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artista visual carioca chama atenção no exterior com obra multidisciplinar e interessada na brincadeira

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outubro 16, 2025
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"Yes, yes, yes", obra de Tadáskía, apresentada na Frieze London, feira de arte na capital britânica — Foto: Rafael Salim

A carioca Tadáskía estava em Düsseldorf para receber o Prêmio Global de Arte K21, concedido a jovens artistas emergentes, quando conversou por vídeo com o GLOBO no começo do mês. Ela ia inaugurar na cidade alemã a instalação “brincando animada: travesti mariposa centopeia”. De lá, voou para Londres, onde apresenta suas obras na Frieze, feira de arte contemporânea que começou nesta quarta-feira (15) e vai até domingo (19). Autora de desenhos, esculturas, instalações, vídeos e poemas, que usa materiais como lápis de cor, esmaltes de unha, bambu e cascas de ovo, Tadáskía voa alto.

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Em 2024, Tadáskía expôs no Museu de Arte Moderna de Nova York, que adquiriu obras dela. Nunca antes uma artista havia sido autorizada a desenhar diretamente nas paredes do MoMa. De julho a agosto, esteve em cartaz no Museu de Arte Contemporânea de La Haute-Vienne, no Castelo de Rochechouart, na França. Mês passado, foi eleita pela revista Time uma das cem “estrelas em ascensão mais influentes do mundo”. E acaba de lançar, pela Cobogó, um volume que reúne duas séries de desenhos e poemas (em português e inglês): “lua coelho negra” e “ave preta mística” (que foi exposta no MoMA e na Bienal de Arte de São Paulo de 2023).

“Yes, yes, yes”, obra de Tadáskía, apresentada na Frieze London, feira de arte na capital britânica — Foto: Rafael Salim

Mulher negra e transexual, Tadáskía tem 32 anos. Formada como técnica em eletrônica, estudou artes visuais na Uerj, onde entrou em contato com o movimento negro. Seu nome “vem de vidas passadas”.

— Esse nome me chamou. É tão bom poder mudar, né? Principalmente hoje, quando o direito de as pessoas se autodeterminarem e escolherem seus caminhos está ameaçado mundo afora — diz ela.

Tadáskía cresceu no bairro do Santíssimo, na Zona Oeste do Rio, cercada de natureza. Na rua, havia até uma plantação de chuchu. A mãe falava com as plantas e as estrelas. Figurativa e abstrata ao mesmo tempo, a obra de Tadáskia está encharcada de natureza: flores, frutos, insetos, répteis e pássaros parecem se esconder nos desenhos coloridos da artista (ou talvez sejam apenas “alienígenas”, ela provoca).

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Vários trabalhos de Tadáskía nasceram de “encontros” com a natureza. A “ave preta mística” é “prima” (ou “vizinha”, quem sabe) da Sankofa, um símbolo das culturas da África Ocidental. Pássaro preto com um ovo no bico que olha para trás enquanto avançar para a frente, a Sankofa ensina a “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”, segundo o intelectual negro Abdias do Nascimento (1914-2011). Tadáskía conheceu a ave negra ainda na faculdade, mas só voltou a pensar nela num avião para a Espanha, quando viu “o dia virar noite” — “insights em meus voos, durmo e me desperto brincando;/ da escuridão/ centelhas/ multiformes me guiam”, diz um dos poemas da série.

Na Áustria, ela teve seu encontro com os coelhos: viu os bichinhos de olhos vermelhos pulando nas cercanias do aeroporto. Era 2023, o ano do coelho no calendário chinês (“um ano ambíguo”, recorda). Nos Estados Unidos, joaninhas a estimularam a pensar sobre o conceito de casca, que orientou a criação dos trabalhos em exposição em Londres. Houve também um encontro com a centopeia, que inspirou uma obra incluída na instalação em cartaz em Düsseldorf.

— Em 2024, fui picada por uma centopeia no último dia do carnaval do Rio. Foi a primeira vez que eu me entreguei ao carnaval. A centopeia é venenosa e o carnaval é associado ao mal, ao que pode te levar para o inferno, enfim… E pode mesmo, porque o inferno está em todo lugar, assim como o céu — conta a artista. — A centopeia me deu vários insights. Nessa época, houve uma quebra dos conceitos de bom e mal, de certo e errado.

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Tadáskía foi criada numa igreja pentecostal. Hoje, não se filia a nenhuma religião, mas continua interessada na fé.

— Passei por várias religiões, mas não me limito a dogmas. O primordial para mim é a liberdade de me conectar com o que é estrangeiro a mim. E em mim — prega a artista, que sempre começa seus desenhos de olhos fechados, como se fizesse uma oração.

Integrante do júri que deu a Tadáskia o Prêmio Global de Arte K21, Jochen Volz, diretor da Pinacoteca de São Paulo, afirma que a carioca se destaca por sua ousadia e frescor.

— Tadáskía cria pinturas, desenhos e esculturas inspiradas por narrativas míticas sobre transformação. Formas orgânicas, elementos abstratos e motivos do infinito marcam suas obras, que exploram os ciclos e as constantes mudanças na natureza — diz ele.

A série “ave preta mística” é dedicada “às irmãs negras e irmãos negros outsiders”, “às mulheres negras e pessoas trans negras”, “às pessoas que se importam com as crianças e às pessoas que são igualmente crianças”. Mas Tadáskía não acha que ser “negra, trans e periférica” seja o tema central de seu trabalho. Na verdade, o que mais a interessa é a “brincadeira”.

— E, inclusive, isso engloba ser negra, trans e ter sido periférica — explica a carioca. — Quando a gente brinca, a gente pode mudar, ser livre. A Octavia Butler (1947-2006, escritora americana) fala que Deus é mudança. As lutas das populações negra, indígena, trans e periférica são importantes, mas a luta não pode ser a nossa única alternativa, não dá para viver só guerreando. Estou familiarizada com a luta, mas também acho que brincando a gente pode descobrir novos caminhos de liberdade, paz e tranquilidade. É isso que tento fazer com os meus materiais (o carvão, o pastel, a taboa) e as minhas palavras.

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