A guerra comercial global está beneficiando as ações asiáticas do setor de consumo, à medida que os investidores se abrigam em empresas que atendem às necessidades essenciais dos clientes locais.
Os estrategistas do Goldman Sachs e do Morgan Stanley recomendaram ações asiáticas de consumo básico, pedindo aos investidores que se tornassem defensivos, em relatórios divulgados após o presidente dos EUA, Donald Trump, instituir tarifas recíprocas para mais de 60 países em 2 de abril. A Fidelity International disse que comprou ações chinesas de bens de consumo, apostando que as empresas se beneficiarão do estímulo do governo.
O índice MSCI de bens de consumo básico da Ásia-Pacífico subiu 5% desde 2 de abril, o melhor desempenho entre 11 setores e superando a queda de 2,5% do índice de referência mais amplo. Os papéis das redes de supermercados Yonghui Superstores, na China, e Kobe Bussan, no Japão, subiram pelo menos 19% cada uma, enquanto alguns outros fabricantes de bebidas e laticínios também se saíram bem.
Trata-se de uma forte reviravolta na trajetória do setor, que definhou enquanto o frenesi da IA catapultou as ações de tecnologia nos últimos dois anos. Isso ressalta uma tendência de afastamento das ações de crescimento, já que as tensões comerciais entre os EUA e a China ameaçam uma desaceleração econômica global. O grupo também está recebendo um impulso dos sinais de que os governos asiáticos estão prontos para implementar estímulos fiscais para apoiar os gastos.
O bom desempenho sinaliza uma “mudança na mentalidade dos investidores, que deixaram de perseguir o crescimento global e as exportações para buscar abrigo na resiliência da demanda doméstica”, disse Charu Chanana, estrategista-chefe de investimentos do Saxo Markets em Cingapura. “Os investidores estão começando a precificar um mundo mais fragmentado e protecionista”, onde o apoio da política local e o consumo são mais importantes, afirmou ela.
Embora uma guerra comercial prolongada possa poupar poucos setores, os produtos básicos de consumo têm demonstrado resistência em tempos de estresse econômico. Também ajuda o fato de o índice de referência setorial ter caído por quatro anos consecutivos até 2024, em comparação com o avanço de vários anos praticamente ininterrupto do indicador de tecnologia da informação do MSCI Asia desde 2019, indicando que há espaço para recuperação.
A rotação incipiente pode se estender à medida que os planos de estímulo fiscal forem revelados. As autoridades chinesas listaram recentemente 48 medidas para expandir os gastos das famílias com alimentação e saúde, entre outros, enquanto a Coreia do Sul aumentou seu plano de orçamento suplementar para 12 trilhões de won (US$ 8,4 bilhões). Na Índia, espera-se que a previsão de uma monção acima do normal melhore a demanda rural.
A Fidelity International aproveitou a queda nas ações chinesas em 7 de abril para aumentar as participações em produtos básicos de consumo e em algumas empresas de itens discricionários relacionados a viagens, disse Terrence Kan, estrategista de portfólio de clientes. Ele dá preferência às papéis listados no continente em detrimento das ações negociadas em Hong Kong, uma vez que as primeiras podem se beneficiar mais das medidas de apoio de Pequim.
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As ações asiáticas de bens de consumo também se saíram melhor do que seus pares nos EUA e na Europa durante a turbulência do mercado, graças às promessas imediatas de apoio governamental.
Em um relatório de 6 de abril, os analistas do Goldman elevaram sua recomendação para os produtos básicos de consumo asiáticos para overweight — isto é, acreditam que os papéis performarão melhor que o índice de referência —, dizendo que eles estão tendendo mais para o setor “doméstico e defensivo”. Na quinta-feira, os estrategistas do JPMorgan. fizeram um movimento semelhante para o grupo no Sudeste Asiático.
“Os produtos básicos de consumo não são um setor em que a demanda flutue muito”, e há relativamente poucos nomes com grande exposição às exportações dos EUA, informou Hironori Akizawa, diretor de investimentos da Tokio Marine Asset Management International.
— Um cenário positivo seria o fato de os bancos centrais reduzirem as taxas de juros, estimulando o consumo.
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Em contrapartida, as ações de produtos discricionários sofreram com as expectativas de que as famílias reduzirão os gastos não essenciais. O indicador MSCI Asia para bens de consumo discricionários caiu mais de 5% desde 2 de abril, a segunda maior queda entre os setores.
Um risco para os produtos básicos de consumo seria um estouro da inflação, que pode reduzir o entusiasmo pelo setor, de acordo com James Thom, diretor sênior de investimentos em ações asiáticas da Aberdeen Investments.
Por enquanto, contudo, está se formando um consenso de que o setor de produtos básicos é uma aposta mais segura. Espera-se que o indicador setorial ofereça o dobro do crescimento dos lucros que o MSCI Asia Pacific Index pode apresentar nos próximos 12 meses.
— Os produtos básicos continuarão a ser o foco dos investidores nessas condições, ao passo que poderemos ver uma mudança de volta para setores como o discricionário e o de serviços se o apetite pelo risco voltar — afirmou Nick Twidale, analista-chefe de mercado da AT Global Markets em Sydney.
— Acredito que isso só ocorrerá com uma mudança nas tarifas por parte dos EUA.

