Estamos atravessando uma entressafra de grandes séries — acho que o leitor concordará comigo sobre esse ponto. Em compensação, o streaming está cheio de aventuras de suspense de menor fôlego, mas com razoável qualidade de realização e capacidade inequívoca para entreter. É o caso de “A garota roubada”, lançamento da Disney+ e produção britânica. Quem estiver procurando um mistério para maratonar pode gostar da trama. São cinco episódios de menos de uma hora. O elenco conta com algumas figuras conhecidas e as locações têm um apelo quase onírico.
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O enredo começa num bairro burguês nos arredores de Londres. Lucía (Beatrice Campbell) tem 9 anos e vai dormir na casa de uma nova amiga da escola, Josie (Robyn Betteridge), que tem a mesma idade. No dia seguinte, quando Elisa (Denise Gough) e Fred (Jim Sturgess) — os pais da menina — chegam para buscá-la, Lucía evaporou. Eles descobrem que a casa onde a filha pernoitou era um Airbnb. A mulher que se apresentou como a mãe de Josie, Rebecca (Holliday Grainger), usava uma identidade falsa. Ela pagou o aluguel com um cartão de crédito roubado.
Começa uma investigação. A polícia tenta solucionar o mistério buscando pistas dentro da família. Com isso, a impressão de casal perfeito que Elisa e Fred projetam se desfaz. Segredos vêm à tona.
“A garota roubada” acumula uma coleção de clichês impressionante. As guinadas se sucedem de forma quase mecânica. Alguns temas contemporâneos movimentam a trama, mas nada é abordado por tempo suficiente para ganhar alguma densidade. A uma certa altura, por exemplo, Elisa passa a ser hostilizada na internet. Ela posta fotos da filha e faz apelos ao público no seu perfil no Instagram. A maré de ódio que se volta contra ela ocupa brevemente a narrativa. O debate sobre a cultura digital logo é abandonado para dar lugar a outro conflito. Com isso, nenhum drama ganha corpo e o arco maior também sofre. O roteiro vai empilhando fórmulas e o espectador mais esperto logo antecipa o que virá pela frente.
Uma das razões para assistir à produção é a presença de Ambika Mod (a protagonista da excelente “Um dia”, da Netflix, a crítica está aqui). Ela interpreta uma repórter. Porém, aqui, como quase sempre nas séries e nos filmes, os jornalistas são personagens negativos, urubus dispostos a arrancar uma matéria em detrimento do sofrimento alheio. Mesmo diante desses estereótipos, a atriz brilha quando aparece. O problema é que sua participação é esparsa. Ela merecia muito mais (e o público também).
“A garota roubada” tem sequências bonitas na Inglaterra e na França. Adaptada do best-seller de 2020 “Playdate” (de Alex Dahl), a série faz como o romance policial: cumpre bem aquele papel de “livro de aeroporto”, que, mesmo sem deixar grandes lembranças depois do capítulo final, ajuda a passar o tempo com alguma dignidade narrativa.