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‘Aposentar pra quê? Eu nunca trabalhei’

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abril 11, 2025
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Diretor e produtor Zelito Viana — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo

A menos de um mês do aniversário de 87 anos, no início de maio, o diretor, produtor e roteirista Zelito Viana não quer saber de aposentadoria. Pelo contrário, tem trabalhado como nunca. Ele acaba de lançar o documentário “Viva Marília” no É Tudo Verdade. O longa foi o responsável por abrir a programação carioca do evento, e tem sessão em São Paulo no domingo (às 21h30, na Cinemateca Brasileira). Além disso, prepara outros três documentários sobre Zuenir Ventura, Raquel de Queiroz e Egberto Gismonti, e embarca na próxima semana para Alter do Chão, no Pará, para as filmagens de “Sedução”, seu primeiro longa de ficção em 16 anos, desde “Bela noite para voar” (2009).

— Já são 20 anos que estou trabalhando neste filme. Dá um trabalho infernal. Tinha me esquecido. No Brasil, o seu filme é sempre o primeiro e o último. O primeiro porque você não filma a tanto tempo que já se esquece de como fazer. E o último porque você não sabe quando vai fazer outro — brinca o cineasta. — Mas é bom demais. Outro dia me perguntaram se eu não iria me aposentar, e eu respondi: “Aposentar pra quê? Eu nunca trabalhei”. Só faço o que quero e gosto.

Em “Sedução”, Zelito divide a direção com o filho Marcos Palmeira. A obra é livremente inspirada em uma história pessoal envolvendo o pai de Zelito e avô de Marcos.

— O filme parte de uma experiência que eu vivi pessoalmente, mas é bem ficcionado, não é autobiográfico, apenas parte de um episódio que ocorreu comigo e que todo mundo falava que eu devia fazer um filme sobre. Eu conheci no mesmo dia oito irmãos que eu não sabia que tinha. Meu pai tinha uma outra família — conta Zelito, que já trabalhou inúmeras vezes com o filho. — O Marquinhos sempre teve vontade de dirigir e falava comigo sobre isso. Ele está mais do que maduro para isso. Já trabalhou com todo mundo, tem uma carreira imensa no cinema. Acho que agora que ele vai experimentar a direção, vai ver como é bom e nunca mais parar.

Diretor e produtor Zelito Viana — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo

Pai coruja, Zelito lembra que Marcos sempre frequentou sets de filmagens e que desde que dirigiu o filho pela primeira vez, nunca deixou de colocá-lo em seus filmes.

— Faço todos os meus filmes com ele. Depois que você faz um filme com ele, você quer fazer todos. O Marquinhos quando atua, ele dá uma colher de chá que ele está dando na frente da câmera. Mas a verdade é que ele funciona atrás das câmeras. Ele tem uma liderança, funciona para a equipe. Ele não cria caso nenhum, é muito prazeroso trabalhar com ele — diz o cineasta.

Estreando como direção em um filme de ficção, Marcos Palmeira, de 61 anos, também se anima com a nova função:

— Eu fiquei muito feliz quando meu pai me convidou para codirigir com ele. Gosto muito da maneira como o Zelito dirige, ele é um diretor que gosta de atores e é muito objetivo também. Vai ser um processo bem interessante protagonizar e dirigir.

Um dos remanescentes da geração do Cinema Novo, Zelito Viana produziu clássicos do audiovisual brasileiro como “Menino de engenho” (1965), de Walter Lima Jr., “Terra em transe” (1967), de Glauber Rocha, e “Cabra marcado para morrer” (1984), de Eduardo Coutinho. Em junho, o diretor celebra os 60 anos de sua produtora, a Mapa Filmes, fundada em 1965 com os amigos Glauber, Walter, Paulo Cezar Saraceni e Raimundo Wanderley Reis, e ainda em atividade.

Diretor e produtor Zelito Viana — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo
Diretor e produtor Zelito Viana — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo

— São 60 anos de Mapa. E, de repente, a empresa deu uma renascida. Eu comprei um scanner de 4K e começamos a restaurar filmes do cinema brasileiro. Isso virou um negócio e a empresa está funcionando legal e prestando um serviço para o cinema brasileiro — revela Zelito, que tem se surpreendido com as novidades tecnológicas no processo de restauração e produção. — Hoje em dia, esse trabalho de recuperação também melhorou muito com o nível da inteligência artificial. Em “Viva Marília”, está cheio de IA. Você pega a foto, bota na inteligência artificial, e ela corrige o fundo, transforma de vertical em horizontal. É sensacional.

Nostálgico, o cineasta relembra com carinho os amigos que faleceram ao longo dos anos. De Glauber, morto precocemente aos 42 anos, em 1981, a Cacá Diegues, falecido no último mês de fevereiro, aos 84 anos, uma semana após visitar a casa de Zelito para gravar um depoimento para o documentário sobre Zuenir Ventura.

Sempre navegando entre a ficção e o documentário, Zelito Viana acha o trabalho não-ficcional mais desafiador e vem tratando de experimentar no gênero.

— É mais difícil fazer um documentário do que um filme de ficção. No documentário, você não sabe onde está o filme. Você precisa achar o filme. Na ficção, você escreve e aquilo está sob o seu controle — fala o diretor, irmão mais novo de Chico Anysio (1931-2012). — Em “Viva Marília”, uma das coisas que mais gostei, e que vinha perseguindo há anos, foi fazer um filme em que não tivesse ninguém falando sobre a pessoa. Temos muitas imagens de arquivo inéditas e depoimentos da Marília falando sobre ela mesma.

No projeto, Zelito contou com a ajuda da filha de Marília Pêra, Esperança Motta, na codireção, e do ex-marido da artista, Nelson Motta, no roteiro. A família da atriz também ajudou na cessão de materiais raros dela.

Cena de "Viva Marília", documentário dirigido por Zelito Viana — Foto: Divulgação
Cena de “Viva Marília”, documentário dirigido por Zelito Viana — Foto: Divulgação

O diretor, que conheceu Marília e a convidou para sua estreia como atriz no cinema — em “O homem que comprou o mundo” (1968), de Eduardo Coutinho —, revela que aprendeu muito sobre a artista ao trabalhar no documentário. — Eu não tinha total consciência da força dela como artista, da dimensão artística dela. Você fica arrasado, as pessoas saem humilhadas um pouco com tanto talento (risos).

Se em “Viva Marília” o diretor dispensou entrevistas de pessoas falando sobre a artista, nos docs sobre Zuenir Ventura e Raquel de Queiroz a ideia é outra.

— O do Zuenir são pessoas próximas falando sobre ele. Gravei com Cacá, Míriam Leitão , Gerson Camarotti. E também vou trazer muitas reportagens dele — conta. — O da Raquel está bem no começo. Na verdade, a Heloísa Teixeira (escritora falecida no final de março) iria dirigir. Eu ia só ajudar. Cheguei a gravar um depoimento da Heloísa, que tem um artigo brilhante sobre o fardão da Raquel, que foi a primeira mulher a entrar para a ABL. Ainda não me dediquei ao filme, mas vai sair. A Raquel era uma personagem fantástica. Prima do Castelo Branco e filiada no Partido Comunista. Era uma figura controversa total.

Muito ativo, Zelito comemora o atual momento do cinema brasileiro em termos de produção, mas acredita que ainda é necessário uma transformação nas áreas de divulgação e exibição. No caso de seus documentários, inclusive, o diretor é consciente da dificuldade de conseguir um bom espaço em cartaz.

— A possibilidade de fazer filme aumentou muito. Abriu-se um leque, democratizou muito a produção. Temos muitas pessoas fazendo cinema, eu mesmo não conheço mais ninguém, e muitas universidades formando profissionais. Mas acho que piorou muito a exibição e a divulgação. Hoje, um filme estreia em um horário no meio da tarde e depois de uma semana sai de cartaz. Não sei onde vou passar “Viva Marília” — lamenta. — Ainda dependemos de fenômenos individuais como “Ainda estou aqui”. O filme é um êxito sensacional, o filme certo, na hora certa, no lugar certo, mas é a exceção.

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