As defesas dos denunciados pela trama golpista usaram referências a produções das cultura pop e clássica durante a primeira sessão de julgamento da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), na manhã desta terça-feira. As comparações foram feitas nos quinze minutos de sustentação oral disponibilizado aos advogados para argumentarem em favor de seus clientes.
O primeiro a usar o artifício foi Matheus Mayer Milanez, que atua na defesa do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, comparou as provas reunidas contra o seu cliente com uma série de streaming sobre “terraplanismo”.
— Ainda sobre a agenda [atribuída a Heleno na denúnica], a própria Procuradoria-Geral da República cita anotações variadas, ou seja, um apunhado de ideais, mas que sobre elas constrói seu entendimento. Com isso, eu recordo muito de uma série que está passando em um grande streaming em que cientistas querem chegar em uma conclusão e eles vão construindo provas para chegar nisso. O objetivo é provar que a terra é plana e eles vão fazendo inúmeros estudos para se provar isso. Está sendo assim no presente caso, por isso falamos em terraplanismo argumentativo — explicou.
Advogado de general Augusto Heleno cita série sobre terra plana em sustentação oral no STF
O argumento já havia sido usado pela defesa de Heleno na apresentação da resposta de sua defesa ao Supremo no início deste mês. Isso porque, segundo ele, a denúncia, a PGR usou como prova uma agenda encontrada pela Polícia Federal na casa do general, onde havia “diretrizes” sobre como “disseminar ataques ao sistema eleitoral”. No material, com uma logomarca de um banco público, Heleno alertava para a necessidade de “estabelecer um discurso sobre urnas eletrônicas e votações”. E pontua: “É válido continuar a criticar a urna eletrônica”.
Na manifestação enviada ao STF, a defesa afirmou que a PGR usa as anotações na agenda do Heleno para chegar a conclusões que queria chegar. De acordo com a defesa do ex-ministro, a PGR “não parte das anotações para se chegar à conclusão, mas alinha as palavras e páginas da agenda para casar-se com a conclusão a que pretendia chegar, de que o denunciado seria parte da alegada empreitada golpista”. Segundo eles, isso seria um “verdadeiro terraplanismo argumentativo”.
Ainda durante o julgamento na manhã desta terça-feira, o advogado Andrew Fernandes Farias, que defende o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, fez uma referência à obra “Hamlet”, de William Shakespeare. Ao agradecer pela oportunidade de tomar a palavra, ele disse que
— Eu gostaria de agradecer a cordialidade, a galhardia e a atenção com que fui recebido pelos ministros da Primeira Turma, que me fez lembrar de uma obra que gosto muito, a clássica peça de Shakespeare, Hamlet. É o diálogo entre o príncipe Hamlet e o lorde Polonio, quando os artistas estão chegando da cidade. Nesse momento, Hamlet fala para ele: ‘Cuida bem deles’. O lorde Polonio responde: ‘Príncipe, pode ficar tranquilo que eu vou tratá-los como eles merecem’. Então, o príncipe responde: ‘Por favor, não faça isso, porque se tratarmos as pessoas como elas merecerem, ninguém escaparia do chicote’.