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A foto que expôs a farsa do ‘suicídio’ de Vladimir Herzog durante a ditadura

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outubro 20, 2025
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Foto que mostra Vladimir Herzog morto no DOI-Codi tem evidências da farsa armada por militares — Foto: Reprodução

O jornalista Vladimir Herzog chegou sozinho na sede DOI-CODI, o temido órgão de repressão do Exército durante a ditadura militar. Diretor da TV Cultura, em São Paulo, ele tinha sido convocado para depor sobre as suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que havia sido banido. Vlado, como era chamado pelos amigos, negou qualquer participação em atividades clandestinas.

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Mesmo assim, naquele dia 25 de outubro de 1975, o jornalista foi torturado até a morte pelos militares, que alteraram a cena do crime para parecer que Herzog tinha cometido um suicídio. A foto de Vlado morto, porém, tinha evidências claras da farsa e se tornou um símbolo da brutalidade do regime.

Aquele foi um dos assassinatos mais chocantes do período autoritário no Brasil. Nesta semana, 50 anos, uma série de eventos vai relembrar o episódio. Nesta segunda-feira, o programa “Roda Viva”, da TV Cultura, recebe o engenheiro Ivo Herzog, filho de Vlado, para uma entrevista. Além disso, um documentário produzido pela emissora vai estrear na Mostra de Cinema de São Paulo e será exibido no mesmo canal. Também serão celebrados dois atos, na Associação Brasileira de Imprensa, sexta-feira, no Rio, e na Catedral da Sé, sábado, em São Paulo, em homenagem ao jornalista.

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Herzog foi morto em meio a uma divisão dentro das próprias Forças Armadas. Em 1975, não existiam mais organizações da luta armada contra a ditadura. Grupos guerrilheiros como a VAR-Palmares e a Ação Libertadora Nacional (ALN) tinham sido derrotados pela repressão.

Foto que mostra Vladimir Herzog morto no DOI-Codi tem evidências da farsa armada por militares — Foto: Reprodução

Carlos Marighella, Carlos Lamarca e vários outros líderes rebeldes haviam sido mortos pelo regime, que também massacrou a guerrilha do Araguaia. Quando o general Ernesto Geisel assumiu o governo, em 1974, o objetivo dele era começar uma abertura política “lenta e gradual” no país.

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Só que havia uma grande parcela de militares “linha dura” que não podia nem ouvir falar em abertura e queria achar motivos para justificar não só a continuação, mas também o recrudescimento do regime. Essa turma, liderada pelo general Sylvio Frota, ministro do Exército, era conhecida como a “tigrada”.

Em meados dos anos 1970,, sem os grupos da luta armada para perseguir, a tigrada decidiu ir atrás do PCB, também chamado de Partidão. Em 1975, centenas de pessoas foram presas, entre elas dezenas de policiais militares de São Paulo, sob suspeita de integrar a legenda comunista. Entre eles estava o tenente da PM José Ferreira de Almeida, o Piracaia, militante do PCB morto num porão do DOI-Codi.

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Vladimir Herzog assumiu a direção de jornalismo da TV Cultura em setembro daquele ano, com aval do governador paulista, o Paulo Egidio. A nomeação gerou a revolta de políticos como os deputados estaduais Wadih Helu e José Maria Marin, da ARENA, o partido de sustentação da ditadura.

Vladimir Herzog com seus filhos, no fim dos anos 1960 — Foto: Reprodução
Vladimir Herzog com seus filhos, no fim dos anos 1960 — Foto: Reprodução

Nascido na antiga Iugoslávia e radicado no Brasil, Vlado era um conhecido militante comunista, mas o jornalista de 38 anos, casado e pai de duas crianças, não tinha envolvimento com nenhuma atividade clandestina. Seu cotidiano estava voltado para cobrir cinema, teatro e cultura em geral.

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No dia 24 de outubro daquele ano, agentes da repressão tentaram prender Herzog na TV Cultura, mas aceitaram tomar o depoimento dele no dia seguinte. Herzog chegou às 8h na sede do DOI-Codi em São Paulo, onde ficou preso com outros dois jornalistas. Ambos ouviram quando um torturador deu a ordem de levar a máquina de choques elétricos pra sala onde Herzog estava sendo interrogado. Para abafar o som dos gritos na sala, um aparelho de rádio foi ligado com o volume no máximo.

Vlado nunca mais foi visto com vida. Na versão dos militares, o jornalista se enforcou com o cinto do macacão de presidiário que ele vestiu assim que chegou no órgão do Exército. Os agentes chamaram o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, para registrar o corpo do diretor da TV Cultura pendurado pelo cinto. Décadas mais tarde, o próprio Vieira daria entrevistas e prestaria depoimentos afirmando ter desconfiado da cena assim que viu o corpo de Herzog.

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Como mostra a imagem feita pelo fotógrafo, o jornalista estava pendurado pelo pescoço com os pés tocando o chão, e seus joelhos estavam dobrados. Ou seja, teria sido impossível alguém se enforcar daquele jeito. Além disso, o uniforme usado pelos presos no DOI-Codi não tinha cinto nenhum. “Achei estranha a posição dos pés, no chão, e tudo que estava ocorrendo em volta, a blindagem de não deixar tirar outras fotos do local”, disse o fotógrafo, em 2013, durante depoimento na Comissão da Verdade de São Paulo. “Naquele momento eu estava muito tenso. Depois, me dei conta que foi um homicídio”.

Multidão na Catedral da Sá em ato ecumênico para Vladimir Herzog — Foto: Antonio Carlos Piccino/Agência O GLOBO
Multidão na Catedral da Sá em ato ecumênico para Vladimir Herzog — Foto: Antonio Carlos Piccino/Agência O GLOBO

De acordo com a tradição judaica, adeptos da religião que cometem suicídio devem ser enterrados em local afastado dos demais. Vlado era judeu, mas quando o corpo dele estava sendo preparado para o sepultamento, o rabino Henry Sobel, à época com 31 anos, viu as marcas de tortura e não deixou que ele fosse enterrado na “ala dos suicidas” do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo.

Aquela foi uma atitude aberta de contestação à ditadura, considerada pela família Herzog a primeira denúncia pública do assassinato e da farsa armada pelos agentes da repressão no DOI-Codi.

Dias depois, o rabino Sobel liderou, ao lado do então arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo, e do pastor James Wright, um ato ecumênico na Catedral da Sé que reuniu mais de 8 mil pessoas.

Viúva de Herzog, a publicitária Clarice Herzog processou o estado e, em outubro de 1978, ainda na ditadura, um juiz federal responsabilizou o governo pela morte do jornalista, argumentando que a União tinha obrigação de zelar pela integridade física de Vlado, uma vez que ele estava sob custódia do DOI-Codi. Mesmo assim, somente em 2012, o registro de óbito de Herzog foi retificado, deixando claro que ele morreu devido à tortura na sala do DOI-Codi. Já em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil por negligência na investigação do assassinato.

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