Condenado a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro por um esquema envolvendo a empresa brasileira Odebrecht, o ex-presidente do Peru Ollanta Humala, de 62 anos, cumprirá pena no presídio Barbadillo, complexo prisional na província de Lima que se notabilizou como destino de ex-chefes de Estado do país sul-americano, afetado nas últimas décadas por afastamentos de líderes políticos e condenações penais. Com a chegada de Humala, três ex-presidentes do Peru estão presos no local, que por anos foi a morada do ex-ditador Alberto Fujimori.

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  • Contexto: Ex-presidente do Peru Ollanta Humala é condenado a 15 anos de prisão por receber propina da Odebrecht

Barbadillo é uma unidade prisional administrada pelo Instituto Nacional Penitenciário peruano, que funciona dentro da Diretoria de Operações Especiais (Diroes) da Polícia do Peru, no distrito de Ate, perto da capital, Lima. Embora a construção do prédio date dos anos 1980, apenas em 2007 o local passou a ser destinado a custodiar presos — ou melhor, foi adaptado para receber um preso em específico: o ex-presidente Alberto Fujimori, extraditado naquele ano do Chile.

Entre 2007 e 2017, Fujimori foi o único preso em Barbadillo, de onde respondeu os processos contra por violações de direitos humanos e corrupção que o renderam pena de 25 anos de prisão. O espaço começou a ser adaptado para receber mais detentos apenas em 2017, quando a operação Lava-Jato, iniciada no Brasil, começou a encontrar ramificações em outros países sul-americanos. O segundo recluso da unidade foi o próprio Humala, então preso preventivamente.

A cadeia funciona como um espaço exclusivo aos presos de alto-perfil, e chegou a ficar desocupada entre maio de 2018 e janeiro de 2019, quando Fujimori recebeu um indulto — que depois foi derrubado — e Humala foi liberado pela justiça. Fontes ouvidas pelo jornal peruano El Comércio indicam que um contingente de seis agentes trabalham por dia na unidade, que conta com serviços médicos de segunda a sábado, enfermaria 24 horas por dia, ambulância equipada e refeitório (embora os presidentes tenham autorização para comer alimentos fornecidos por seus familiares).

Instalações utilizadas por Alberto Fujimori, em 2012, tinham espaço para pintura e televisão à disposição — Foto: Cedidas/ El Comércio

Ainda de acordo com o jornal peruano, a unidade custou 35.295 soles (R$ 55.250 no câmbio atual) ao contribuinte no ano de 2022, incluindo gastos com telefonia fixa e móvel, internet e manutenção.

Embora os presos tenham direito a desenvolver atividades profissionais e educativas dentro da prisão, em função do regime de condenação, ainda não está claro como a “superlotação” com três presos vai repercutir no acesso ao pátio, anteriormente livre a todos os reclusos. Além de Humala, estão custodiados na unidade os também ex-presidentes Alejandro Toledo e Pedro Castillo.

Ex-presidente Fujimori também tinha direito a cozinha mobiliada, banheiro privativo e acesso a telefone público — Foto: Cedidas/ El Comércio
Ex-presidente Fujimori também tinha direito a cozinha mobiliada, banheiro privativo e acesso a telefone público — Foto: Cedidas/ El Comércio

Após um julgamento de três anos, o ex-presidente Ollanta Humala foi condenado a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro relacionada a contribuições ao Partido Nacionalista durante suas campanhas de 2006 e 2011. A sentença será cumprida até 28 de julho de 2039, anunciou o Judiciário em 15 de abril. Os detalhes da decisão serão anunciados em 29 de abril. O ex-presidente será preso novamente em Barbadillo. Em julho de 2017, ele foi colocado em prisão preventiva pelo mesmo caso, mas foi libertado em abril de 2018 após uma decisão do Tribunal Constitucional.

Ollanta Humala, presidente do Peru entre 2011 e 2016, fotografado ao chegar ao tribunal em Lima — Foto: Connie France/AFP
Ollanta Humala, presidente do Peru entre 2011 e 2016, fotografado ao chegar ao tribunal em Lima — Foto: Connie France/AFP

Em Barbadillo desde 20 de abril de 2023, Toledo foi o último ex-presidente peruano a dar entrada na unidade prisional. Sua prisão estava pendente desde fevereiro de 2017, quando um juiz de primeira instância ordenou que ele cumprisse 18 meses de prisão preventiva por uma das investigações sobre o escândalo de corrupção da Lava Jato. O ex-presidente estava foragido nos Estados Unidos desde aquele ano. Em 2018, o governo peruano solicitou sua extradição para a investigação da adjudicação dos trechos 2 e 3 da Rodovia Interoceânica à Odebrecht, concedida durante sua gestão (2001-2006). O Ministério Público pediu 20 anos e seis meses de prisão para o ex-presidente, acusado de receber propina de US$ 35 milhões da construtora brasileira.

Fora do processo de extradição, Alejandro Toledo enfrenta uma ordem de prisão preventiva de 18 meses pelo caso Ecoteva, emitida em abril de 2017. Por esse escândalo, em 2019, o Ministério Público solicitou 16 anos e oito meses de prisão para o líder do Perú Posible. Ele enfrenta uma terceira acusação na investigação do Trecho 4 da Rodovia Interoceânica, neste caso por supostamente concordar com um suborno de US$ 6,3 milhões da Camargo Correa, outra construtora brasileira investigada pela Lava Jato.

Alejandro Toledo, presidente peruano entre 2001 e 2006, ouve sentença em outubro de 2024 — Foto: Jesús Saucedo/El Comércio
Alejandro Toledo, presidente peruano entre 2001 e 2006, ouve sentença em outubro de 2024 — Foto: Jesús Saucedo/El Comércio

Pedro Castillo foi o terceiro ex-presidente preso. Em 7 de dezembro de 2022, ele foi preso pela polícia logo após ser afastado do cargo ao tentar dar um golpe de estado. Inicialmente, ele foi mantido na prisão da Diroes, mas uma semana depois foi condenado a 18 meses de prisão preventiva relacionada à investigação do caso e, posteriormente, transferido para Barbadillo. Além disso, em março, ele foi condenado a cumprir 36 meses de prisão preventiva por uma das investigações em andamento sobre crime organizado.

Pedro Castillo, presidente do Peru entre 2021 e 2022 — Foto: Javier Torres/AFP
Pedro Castillo, presidente do Peru entre 2021 e 2022 — Foto: Javier Torres/AFP

Primeiro recluso, Alberto Fujimori foi o ex-presidente que passou mais tempo preso em Barbadillo, que foi aberta especialmente para ele em setembro de 2007. Ele permaneceu lá até dezembro de 2023, depois que o Tribunal Constitucional restabeleceu seu perdão. Um ano depois, em 11 de setembro de 2024, ele faleceu. Sua estadia começou após sua extradição do Chile, onde chegou em novembro de 2005, vindo do Japão, onde estava refugiado desde que renunciou à Presidência em novembro de 2000. Em dezembro de 2017, ele foi libertado após um perdão humanitário concedido por Pedro Pablo Kuczynski, mas foi preso novamente em janeiro de 2019, depois que o judiciário revogou o perdão.

Em Barbadillo, Fujimori enfrentou os julgamentos iniciados contra ele em dezembro de 2007 por eventos ocorridos durante sua administração. Esses processos foram realizados em um espaço da Diroes cedido ao Poder Judiciário. Até 2017, Fujimori era o único detento em Barbadillo, então os espaços internos da prisão estavam à sua disposição exclusiva. Mas naquele ano, à medida que as investigações da Lava Jato avançavam, ordens de prisão preventiva começaram a ser emitidas para outros ex-presidentes. Por esse motivo, a estrutura interna da prisão teve que ser adaptada para acomodar mais celas.

Alberto Fujimori, ex-ditador do Peru, durante uma sessão de julgamento em Lima — Foto: Ernesto BENAVIDES / AFP
Alberto Fujimori, ex-ditador do Peru, durante uma sessão de julgamento em Lima — Foto: Ernesto BENAVIDES / AFP

a prisão exclusiva para ex-presidentes do Peru