A timidez sai de cena quando a câmera entra em ação. Em Paris, durante a Semana de Moda, Alejandro Claveaux entregou-se aos cliques e ao charme de um dos melhores cenários da capital francesa, o Hotel Le Bristol, com um século de história. “Sou meio duro para fotos, mas estava entre amigos, com um figurino que adorei. Uma coisa meio clássica, mas também ousada. Sem medo”, explica, em entrevista por chamada de vídeo, o ator goiano, de 42 anos.
Medo não faz parte de seu vocabulário. Em 2022, enfrentou a descoberta de um tumor na laringe, antes do início das gravações da série “Rensga Hits!”, do Globoplay. No mesmo ano, posicionava-se ferrenhamente nas redes contra o antigo governo e, ao ser questionado, não hesitou em falar sobre sua sexualidade, a qual nomeia “fluida e livre” — ele namora o jornalista e assessor de imprensa Rafael Barcellos. Na atração global, já na terceira temporada, Alejandro interpreta o sertanejo Deivid Cafajeste, que vive um romance com o segurança Kevin (Samuel de Assis).
“O Alê tem uma das melhores qualidades de atuação, que é a diversão, a alegria. Ele tem um Erezinho que manda e comanda seu trabalho”, brinca Samuel. O casal da atração, acredita Alejandro, foi aceito desde o começo porque o público anseia por histórias que não são contadas. “Essa ideia de rejeição mostra a falta de romances bem-escritos e protagonizados por pessoas LGBTQIAPN+. O Brasil é um dos países que mais mata a nossa população. É preciso levantar essa discussão urgentemente”, enfatiza o ator. “Também temos uma população muito polarizada, muito evangélica. É questão de vida ou morte.”
Por isso, trabalhos focados na temática estão sempre no topo de suas prioridades. No Festival do Rio, que acontece até o dia 12 de outubro, estreia, nesta quarta-feira, 8, o longa “Ruas da Glória”, no qual vive um garoto de programa uruguaio às voltas com um romance homossexual. A nacionalidade é uma homenagem às suas origens: o pai é de Salto, e a mãe, de Montevidéu. “O personagem tem uma idade inferior à minha, por volta de 30 anos. Foi um trabalho que busquei, insisti em fazer o teste”. Pelo papel, concorreu ao prêmio de Melhor Ator das Américas no Festival Septimius Awards, em Amsterdã. “Quis contar a história de amor protagonizada por dois homens”, diz.
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Também fará par com Bárbara Paz em “A mulher ao lado”, primeiro filme dela como diretora, ainda sem data de estreia, sobre os limites da privacidade, os dilemas éticos e sentimentos não ditos. “Tivemos uma linda troca. Amei dirigi-lo, pois acessa rápido as emoções. Contracenar com Alejandro é um deleite. Já era um amigo, agora é meu ator”, elogia Bárbara.
As convicções quanto à própria sexualidade e a importância de discutir os novos rumos da masculinidade tiveram origem ainda na infância. Aos 8 anos, Alejandro sofreu com o bullying dos colegas pelo jeito considerado efeminado. “Eu era gago, as crianças me chamavam de ‘viadinho’. Lembro de um dia olhar no espelho e falar: ‘vou mudar’, chorando muito”. Assim, imitava os estereótipos de como, supostamente, um homem deveria agir. “Inventei uma voz grossa, tentava andar de outro jeito. E sofrendo, criava um robô. Vários homens se forçam a entrar nessa caixa horrorosa. Até no mundo gay, o efeminado sofre mais. Por que o feminino incomoda tanto?”
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Apesar da dor, conseguiu ressignificar, na terapia, o trânsito entre seus modos de ser enquanto homem, o que o ajudou na carreira artística. “Hoje tenho ferramentas para entender e discutir esse assunto. Em algum lugar, aquele ‘robô’ me fez ter mais flexibilidade para interpretar diferentes personagens.” Viveu tipos conquistadores e machões, como o policial Nicolau da novela “O outro lado do paraíso” (2017) e o chantagista Tales Paiva, de “Amor de mãe” (2019), folhetim em que contracenou com Malu Galli, uma de suas melhores amigas. “Alejandro é versátil e inteligente, grande parceiro em cena. Tem um mistério nele, um ‘quê’ de perigo muito interessante. Temos planos de, em breve, fazer um espetáculo juntos”, conta a atriz.
A atuação também foi decisiva para melhorar a gagueira, condição sem cura. Fazer teatro, no entanto, aconteceu quase por acaso. “Tinha 20 anos, e uma namorada me inscreveu em um teste para uma peça. Cheguei e tive uma crise de pânico, não falava e só chorava. O diretor achou minha atuação ótima”, diverte-se Alejandro. Por meses, participou do chamado teatro físico (performance que prioriza a linguagem do corpo para contar histórias), até surgir a oportunidade do primeiro monólogo. “Quando decorei o texto, gaguejei muito menos. Aquilo foi me dando confiança.”
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Formado em Engenharia de Alimentos, abandonou a área e, aos 26, mudou-se para o Rio em busca de oportunidades como ator. Até agora, tem dado mais do que certo. “O teatro é um lugar que me chama de um modo muito forte. E outro grande desejo é buscar e entender o mercado internacional, de países como México, Espanha e Colômbia”, finaliza.