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‘Assim como minha vida não se resumiu à maratona, agora não se resumirá ao tratamento para câncer’

BRCOM by BRCOM
outubro 6, 2025
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Raquel Castanharo está dando ênfase aos exercícios físicos na academia: "Músculo é vida" — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

“A imagem da mulher sem cabelos, fraca e internada pelo tratamento para câncer não necessariamente acontece mais. Não precisa ser assim. Sou Raquel Castanharo, fisioterapeuta, maratonista e criadora do “Viva Corrida”, plataforma online para corredores e profissionais da saúde. Tenho 38 anos, casada com Saulo, também com 38, mãe de Gabriel, de 8, e Cecília, 5. Descobri um câncer de mama 17 dias antes de correr minha primeira maratona, em junho. Meus médicos me liberaram para a prova. Corri os 42 quilômetros pelas ruas do Rio de Janeiro como um presente. Porque se tem algo capaz de desfocar a mente de um problema é ter uma maratona pela frente. A maratona sem si já é um problema. Um problema bom.

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A prova passou e estava ansiosa para começar o tratamento. Como sou jovem e pratico atividade física, os médicos me disseram que eu poderia sentir efeitos colaterais brandos. Então, queria buscar a cura logo, tirar essa birosca, um tumor de 5cm do subtipo luminal B, de dentro de mim. Só que não foi bem assim que aconteceu…

O tratamento para o câncer varia de pessoa para pessoa. E o químico que combate o câncer de mama é diferente do que trata o câncer no sangue, por exemplo. Por isso, me perguntam: “Ué, mas você não precisa ficar internada?”. Exato, no meu caso, não preciso.

Raquel Castanharo está dando ênfase aos exercícios físicos na academia: “Músculo é vida” — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Já passei pela quimioterapia vermelha, a mais pesada para mim. O químico em si não me fazia tão mal. Ficava enjoada, com gosto ruim na boca, mas o que me deu efeito colateral gigantesco foi o remédio aplicado depois, um estimulante que auxilia a produção de células brancas sanguíneas para ajudar a prevenir infecções.

Tomava um dia depois. E qual o efeito esperado para a maioria? Dorzinha nos ossos. Já para mim, fiquei de cama. Só o pó da rabiola. Três dias chorando, não conseguia andar. Ficava muito cansada. Só queria que o dia acabasse logo. Não dava para ler um livro, assistir uma série. Era ruim ficar deitada, ruim de ficar em pé. Tudo era ruim.

Por dois meses, semana sim, semana, não, fiz esse tratamento. Era uma semana bem e outra derrubada. Uma montanha russa. Aproveitava a fase boa para fazer musculação e aeróbicos como bicicleta e escada. Quando dava para correr, eram só 10 minutinhos na esteira. Mais para ter um gostinho. Continuei me mexendo porque sabia que reduziria os efeitos colaterais e porque me fazia feliz.

Agora, com a quimioterapia branca, não tomo mais esse remédio. Graças a Deus. Com esse novo químico, não sinto nada. Serão sessões semanais até 19 de novembro.

A maratonista tem corrido na esteira e na rua: por enquanto são 5 km — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
A maratonista tem corrido na esteira e na rua: por enquanto são 5 km — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Minha primeira corrida mesmo, em meio ao tratamento, foi na rua, perto de casa. Parecia uma louca, dançando e dado “oi” para tudo mundo. Estava muito feliz.

Fiz os 5km mais lentos da minha vida, com pace de 7min15 por quilômetro. Mas como a velocidade nunca me definiu na corrida, não liguei. Não sei quais são os meus melhores tempos em nenhuma distância. E dane-se. Imagine que minha última corrida havia sido uma maratona. Comemorei esses 5km como se fossem 42. E estou evoluindo rápido, cheguei nos 6min20 por quilômetro em duas semanas.

A ideia é focar nos 5km e dar ênfase à academia. Preciso ganhar massa muscular. Músculo é vida. Faço musculação quatro vezes na semana e corro duas vezes. Vou para a academia com o pensamento de puxar ferro mesmo, vou no máximo. Não tem treino fofo. Estou conseguindo dormir melhor, inclusive.

Os exercícios são considerados parte do meu tratamento oncológico, mas entendo quem não consegue fazer. 

Uma situação pouco falada mas que acontece com mulheres com câncer de mama é que mesmo nova estou na menopausa. Também é parte do meu tratamento entrar na menopausa. Cerca de 98% dos tumores de mama são sensíveis a hormônios e, então, é preciso bloqueá-los. 

Raquel Castanharo: "Tomo remédio para ansiedade, pensa o quê? Estou medicada" — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
Raquel Castanharo: “Tomo remédio para ansiedade, pensa o quê? Estou medicada” — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Quando eu acabar as quimios, fizer a cirurgia (tem indicação para tirar as duas mamas) e a radioterapia, terei mais cinco anos tomando bloqueador hormonal. É duro lidar com sintomas de uma menopausa que nem imaginava encarar neste momento. 

O tratamento para câncer de mama é complexo, duro e requer apoio emocional. Cara, você entra na menopausa, está sem cabelo, sem peito. Claro que penso: “Caralho, o que aconteceu com a minha vida?”. Mas eu procuro estar bem e forte, física e mentalmente.

Como eu faço isso? Com ajuda de psicólogo e psiquiatra. Sou uma pessoa que naturalmente vibra “para baixo”. Não sou “uhuuuuu, que dia lindo”.  

Então, preciso de ajuda para ficar bem. Tomo remédio para ansiedade, pensa o quê? Estou medicada. Não é vergonha nenhuma. Acho importante a gente tratar a cabeça, assim como trata o tumor.

Do mesmo jeito que para a maratona fiz questão que a minha vida não se resumisse à maratona, decidi que minha vida não vai se resumir ao tratamento. Para mim funciona assim. É uma escolha. Eu gosto de me expor e continuo a trabalhar nas redes sociais. Me sinto bem ajudando os outros. E adoro falar dos meus problemas. Até porque na internet é tudo gratiluz. E eu não sou aquela paciente oncológica tóxica porque não é tudo maravilhoso.

Nesse mês de conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de mama, importante dizer que precisamos ficar atentas aos sinais. Eu comi bola… Tinha algo diferente na minha mama esquerda, mas segundo exames de rotina não era nada. O que eu deveria ter feito? Acompanhado de seis em seis meses. E o que fiz? “Ah, isso não é nada”. Eu não tinha sintoma nenhum, treinava para uma maratona, meus exames de sangue estavam perfeitos e o câncer crescia dentro de mim. Fiquei um ano e meio sem esses exames. Quando refiz, era tarde. Minha sorte, dentro deste diagnóstico, é que este câncer cresceu devagar e não se espalhou pelo corpo.

Raquel Castanharo se mantém na ativa, trabalhando nas redes socias — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
Raquel Castanharo se mantém na ativa, trabalhando nas redes socias — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Também sou do time que não tem medo de perguntar as coisas. Outro dia, no meio da quimioterapia, achando minha testa enrugada, quis saber se poderia fazer botox. Me joguei. E tem a vida sexual. Como fica? Tem de perguntar aos médicos. Não pode ter vergonha. Vai ficar sem sexo todo esse tempo? Há alternativas que ajudam na questão da libido. O tratamento é muito longo para não se viver. 

No final das contas existem dois jeitos de levar o processo: “Pensar todo dia que vou morrer ou pensar todo dia que vou viver”. Resolvi pensar que vou viver. E estou vivendo intensamente”

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