Horas depois do retorno seguro dos astronautas Suni Williams e Butch Wilmore, após uma estada forçada de cerca de nove meses na Estação Espacial Internacional, a agência espacial dos EUA, a Nasa, afirmou que a missão de retorno ocorreu “conforme o planejado”, e que os tripulantes devem ser liberados “em um ou dois dias”. Em entrevista coletiva, os representantes da Nasa também confirmaram que a cápsula Starliner, que deveria trazer os astronautas de volta no ano passado, mas apresentou problemas, passará por novos testes, sem prazo para serem concluídos.
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A cápsula Crew Dragon, da empresa SpaceX, com quatro astronautas a bordo — além de Williams e Wilmore, viajaram Nick Hague, comandante da missão Crew-9, e o russo Alexander Gorbunov — pousou no mar, perto da costa do estado americano da Flórida, no final da tarde, pelo horário local, conforme previsto. Em seguida, a nave foi levada para um barco de resgate, onde a escotilha foi aberta e os quatro retirados em cadeiras de rodas, sorrindo e acenando para as câmeras.
— As missões às vezes parecem ser mais simples do que parecem ser, mas nunca é fácil, voos para o espaço sempre são dinâmicos, eu assisti cada membro da equipe sair da cápsula com felicidade — disse Steve Stich, gerente do Programa de Tripulação Comercial da Nasa — Todo o sistema funcionou conforme o planejado.
Nos comentários iniciais, os representantes da agência citaram as questões envolvendo a cápsula espacial Starliner, da Boeing, que foi uma das protagonistas de toda a operação de retorno. Em agosto do ano passado, a Nasa afirmou que dois dos astronautas que retornaram à Terra nesta terça-feira ficariam na Estação Espacial Internacional até fevereiro, devido a problemas nos propulsores e a um vazamento de hélio na cápsula, que fazia sua primeira viagem ao espaço com uma tripulação — um prazo bem mais longo do que o inicialmente previsto. Na avaliação dos engenheiros, era perigoso realizar a viagem de regresso na espaçonave. A solução foi trazê-los de volta na Crew Dragon.
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Na entrevista coletiva, os representantes da Nasa preferiram focar seus comentários na cooperação com a Boeing — que chegou a organizar um evento para acompanhar o retorno da missão —, ressaltando o valor de terem dois veículos de transporte espacial ao mesmo tempo.
— Estamos muito gratos à Boeing e seu investimento — afirmou Steve Stich, incluindo elogios à SpaceX, do bilionário e braço direito de Trump no governo, o bilionário Elon Musk.
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Ele não quis dar um prazo para o próximo voo tripulado da Starliner, sugerindo que são necessários novos testes e talvez voos não tripulados até que seja liberada para o transporte de astronautas, mas sinalizou que a empresa está colaborando de perto com a agência.
Durante a conversa, Stich criticou a narrativa de que essa era uma missão de resgate, apontando que há uma nave de resgate na Estação Espacial Internacional, que poderia ser usada em caso de emergência, mas que a opção foi por “buscar oportunidades para trazer a tripulação de volta quando fosse seguro fazê-lo”, e que eles jamais estiveram em perigo.
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Ainda sobre os astronautas, os representantes da agência afirmaram que eles devem ser liberados nos próximos dias, e que eles devem passar por avaliações para analisar o impacto da longa permanência no espaço em seus corpos — de acordo com médicos, a falta de gravidade pode afetar a densidade dos ossos, reduzir a massa muscular e causar problemas circulatórios e de visão, e embora os efeitos possam passar em algumas semanas, é necessário acompanhamento posterior.
— Todos pareciam estar se sentindo normais para a fase de pouso e recuperação, onde seus corpos estão tentando se readaptar — disse Stich.
Contudo, Bill Spetch, gerente de integração de operações do Programa da Estação Espacial Internacional da Nasa, ressaltou como o treinamento os ajudou a suportar esse período em órbita.
— Acho que tem a ver com a preparação realizada antes da viagem, eles se prepararam para quando as coisas acontecem, eles têm uma equipe muito eficiente em solo, cientistas que trabalharam com eles, mas tudo começa com a preparação realizada antes da decolagem — afirmou Spetch, que prometeu algum tempo livre aos astronautas antes do retorno ao trabalho.

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Os representantes da agência também deram respostas vagas a pedidos de comentário sobre uma publicação do presidente Donald Trump, que pareceu assumir para si o crédito pela missão de retorno.
“PROMESSA FEITA, PROMESSA CUMPRIDA: O presidente Trump prometeu resgatar os astronautas presos no espaço por nove meses”, escreveu Trump, pouco depois do pouso.
Joel Montalbano, da diretoria de missões de operações espaciais da Nasa, disse que Trump abordou a agência em janeiro sobre os problemas com o retorno dos astronautas, mas disse que, naquele momento, os planos finais para a missão já estavam em andamento — o prazo inicial, estabelecido no ano passado, ainda no governo de Joe Biden, era fevereiro, mas ele precisou ser modificado por problemas no lançamento da missão seguinte. Em outra pergunta, Montalbano foi questionado se um resultado diferente na eleição presidencial de outubro do ano passado poderia ter mudado os planos.
— Trabalhamos para o presidente — declarou, de forma sucinta.