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E se ele começou discretinho, vai ganhar protagonismo à medida em que novela avança. Trará questões relevantes, como a sexualidade feminina. Aos 40 e poucos anos, Leila é uma mulher que nunca teve um orgasmo. Carol fala sobre esse assunto, além da sólida trajetória que construiu ao longo de mais de três décadas na TV em sua participação no “Conversa vai, conversa vem”, videocast do GLOBO que será exibido nesta segunda, às 18h, no Youtube.
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Confira um trecho do papo, em que ela também analisa os desdobramento da Lei Carolina Dieckmann, fruto da luta que travou após ter fotos íntimas vazadas, conta os motivos pelos quais segue apaixonada pelo marido, Tiago Worcman, depois de quase 20 anos de casamento e classifica de “injusta” a fama de antipática.
Ouvi dizer que Leila tem entraves com relação à sexualidade…
Ela é uma mulher insatisfeita com a vida que tem. Acha que tinha que estar com um cara rico, que pagasse as contas dela. À medida em que a personagem avança, vamos vendo que a insatisfação é mais profunda. Ao longo da novela, ela vai se se descobrir. Sexualmente também. Ela não sabe bem que existe uma diferença entre prazer e orgasmo. Tem prazer, não é que não sente nada. Mas ainda não descobriu a parada…
Ela nunca gozou? É verdade que a primeira vez vai ser com o Marco Aurélio?
Marco Aurélio vai ser uma grande paixão e, aí, pode ser uma nova chance para ela. Leila se dá conta durante a novela que nunca gozou. Interessante falar sobre o que não é explícito e dito, mas sentido. Uma mulher que não sabe o que é isso e onde batem as frustrações. A falta de entendimento do feminino. Esse, para mim, é o grande plot twist da Leila.
Algo comum para gerações de mulheres que cresceram atendendo ao desejo masculino a ponto de normalizar o fingir na cama.
Exatamente. Mas é louco pensar que alguém que nunca teve orgasmo talvez nem saiba o que está fingindo.
Você já disse que não a procurou Cassia Kis. Por que?
Por nenhum motivo. Se eu a encontrasse, rolaria naturalmente. Mas essa coisa de ligar é estranho, como se estivesse fazendo algo dela. O trabalho dela está feito, e é maravilhoso, genial, nunca será apagado. Sou grande fã da Cássia, é uma atriz de voracidade cênica impressionante. Vou estar homenageando ela sempre, mas não sinto essa coisa de benção. Se encontrá-la, vou dar um beijo.
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O que acha da postura política e social conservadora que ele teve nos últimos tempos?
Ela tem as opiniões dela, eu tenho as minhas. Mas tenho preocupação do tanto que a gente deixa de conversar. Achamos que a nossa opinião vale mais que a do outro, que estamos certos e o outro errado. Isso me incomoda. Tenho amigos que têm opiniões divergentes e faço questão de continuar conversando com eles. Cassia tem uma trajetória incrível e entrou numa vertente que divergiu, assim como a Regina Duarte. Mas isso não apaga o que elas fizeram. Não acredito na coisa do bom e do mal, de quem vota numa pessoa é boa e quem voto na outra é má. Conheço pessoas com opiniões políticas esquisitas e que boas, trabalhadoras, guerreiras.
São mais de 30 anos na TV, você cresceu e amadureceu diante dos espectadores e lidou a exposição desde muito nova. Como essa realidade forjou a mulher que você é?
Tive que amadurecer logo, mas fiz muitas coisas sem ter amadurecido. Dei entrevistas sem a menor noção do que estava falando, mudei de opinião. Muitas vezes, me senti mal interpretada porque, além de menina, sempre fui de peito aberto. Fui aprendendo errando muito. E tem o dentro da câmera. Sempre fui espontânea, trabalho em cima do que estou sentindo e não do que estou fazendo. Comecei a entender como fazer parecer que estou sentindo o que muitas vezes não estou. Porque não rola sempre de sentir, né?
Hoje não me interessa mais saber fazer, me interessa sentir. Se não der certo, faz de novo. Meu entendimento hoje como atriz não é usar as minhas ferramentas, é me conectar com um presente absoluto diante do entendimento daquela personagem e fazer de verdade o que estou sentindo. Durante um tempo, você fica querendo acertar toda hora, tentando tirar 10, porque tem medo da crítica. Hoje não tenho mais tanto medo da crítica.
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Mas você sempre soube mostrar o que era parte do jogo da exposição e o que era crime, tanto que temos a lei Carolina Dieckmann, fruto da sua luta após ter foto íntimas vazadas. Sente que algo mudou em relação à privacidade das pessoas?
Com certeza. Hoje, as pessoas têm a que recorrer. Eu não tive. Quando cheguei na frente do delegado ele disse: “Não temos uma lei para isso, você vai ter que dizer que foi por chantagem”. Respondi: “Então, vamos dizer”. No julgamento, quatro anos depois, já tinha a lei e o juiz começou assim: “Há uma lei no seu nome, mas que não poderemos usar porque ela é pós, foi criada depois”.
Não pôde se servir da sua própria luta.
Em vários sentidos. Fui muito atacada por mulheres que não entendiam. Por que você manda a foto pelada?. Fiquei um tempão respondendo: “Parou de tirar foto pelada para o seu marido, né?”. Gente, não vou parar de fazer nada, o erro erro não está no que estou fazendo. Continuavam não entendendo. A gente tem que poder fazer o que quiser, ninguém tem nada a ver com isso. Hoje, com a lei, há como reclamar. Recebo cartas de mulheres que passaram por situações, até famosas, que vêm me perguntar. Mas o que me toca é adolescente começando descobrir a sexualidade, que tira foto e, aí, vaza. É uma violência de um tamanho.
‘Minhas senhas no celular viraram uma loucura’
Passou a tomar mais cuidado com o que armazena no celular?
Passei a ter mais cuidado com as senhas, que viraram uma loucura. Mesmo assim, me sinto insegura, tenho gatilhos. Toda vez que qualquer coisa esquisita acontece no telefone, entro em pânico. De susto pelo que passei. Quando aconteceu, estava em São Paulo, no ensaio de um filme, desconectada do mundo. Saí e eram era milhões de mensagens, todo mundo já estava vendo. Uma amiga me botou num jatinho e jogou meio Frontal na minha boca. Eu não tomo remédio para nada. Não dava para eu chegar no Santos Dumont normalmente.
Minha preocupação era meu filho adolescente que, quando chegava em casa, ia direto para o computador ver notícia do Flamengo. Ele tinha, sei lá, 13 anos, na época. Foi um estupro. Fui atravessada por um negócio e não dava tempo de reagir a tudo que tinha que reagir, mandar alguém desligar a internet da minha casa, chegar em casa e ligar para o Tiago. O que o Tiago passou…
Eram eram violências de todos os lados, muito barra pesada. Mas não me arrependo de nada. Meu filho fala: “A coisa mais legal da sua carreira toda é que você tem uma lei, né?. Respondo: “Cara, fiz tanta coisa…” (risos).
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‘Botaram um carvalhão na porta da minha casa’, sobre o ‘Pânico
O programa ‘Pânico’ te perseguiu com aquela história de ‘sandália da humildade’. Você os processou e ganhou R$35 mil. Foi por dinheiro?
Nada a ver com dinheiro. A Rede TV! não tinha dinheiro para pagar, deram uns televisões, converteram e doei o dinheiro imediatamente. Eles colocaram um carvalhão e me xingaram de puta na na porta da minha casa, né, Maria? Eu estava no dentista, meus vizinhos chamaram a polícia. Quando cheguei, já tinham sido algemados e nem estavam mais lá. Precisava fazer algo. Se estou entrando numa festa e a pessoa quer me vestir uma sandália, beleza, e daí? Agora, colocar 60 pessoas me xingando na minha porta… Isso não está no game, não é da minha profissão. Também fui muito atacada porque o “Pânico” era muito popular. Não achava graça e continuo não achando, mas, na época, era assim “Que chata, por que não faz isso?”.
Como é a sua relação com dinheiro? Ganhou uma boa grana?
Ganhei. Penso no dinheiro como uma liberdade. Tenho uma casa confortável que amo, condições de viajar, pagar uma boa faculdade para os meus filhos. Isso me dá sensação de liberdade e entra um pouco também num lugar de recompensa. Por ter começado a trabalhar quase criança, ralado muito a vida toda e ter deixado muito meus filhos com pessoas que me ajudaram. Por não ter vivido muitas coisas com eles porque estava trabalhando.
Consequência dessa exposição toda é que você nunca está incógnita, nem nos piores dias que todos nós temos. Talvez, venha daí surgimento de sua fama de antipática. Como lida com ela?
Acho injusta. É um retrato de um momento em que tive que me posicionar diante de de algo que estava fazendo muito sucesso e que paguei para ver. Depois do episódio do “Pânico”, pensei muitas vezes: “Pra que fui fazer isso?”. Mas eu não podia deixar, eu estava certa, ponto. Mas a chateação pública é pesada, insistente. Ela vem e eu falo: “O que posso fazer com essa fama de antipática?”. Aí, tem a lição espiritual: cada vez ser mais humilde. Se pessoa me acha antipática, vou ser muito simpática com ela, prestar atenção e em nunca deixar o meu nariz subir.
‘Não tenho vontade de dar para ninguém, só para o Tiago’
Após quase 20 anos, o que te faz querer continuar casada com o Tiago?
Sou muito apaixonada pelo Tiago. Somos muito diferentes de quando casamos, porque a gente se melhora o tempo inteiro para o outro, estamos atentos. Não sei o que pode ser mais doce do que um marido que te acorda com um café com um desenho de coração, de cisne. O amor, o casamento vale por essa vontade de surpreender o outro, de crescer junto, de querer ver o outro se dando bem.
E o carinho reflete diretamente na libido. Você já disse que só transou com quatro homens na sua vida. Como é conformada com isso? Não tem hora em que dá vontade de expandir esse horizonte?
Zero. Não tenho vontade de dar para ninguém, só para o Tiago. Nunca achei que teria muitos homens. Quando se faz sexo com amor, existe uma conexão espiritual. Tive isso em todas as minhas relações. Não tenho nenhum interesse no sexo pelo sexo. Essa parada leve, de gozar junto, de intimidade profunda e absoluta, de se jogar no nos braços do outro…
Ia falar isso, mas depois iam dizer “ih, Carolina Dieckmann diz que gozar é Deus” (risos). Vamos dizer, é uma representação… (risos).
Você passou uma temporada nos Estados Unidos com sua família. Foram em busca de uma vida mais simples, sem tanta estrutura como a daqui? Como foi a experiência?
Isso aconteceu depois. Tiago teve uma oportunidade de trabalho, eu estava fazendo novela. E disse: “Vai, depois eu vou”. Fui por amor, achei que era o momento de ele dar um estirão. E ao me deparar com aquela vida, que eu não conhecia, entendi a oportunidade de viver coisas no âmbito da maternidade que não vivi no Brasil, trabalhando tanto e com tantas ajudas. Aqui, temos não só essa rede de pessoas que trabalham para a gente conseguir trabalhar, mas de vó, de todo mundo. Quando se vê você, seu marido e seus filhos, é uma outra experiência.
Inclusive nesse lugar de botar menino para varrer casa, fazer comida…
José sabe cozinhar, fazer tudo. Aprendeu lá. Eu falei: “Que paraíso essa vida”. Me apaixonei por uma vida que já era minha e não tinha tido oportunidade de viver. Estava sempre no corre, com alguém para resolver coisa, levar a buscar na escola, ir no campeonato. É diferente quando vai buscar na escola, vai no mercado, faz comida junto. Tive a oportunidade assim de viver um sonho. Depois, veio a pandemia e ficamos os quatros sozinhos mesmo na casa. Tem essa dualidade louca da pandemia, uma das coisas mais tristes da Humanidade, talvez a mais grave que a nossa geração passou e, ao mesmo tempo, eu estava vivendo uma coisa que falava: “Meu Deus! Que oportunidade de estar junto da minha família, que benção”. Conversar tudo, todo dia, o tempo inteiro, em todas as refeições.
Voltaria a morar nos Estados Unidos de Donald Trump?
Quando eu fui, era o Obama… Depois, entrou o Trump. Foi minha primeira experiência fora e comecei a entender o mundo de um jeito diferente. Quando você mora fora, entende que está tudo meio conectado, que é meio uma coisa só. A gente sabe que as coisas feitas lá reverberam aqui. Passei a não ter mais medo. Posso morar em qualquer lugar do mundo. O Brasil sou eu, ele está dentro de mim, sou brasileira e ponto. Perdi esse medo de entender e aprender outras maneiras de viver. Aprendi muito morando lá. Um senso de comunidade difícil de ver aqui. Lá, todos os pais todos os pais vão à reunião na escola, é todo mundo tirando o lixo, há uma organização civilizatória mesmo. Fiquei muito impressionada. Tive uma experiência muito diferente de cotidiano que me ajudou a entender coisas boas e ruins.
Como é educar e transformar dois filhos homens em aliados num mundo misógino e machista?
O mundo dos meus filhos já é diferente do meu mundo. Passamos por transformações que nos ajudaram, porque as discussões estão em pauta o tempo todo. A internet amplificou, hoje há mais facilidade em falar, exemplificar para um filho do que 20 anos atrás. É conversa na mesa o tempo todo. Meus filhos são pouco conectados com o machismo que tínhamos quando eu era pequena. Não sei se totalmente livres, porque existe a coisa estrutural e até eu me vejo na dúvida. É uma luta todo dia. Nada livra a gente do erro. E volto à espiritualidade para pensar sobre como a gente age diante do erro. A gente cancela, ataca, crucifica, agride. E nossos filhos veem isso. Talvez, tenhamos que prestar mais atenção nisso do que no erro em si, porque todo mundo erra.
Ser a única mulher da casa é travar uma eterna guerra solitária para os homens levantarem a tampa do vaso?
Meus filhos levantam, acredita? São meninos muito educados. Eu vivo dizendo: “Que sorte!”. Mas são dois, né? Uma sorte que veio de novo? Quando converso com minhas amigas, elas falam: “Seus filhos são muito quietos, não bebem, não fumam, não gostam de festa, são perfeitos”. Um teve o exemplo do outro, e isso é forte. Um tão retinho, veio o outro e disse: “Quero ser igual ao meu irmão”. E foi ficando, andando naquele trilho ali.
Não é o caso de filho, que a gente tem que educar, sim. Mas como fazer para os homens entenderem que não obrigação das mulheres educá-los, que precisam correr atrás sozinhos para uma convivência mais igualitária entre os gêneros?
Caramba! Não sei o que seria uma resposta mais importante do que essa (risos). Se eu soubesse… É uma tentativa eterna, né? Igual ao racismo quando que a gente entende que não é o que o preto que tem que ficar ensinando. A gente que tem que correr atrás. Homem tem que correr atrás de ser um menos machista, a mulher de milhões de outras coisas. A gente não pode achar que a gente está pronto. Nunca. Tem sempre alguma coisa para melhorar, para resolver, aprender.
‘Minha separação do Marcos foi muito sofrida’
Você foi madrasta muito cedo. Como é a sua relação com os filhos do Marcos Frota e com ele hoje?
Muito fofa, doce, eu diria. A minha separação do Marcos foi muito sofrida, mas sempre num lugar de respeito, que é raro. Sempre escutei muitos relatos, as pessoas brigam, litígios. A nossa separação se deu num ambiente de respeito profundo e nunca saiu desse lugar. Ele chegava do circo e falava “posso pegar o Davi?”. Nunca houve conversa sobre “esse dia não”, questão com lação a dinheiro, nada. Marcos criou os filhos sem uma mulher. Ficou viúvo e o filho mais novo dele tinha dois anos. É um cara muito especial, que me ensinou muito desde nova essa coisa de estar sempre com esse olho na espiritualidade, no que é essencial.
A gente conseguiu transmitir para o Davi um amor para sempre, porque somos pais dele e isso é soberano. Isso é lindo. É o mais importante. Ter escolhido essa pessoa como pai do meu filho… E ver também os filhos dele, que são foférrimos incríveis, irmãos maravilhosos para o David. Eles tem uma relação lindíssima. Ponho muito isso na conta do Marcos que, quando conheci, aos 17 anos, tinha passado por uma dor muito grande e que me me deu um chão.
O que foi mais difícil na separação?
Primeiro, descobrir que o amor acabou. Isso aí é das dores que não indico para ninguém. Acho muito triste. Depois, tomar uma decisão com uma criança em casa. Tem estar muito forte para conseguir se separar. O outro não querer… Muito triste.
‘A beleza me abriu e fechou portas’
Não vamos entrar naquele papinho de ‘ah, sofri preconceito por ser bonita demais’. Mas em que medida a beleza te abriu e fechou portas?
Me fechou muitas portas com “ah, bonita demais”. Não é papinho, é realidade. No começo me abriu portas. Comecei como modelo, óbvio que estava ali num padrão. Mas agora, já perdi alguns papéis. Fiz um teste para ser uma cozinheira de comunidade, e o autor falou: “Ela não tem cara de cozinheira de comunidade”. Não pode ter uma pessoa que nem eu na comunidade? Já falaram “Você é colorida demais”.
Você tem cara de rica, amor…
Mas olhar para mim e dizer: “Você tem cara de rica…”. O que quer dizer? Que rico tem que ser loiro, de olho azul, tem nariz arrebitado?
‘Não consigo olhar para mim e pensar que estou velha’
Envelhecer não é permitido à mulher no mundo patriarcal. Você virou uma voz contra o etarismo após ser chamada de velha ao postar fotos. Como tem sido não deixar que te coloquem nesse lugar de expectativa para que seja eternamente jovem e equilibrar essas forças dentro de você?
Não é fácil, é chato, mas mais pelas limitações, uma dor que aparece… Colágeno é secundário. Não consigo olhar para mim e pensar que estou velha. Por dentro, não estou, não sei que idade tenho. Tenho 46 nesse mundo aqui, mas na alma…Tem um monte de coisa que quero e posso viver. O que que não posso viver por causa da minha cara? Acho acho bobo pensar que envelhecer é ter menos colágeno. Há tantas outras coisas acontecendo mais interessantes. Estou cuidando mais da minha saúde, alimentação. Daqui a pouco, vou entrar na menopausa e estou lendo sobre isso. Estou mais preocupada com a mulher que vem de dentro do que a que está fora. Vou na dermatologista, faço laser, pinto o cabelo, mas isso é parte secundária do envelhecimento. Existe outro movimento que está acontecendo e que revela a mulher que quero ser.
Ainda assim, você não deixou de gritar quando te chamaram de velha e quando te criticaram por estar magra demais…
Emagreci por causa de um personagem, para fazer um filme. Daqui a pouco, ele será lançando e vão ver o motivo. Mas eu gostei do corpo. Nunca fui uma pessoa muito acima do peso. Sempre fui mais para esse corpo, tanto que eu estou vestindo minhas roupas. E qual é a questão de alguém com isso? Deixa!
Vai cuidar da sua vida, por favor?
“Ah, não, porque ser magro envelhece”. E aí? Então fica você mais cheinha. Não tenho nenhuma dúvida de que estou na minha melhor fase. Tenho muito mais energia que tinha com 20 anos, muito mais consciência do que eu quero na vida. Tenho ruga, pé de galinha? Tenho, mas tenho saúde.
Como é a sua relação com procedimentos? Faz? Você tirou o silicone…
Botei silicone sem entender o que estava fazendo, né? Tinha amamentado meu segundo filho, oito meses cada um, o peito desapareceu. Fui ao médico e ele falou: “Vamos colocar 90 ml em cada, é o mínimo, vai preencher e ficar tudo certo”. Coloquei e odiei. Não como ele ficou, ficou lindo. Mas sentia ele gelado. Deitava e sentia aquele negócio. Fiquei 10 anos com silicone, odiando e não entendendo que tinha a opção tirar. Por que não fiz isso 10 anos atrás? Enfim, me libertei de uma coisa que não fazia nenhum sentido pra mim. Estou mais feliz assim, no momento mais feliz da minha vida, me sentindo capaz, consciente, fazendo um monte de coisa que não sabia que queria fazer.
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‘Espiritualidade é o assunto da minha vida’
Você acaba de criar um canal de transmissão. Qual é objetivo?
Não sei. Fico me perguntando. Essa coisa de rede social é muito louca. Meio que você vai indo num fluxo do desejo daquelas pessoas que estão ali enquanto comunidade. Todo mundo começou a falar dessa coisa de canal de transmissão. Pensei: “Será que coloco alguma coisa ali?”. Obviamente não é a mesma coisa que coloco nos stories. Mas… Para que lado a gente vai? Aí, fiz uma caixinha de perguntas e amei que um respondeu assim: “Falar sobre espiritualidade”. Achei tão legal ter um lugar onde possa falar das coisas que têm me tocado espiritualmente que, sem dúvida nenhuma, é o assunto da minha vida. Desde que sou muito nova eu perseguindo isso.
Não. Vejo espiritualidade em todos os campos da minha vida. Em você, nos lugares que vou… Sou bem ecumênica. Gosto de conversar, de ouvir e entender o isso é para o outro. Tiago é judeu e tem essa liturgia assim muito forte, presente. Também é uma pessoa com quem eu converso muito. Sou muito adepta da meditação. Para mim, é uma casa dentro da casa, sabe?Um lugar para onde vou dentro de mim que me sinto protegida, abençoada.
Um canal particular direto com o Divino…
Exatamente. Fiquei abismada com essa pergunta na caixinha. Já tenho tentado desenhar umas frases provocando. De fugir das armadilhas da vida que nos colocam para competir, odiar, criticar, julgar… Até coisa sobre o corpo… Porque a gente não deve falar, né? Isso é o melhor que você tem a dizer? O melhor que a gente tem a dizer sobre a gente é o que a gente fala. Nesse momento, tá todo mundo querendo saber de “Vale tudo”, mas gostei de pensar que posso falar disso e não ficar uma coisa perdida no storie. Até para aquele fã mesmo.
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‘Preta me ensinava subindo no rio trio e segue me ensinando na cama de um hospital’
Perder sua mãe foi a pior coisa da vida? Como é viver órfã do amor materno no cotidiano?
Uma experiência dilacerante. Era uma pessoa doce, carinhosa. Não perdi só minha mãe, mas alguém que com um olhar especial sobre mim e que não existe mais. Morreu com ela e me faz muita falta. Ano passado, perdi a minha avó, outras que me amava profundamente. Faço o exercício de “O que minha mãe estaria pensando sobre isso?”. É uma maneira de ela estar presente.
Como tem sido conviver com Preta Gil?
Desafiador. Mas ela está sempre surpreendendo. Existe a dor profunda pelo que está acontecendo com ela, vontade de estar perto para ela nunca se sentir sozinha. Ao mesmo tempo, tem aprendizados. Ela é uma fênix, de uma força e energia tão linda. Na hora em que você acha que ela vai falar uma coisa, ela vem te dá uma porrada. Me ensinava subindo no rio trio e segue me ensinando na cama de um hospital. É só aula. Quando teve que amputar o reto, resolveu ir para Nova Iorque viver uma semana como se não tivesse câncer. Ficou todo mundo assim: “Pode?”. Ela tomou a decisão e foi. Voltou pronta para operar.
Ela disse que toma cuidado para te dar notícias ruins porque você é muito chorona…
Sou a pessoa que mais sente no mundo, tenho a lua em peixes, Maria, me respeita (risos). Ela não consegue mais tanto driblar a notícia. Mas preciso, sim, de umas horas. Porque quando encontro Preta, não consigo me controlar e posso atrapalhar. Preta é minha melhor amiga, tudo que vivemos juntas, como a gente está na vida uma para a outra…
Vocês se conheceram através do Tiago, que era ex dela?
Não, da Ivete. A Ivete era minha amiga e da Preta. E a gente não se bicava porque tínhamos ciúmes da amizade da Ivete. Há 25 anos ela fez um show no Hotel Glória e marcou comigo. Quando cheguei lá, a Preta estava. Ela marcou com as duas sem a gente saber. Gênia. O presente que Ivete me deu… E , aí, a gente naquela situação, uma olhou par a outra e aconteceu um negócio. No dia seguinte, compramos um rádio que falava um com o outro e não parou de se falar mais. Foi uma coisa de alma. Passei 12 horas no hotel com elas, uma falando da vida para outra. E nunca mais se separou.
O silicone foi uma lição para não exagerar nos procedimentos?
Mais ou menos. Gosto de fazer laser. Tenho medo de agulha, de ficar enfiando coisa, essa coisa de preencher… acho tudo meio estranho. Vou à dermatologista uma vez por mês, faço o laser que posso fazer, porque demora quatro meses para fazer outro . Chego lá e pergunto: “O que posso fazer esse mês?”. Faço limpeza de pele, eu não descuido. Sou vaidosa, quero estar com a minha pele bonita. Odeio ter espinha. Quero estar com uma cara boa sem ficar maluca.
Vamos falar de trabalho: você tem filmes para estrear.
Tenho três. Um é “Aurora”, do José Eduardo Belmonte. Rodamos em duas semanas, 10 anos atrás e ficou engavetado. Com (Humberto) Carrão e Marjorie (Estiano). É um filme de terror. Casa mal assombrada, monstro, tudo. Sou a mocinha…
E tem o “Pequenas criaturas”, de Anne Guimarães, em que vive uma mulher, mãe de dois filhos, que se muda para Brasília e descobre que está sendo traída pelo marido. É isso?
Quando ela chega lá (em Brasília), liga para ele (o marido) e uma mulher atende. E ela entende que eles está tendo um caso. Foi para esse personagem que emagreci bastante. Essa mulher sai da vida, vai para uma suspensão de sofrimento em que deixa de viver. Não consegue lidar com mais nada, nem com os filhos, nem com a casa. Acabou de se mudar e não consegue tirar as caixas. Atropela um cachorro, leva para casa e começa a cuidar dele para cuidar de alguma coisa. É uma personagem muito triste, tão triste que é quase ausente. Sabe aquela tristeza em que você se retira para não sentir? Eu achava que essa mulher tinha que ter uma cara muito marcada, impressionante. Foi por causa disso que emagreci.
‘Minha mãe passou de anos bebendo. Sou uma criança que já estive no banco de trás e ela bateu com o carro’
Em tem ‘Descontrole’, filme da Rosane Svartman, você vive outra personagem desafiadora. Uma escritora bem sucedida, também mãe de dois filhos, que entra em crise no casamento, se separa e cai na vida, quer dizer, no álcool ou no sexo, na doideira…
Ela tem uma recaída, e a gente entende que ela que é uma alcoólica. A vida dela está louca. Não está tá dando conta de nada: do casamento; de entregar livro; os filhos querendo atenção. Enfim… Ela se separa do cara, resolve viver a vida e volta a beber. Aí, não lembra de nada no dia seguinte, aquilo começa e ela vai ao inferno.
A Rosane me falou que ficou muito impressionada com a sua entrega. Como é que foi a preparação? Frequentou reuniões do AA? O que trouxe de referência pessoal?
Alcoolismo, para mim, já era um assunto muito de dentro. Minha mãe… teve uma época… Quando ela se separou do meu pai, minha casa pegou fogo, aconteceu um monte de coisa.. Eles se separaram, e minha mãe ficou 10 anos bebendo, emburacada, e a gente entendendo que, talvez, ela fosse alcoólatra, palavra que a gente usava antigamente. Ela deitada numa cama, muito triste, frágil. Um belo dia ela levantou, falou que ia parar de beber e de fumar e nunca mais. Sem frequentar nada.
Entendemos, depois, que, talvez, ela não fosse alcóolica, porque depois a voltou a beber só socialmente. Então, ela realmente escolheu se a anestesiar através do álcool e ficou 10 anos num buraco. Tenho uma visão do que o álcool faz num lugar muito íntimo.
De eu ter 10, 11 anos, estar me descobrindo mulher e ver aquela mulher, que era minha super mulher, deitada numa cama, sofrendo por amor, sem conseguir levantar. Eu tinha isso para dar para à personagem. Sou uma criança que já estive no banco de trás e minha mãe bateu com o carro.
O processo do filme te deu gatilho?
Chorei muito e me curei muito. Tive momentos no set em que eu saía e falava: “Caramba, mãe, tô me curando aqui. Tô entendendo uma parada que não tinha como entender mais nova”. Me curei não através da palavra, mas do que conseguir acessar dentro. É diferente quando você entra num estado de paz interno que não tem a ver com o que fala ou elabora, mas com que sente. Esse filme foi muito importante para mim.
A relação da sua mãe com a bebida influenciou no fato de você só ter começado a beber mais tarde, aos 30 anos?
Com certeza. Uísque eu não podia beber, porque tem o cheiro… Só consegui beber uísque depois que ela morreu (em 2019). Fica aquela imagem da minha mãe deitada, o copo de uísque e o aroma. Dar um beijo nela e sentir aquele cheiro. Sentia o cheiro e já me dava reflexo no corpo, vontade de chorar. Comecei a beber tarde porque tinha esse medo também: Será que beber significa chegar onde a minha mãe chegou?
Acha que nesses dois filmes você terá oportunidade de mostrar outros registros como atriz para além do lugar da mocinha bonita em que esteve em tantos trabalhos?
Com certeza. Não tem outro jeito de amadurecer. Quem trabalha com atuação está sendo reflexo do que consegue acessar, do que te atravessa e comove. Então, é estar atento a isso. Essas mulheres que eu fiz agora estão a serviço de outra Carolina, que está atenta a sentir as coisas e aproveitar o tempo, que é infalível e democrático. Ele passa para todo mundo e temos que ir com ele, pegar o que é bom. Agarrá-lo, trazer para junto, nutri-lo, aproveitar, ficar amiga dele. Estou vivendo pela minha mãe, pelos que não estão aqui, por quem está acamado, pela Preta, por tudo que está em mim. Ficar na guerra contra o tempo é muito bobo.

