A cidade de São Paulo viveu um “sextou” atípico. Com a sombra dos casos de intoxicação por metanol que vieram à tona na última semana, o clima nos bares da capital paulista era de apreensão, resultando em um movimento consideravelmente mais baixo do que o normal. Embora alguns estabelecimentos tentassem atrair clientes com promoções de destilados, o que dominou as mesas foi a cerveja, vista pelos consumidores como uma opção mais segura.
- Leia mais: Anvisa regulamenta produção em larga escala de antídoto contra intoxicação por metanol
- Veja também: São Paulo monitora 102 casos de intoxicação por metanol e já distribui ampolas com antídoto para hospitais
O receio fez com que a escolha do que beber se tornasse um ato de cautela. O balanço do Ministério da Saúde confirmou 11 casos e investiga outros 102 em todo o país, sendo 101 apenas em São Paulo, elevando o nível de preocupação.
No Restaurante O Mineiro, na Consolação, região central da cidade, o gerente Washington Santana afirmou que houve uma queda drástica no pedido de drinks nesta sexta, e que foi solicitado por alguns clientes as notas fiscais das garrafas antes que o pedido fosse concluído.
— O pessoal claramente está optando mais pela cerveja do que pelo drink, pela caipirinha, pelo gin. Uma sexta-feira como hoje, já era para ter saído bastante drink, mas hoje saíram apenas três caipirinhas — disse Santana.
O gerente confirmou ter intensificado as medidas de segurança e revisão de estoque, comprando apenas de distribuidoras e mantendo toda a documentação.
— Temos tudo em dia e já precisei mostrar toda a documentação para clientes. Eles queriam saber se era de adega, se era distribuidora. E a gente mostrou que é tudo legalizado.
Entre os clientes, na maior parte dos casos, pessoas ouvidas pela reportagem preferem simplesmente não tomar destilados. Nesse caso, elas optam por bebidas prontas e enlatadas, conhecidas como RTD (Ready to Drink), ou cerveja. Os amigos Bruna Zobaran, Danilo Santos e Bárbara Santos, que estavam em uma cachaçaria na região da Rua Augusta, decidiram pelo drink pronto, evitando misturas feitas na hora.
— A gente não bebe cerveja, até queria um drink, mas hoje optei pelo drink pronto por causa do metanol — explicou Bruna.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/z/i/gBh4SIROKZgCExp8ZSww/whatsapp-image-2025-10-03-at-21.41.53-64022b82.jpg)
Bárbara afirmou que chegou a se questionar sobre a promoção de destilado, mas desistiu.
— Eu cheguei a olhar o Aperol, falei, será que o Aperol… e aí todo mundo se olhou e falou, também não dá pra garantir, e a gente foi no drink pronto.
Camila Gabriel, que se define como “do double gin, da vodca, caipirinha,” estava “só no suco” por causa dos últimos acontecimentos. Sua amiga, Vanessa Costa, também adepta dos drinks, optou pelo chope por considerar a cerveja “um pouco mais confiável”.
— Eu queria um drink, mas não tem como, né? Dá medo. Vou tentar [ficar um tempo sem tomar drink]. Mas tudo isso é uma novidade, né? Você agora tem que sentar num lugar e pensar sobre isso. Analisar e ver se é seguro mesmo beber lá — declarou Vanessa.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/i/l/bUzqQQTqKkqmB2BM9eaA/whatsapp-image-2025-10-03-at-21.40.31-0b900bd1.jpg)
A solução para a insegurança para alguns passou também a ser o consumo doméstico. Camila Gabriel não vê viabilidade em pedir para verificar garrafas e disse que prefere comprar a própria garrafa e beber em casa.
As intoxicações por metanol não resultaram em 12 óbitos notificados. O cenário fez com que a Anvisa precisasse acionar autoridades internacionais para tentar acelerar a disponibilização do fomepizol no Brasil. O antídoto, essencial no tratamento da intoxicação por metanol, não possui registro no país, adicionando uma camada de urgência à crise.
Enquanto a poeira não baixa e as investigações não chegam a uma conclusão definitiva sobre a origem dos destilados contaminados, os paulistanos parecem ter decretado a cerveja como o drink da hora, numa tentativa de aliar o “sextou” à precaução.