ações que levantaram suspeitas sobre o jogador. Ele foi indiciado por estelionato e fraude em jogos esportivos.

A investigação identificou dez pessoas envolvidas, sendo três com relações familiares com Bruno: o irmão Wander Nunes Pinto Júnior, a cunhada Ludymilla Araújo Lima e a prima Poliana Ester Nunes Cardoso. Os três apostaram que ele levaria cartão amarelo na partida entre Flamengo e Santos, realizada em 1º de novembro de 2023.

Veja a cronologia e as provas do inquérito.

A PF cita uma série de provas que envolvem o jogador, incluindo diálogos via WhatsApp com o seu irmão sobre recebimento de cartão. No dia 29 de agosto de 2023, por exemplo, 64 dias antes da partida entre Flamengo e Santos, Wander enviou mensagens a Bruno pedindo para ser avisado quando o “pessoal mandar” tomar um cartão amarelo.

“Contra o Santos”, respondeu o jogador. O jogo em questão estava marcado para o dia 29 de outubro. “Já vou guardar o dinheiro investimento com sucesso”, escreveu o irmão. “As trocas de mensagens indicam que Bruno Henrique teria passado a Wander informações antecipadas no que tange ao recebimento de um ‘cartão amarelo’ pelo atleta na partida disputada entre Flamengo X Santos no dia 01/11/2023”, informou a PF.

Troca de mensagens no WhatsApp entre Bruno Henrique e o irmão — Foto: Reprodução

No dia 7 de outubro de 2023, em nova troca de mensagens entre os irmãos, o jogador “indica a possibilidade de esquema de apostas noutro ramo”, pontuou a PF. No diálogo, ele pede uma chave Pix de Wander e diz que é para um “negócio de aposta”.

“Interessado”, segundo a PF, no suposto esquema de apostas informado por Bruno, Wander questiona: “Uai da essa ideia aí que vou apostar aqui tô precisando de dinheiro kkkkk”. Bruno retruca: “Esse aqui pesado não dá pra vc não”, no que Wander responde: “Se eu ganhar 1 mil reais tá bom, se for coisa certa”. Bruno informa que para entrar no esquema da aposta teria de ter “10k”, ou seja, R$ 10 mil, toda semana, conforme trecho: “Tem que ter 10 k todo final de semana’”, escreveu a PF.

Troca de mensagens no WhatsApp entre Bruno Henrique e o irmão — Foto: Reprodução
Troca de mensagens no WhatsApp entre Bruno Henrique e o irmão — Foto: Reprodução

Bruno Henrique toma cartão amarelo nos acréscimos — Foto: Reprodução
Bruno Henrique toma cartão amarelo nos acréscimos — Foto: Reprodução

No dia 1º de novembro de 2023, Bruno Henrique tomou um cartão amarelo já nos acréscimos do segundo tempo por, segundo a súmula, “golpear um adversário de maneira temerária na disputa da bola”. Logo na sequência, Bruno Henrique recebeu o cartão vermelho direto por ofender o árbitro dizendo “você é um merda”.

Súmula explica motivo de cartão para Bruno Henrique — Foto: Reprodução
Súmula explica motivo de cartão para Bruno Henrique — Foto: Reprodução

Bets alertaram sobre cartão suspeito — Foto: Reprodução
Bets alertaram sobre cartão suspeito — Foto: Reprodução

Três empresas de apostas esportivas relataram um volume atípico de apostas no cartão amarelo de Bruno Henrique, o que gerou a emissão de avisos formais. Em um dos sites, 98% das apostas que tratavam de um cartão amarelo em jogadores daquela partida foram direcionadas a Bruno Henrique, o que é incomum. Houve também uma concentração de apostas feitas por contas recém-criadas, além de clientes que já tinham o hábito fazendo apostas fora dos seus parâmetros normais. Outro fato que despertou suspeitas foi a concentração de apostas feitas a partir de Belo Horizonte, cidade natal de Bruno Henrique.

A partir daí, a IBIA (International Betting Integrity Association), organização internacional dedicada à integridade esportiva, encaminhou alerta para a Conmebol relatando as suspeitas. A entidade sulamericana, por sua vez, encaminhou o aviso à CBF.

Com os dados em mãos, a CBF considerou que era necessário ter mais informações e comunicou autoridades como a Polícia Federal, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT).

Em nota publicada na noite desta terça-feira, o Flamengo afirmou que não foi comunicado oficialmente pelas autoridades e defendeu o “devido processo legal”. Veja a nota completa:

“O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique.

O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.”

a cronologia da investigação sobre o atacante do Flamengo