O telescópio que está usando a maior câmera do mundo para mapear o Universo revelou nesta segunda-feira suas primeiras imagens. Os registros produzidos em apenas 10 horas pelo projeto Legacy Survey of Space and Time (LSST) já mostram milhões de galáxias e estrelas e milhares de asteroides.Bancado pelos Estados Unidos e instalado no Observatório Vera Rubin, no Chile, a empreitada com participação de cientistas brasileiros é a maior da astronomia desde o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, em 2020.
- Astronomia: Com participação do Brasil, telescópio fará mapeamento mais profundo já feito no céu
- Alarme falso: Sinal de vida em planeta distante é contestado por astrônomos após novas análises
Com sua câmera de 3,2 gigapixels acoplada a um espelho de 8,4 metros de envergadura que é responsável por ampliar as imagens, os cientistas do projeto relataram que o telescópio está funcionando bem e deve ser capaz de cumprir sua missão.
— O Observatório Rubin vai capturar mais informações sobre o nosso Universo do que todos os telescópios ópticos da história juntos — disse Brian Stone, diretor da Fundação Nacional de Ciências dos EUA, principal financiador do LSST, em entrevista coletiva . — Usando essa extraordinária instalação científica, vamos explorar muitos mistérios cósmicos.
O LSST, com custo estimado de US$ 680 milhões (R$ 3,8 bilhões), é um equipamento de varredura que visa mapear uma área grande do céu, diferentemente do James Webb, que é voltado para observações detalhadas mais pontuais.
Instalado a 2.682 metros de altitude em Cerro Pachón, nos Andes, o telescópio visa fazer uma varredura de todo o céu do Hemisfério Sul a cada três dias e registrá-lo com maior ampliação e profundidade possíveis. Por isso, além do mapeamento, será possível identificar novos objetos que estão em movimento, como asteróides, ou que apresentem transformações, como as explosões estelares conhecidas como supernovas.
Com vida útil prevista de uma década, o projeto vai acumular uma quantidade colossal de dados: 20 terabytes (20 trilhões de bytes) por noite. Após dez anos de operação, deverão se acumular 60 petabytes (60 quintilhões de bytes) de dados brutos, representando 37 bilhões de objetos (galáxias, estrelas etc.).
É no manejo dessa informação que o Brasil deve participar do projeto, por intermédio do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (Linea). A instituição brasileira recebeu um aporte de R$ 7 milhões da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para fortalecer seu centro de processamento, que será um dos muitos no mundo para armazenar e tratar as imagens geradas — há mais de 40 países envolvidos.
O LSST dá início a seus trabalhos com a promessa de ter um impacto amplo e profundo na astronomia, indo desde a escala dos objetos que trafegam no Sistema Solar até as galáxias mais distantes conhecidas. Em função do tempo que a luz demora para trafegar dos confins do cosmo até a Terra, o Observatório Rubin deve mapear muitas delas datando de uma era em que o Universo tinha poucos milhões de anos de idade.
O que torna o LSST único é essa profundidade de visão combinada a uma grande amplitude também. A abertura do telescópio é um cone de 9,6 graus quadrados, o suficiente para cobrir uma área de visão equivalente a 40 luas cheias enfileiradas no céu.
Entre os mistérios cósmicos que poderão ser investigados com o novo projeto está a energia escura uma força de natureza pouco conhecida que faz o Universo crescer de maneira acelerada. Outro deles é a matéria escura, uma entidade “fantasma” que confere peso e gravidade às galáxias, mas não interage com a matéria comum.
— A divulgação das nossas primeiras imagens científicas representa um marco extraordinário para o Observatório Rubin. Representa o ápice de cerca de duas décadas de dedicação, inovação e colaboração de uma equipe global — afirmou Željko Ivezić, Diretor de Construção do Observatório Rubin, na entrevista. — Com a construção agora concluída, estamos voltando nossos olhos totalmente para o céu, não apenas para capturar imagens, mas para iniciar uma nova era de descobertas.