Qualquer semelhança com o anfiteatro de Roma, na Itália, não é mera coincidência. A imponência do Coliseu, um dos pontos turísticos mais famosos do mundo, ecoou em terras tupiniquins e serviu de inspiração para construções em diferentes regiões do Brasil. Pelo menos sete “arenas” erguidas no país são relacionadas ao monumento italiano, encurtando a distância de um oceano que separa o dois países — algumas nasceram do saudosismo de imigrantes.
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Assim como o anfiteatro italiano foi construído para ser palco das batalhas entre gladiadores, o Coliseu do Sertão, na cidade de Alto Santo, interior do Ceará, também foi feito para receber disputas, só que bem à moda brasileira: as partidas de futebol. Por fora, a fachada imita arcos e abóbadas do monumento romano, mas por dentro tem campo e arquibancada, com capacidade para cinco mil pessoas. Foram seis anos de obras até a inauguração oficial do estádio, em 2015.
— Queria uma coisa diferente, que chamasse a atenção. Já tinha ido ao Coliseu de Roma, e aquilo me marcou. Na hora tive a ideia de fazer o estádio — lembra o ex-prefeito Adelmo Aquino, responsável pelo projeto da Arena Coliseu Mateus Aquino e pela escolha do nome, que além de uma homenagem à obra original, faz referência ao seu neto, morto aos 5 anos vítima de leucemia.
O jogador de futebol Antônio Cauã, de 19 anos, que atua no time Estrela Azul, de Alto Santo, já viveu a experiência de jogar duas vezes no campo e garante que, mesmo com a fachada imponente, a melhor vista do espaço é de dentro.
— Você consegue ver que se parece mesmo com o monumento da Itália, enxerga todo o formato — conta Cauã. — A sensação de jogar lá é a de que estamos mesmo participando de uma luta.
No interior de São Paulo, a cidade de Pedrinhas Paulista, fundada por imigrantes italianos em 1952, também tem um Coliseu para chamar de seu. Mais do que isso, ela é considerada um pedaço da Itália no Brasil. Há esculturas de gladiadores em áreas públicas e da Loba Capitolina, símbolo mais icônico de Roma, em sua praça principal. A grande atração, contudo, é o monumento inaugurado em 2023, que reproduz o Coliseu.
Um dos primeiros moradores de Pedrinhas Paulista, o agricultor e guia turístico Luciano Tombolato, de 80 anos, conta que o cartão-postal, além das lembranças da terra natal, o aproxima de parte da família, que ficou na Europa.
— Ele é bem parecido com o original, com muitos detalhes — garante Tombolato, que chegou no Brasil em 1952, aos 6 anos. — Ajudar a matar a saudade ao mesmo tempo que me deixa com vontade de ir lá.
A arquiteta urbanista Maria Rita Amoroso, pesquisadora da Universidade de São Paulo (FAU-USP), explica que, mais do que uma inspiração, a existência de vários Coliseus no Brasil é o reflexo da força da imigração italiana no país. Segundo o IBGE, entre 1870 e 1920, período denominado como “grande imigração”, os italianos representavam 42% dos estrangeiros que vieram para o Brasil. Estima-se que 30 milhões de brasileiros são descendentes de italianos, o equivalente a 15% da população.
— A imigração traz diferentes culturas e formas de viver, mas cria ainda memórias afetivas, imateriais. Foi o que aconteceu com o Coliseu, que além das características estruturais, é lembrado por sua imponência e símbolo de grandeza — explica Maria Rita.
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A referência fez com que uma construção inacabada na BR-381, rodovia que liga SP a Belo Horizonte, ganhasse a alcunha de “Coliseu da Fernão Dias”. Instalada no alto de um morro na altura do município de Mairiporã (SP), a estrutura pode ser vista por motoristas que passam pela estrada.
Mas o que por fora parece um imóvel abandonado, visto do alto se revela uma garagem de carros antigos.
— O proprietário contou que o projeto era construir um hotel com a ex-esposa, mas o projeto foi deixado de lado após a separação. Hoje, ele vende peças e carros antigos — contou o influenciador Gustavo Brasil, que esteve no local há um ano.
Ainda no interior de São Paulo, em Caçapava, há outro “Coliseu”. Construído pela Associação Atlética para ser um ginásio, o local ficou sem manutenção. Agora, é usado para treinamento de escoteiros e grupos de socorristas, mas os administradores tentam fechar uma parceira com a prefeitura para restaurá-lo e reativar a quadra.
O Coliseu Santista, como é conhecido o Teatro Coliseu de Santos, de 1897, já está nessa toada e passa por uma reforma que promete modernizá-lo; será adaptado para receber mais produções e espetáculos. A obra começou em novembro de 2024 e tem previsão de conclusão para janeiro.
Em Minas, um Coliseu também passa por obras. A rotunda ferroviária de Ribeirão Vermelho, inaugurada em 1895 por uma companhia de trem, era usada como para manutenção de locomotivas. O local, considerado a maior rotunda da América Latina, já é um ponto turístico e vai se tornar um centro cultural.
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— A comparação com o Coliseu é simbólica. Não há evidências históricas que indiquem uma relação direta entre as duas construções — explicou Ícaro Henrique de Andrade Souza, secretário Municipal de Esporte, Lazer, Cultura e Turismo.
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Em Santa Catarina, na cidade de Arroio Trinta, o Coliseu foi inspiração para a construção de um auditório. A ideia para o projeto veio de uma aluna do ensino médio, que participou de um concurso da Câmara dos Vereadores para estudantes da rede municipal.
— A construção de um centro de eventos estava no meu plano de governo e, como Arrio Trinta é capital catarinense da cultura italiana, queria algo que representasse ao país — lembra Claudio Spricigo, prefeito da época que viabilizou a obra.