O Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, elogiou o presidente argentino Javier Milei na noite de quarta-feira durante uma cerimônia de gala em Nova York, nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, dizendo que ele “lançou as bases para uma nova era dourada na Argentina”.
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“Esta noite reconhecemos o presidente Javier Milei por seus incansáveis esforços para tornar a Argentina grande novamente”, disse Bessent, ao apresentar Milei para receber um prêmio em um jantar do Atlantic Council na quarta-feira. Ele exaltou a “liderança visionária” de Milei, dizendo que o líder argentino “reconheceu que o governo não é a solução, é o problema”.
O gala de traje a rigor foi repleto de pompa nova-iorquina. O presidente francês Emmanuel Macron e Gianni Infantino, presidente da FIFA, também foram homenageados — Macron seria apresentado pelo CEO da BlackRock, Larry Fink, enquanto Infantino foi apresentado pelo heptacampeão do Super Bowl Tom Brady.
Embora o evento estivesse sendo planejado há semanas ou meses, ele aconteceu enquanto o governo Trump corre para oferecer apoio à Argentina de Milei, à medida que o país sul-americano tenta evitar uma crise financeira.
Bessent, que apresentou Milei a um público de patrocinadores corporativos e autoridades políticas reunidos no Ziegfeld Ballroom, no centro de Manhattan, ganhou notoriedade em parte por ajudar o bilionário George Soros a apostar contra a libra esterlina em 1992. Essa experiência lhe dá uma percepção particular agora que ele e seu atual chefe, o presidente Donald Trump, se encontram do outro lado de outra aposta de confiança nos mercados.
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Com a Argentina, Bessent está tentando apoiar uma moeda sob ameaça. Ao fazer isso, está efetivamente agindo para sustentar um dos aliados mais próximos de Trump no cenário mundial, em uma região onde a China tem avançado junto a outras nações, incluindo o vizinho Brasil.
— Muitos de vocês devem ter ouvido que eu sou o maior vendedor de títulos do mundo. E nos últimos dias, estive fazendo isso por dois países — disse Bessent.
Milei, por sua vez, não se mostrou abalado pela atual situação financeira.
— Estamos no caminho certo — disse ele aos presentes, falando em espanhol, prometendo que precisou “fazer o que é certo, em vez do que é confortável e fácil”, ao mesmo tempo em que admitiu que seus opositores políticos estavam tentando explorar uma vulnerabilidade temporária, antes que a Argentina, segundo ele, vire de vez a página econômica.
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O secretário do Tesouro tinha dito mais cedo, na quarta-feira, que os EUA planejam estender uma linha de swap de US$ 20 bilhões à Argentina, e estão prontos para comprar títulos estrangeiros do país. Isso forneceu o tão necessário apoio financeiro a Milei enquanto ele tenta recuperar a confiança dos investidores e conter a fuga da moeda nacional.
O principal responsável financeiro dos EUA disse em suas redes sociais que os termos do acordo ainda estão sendo negociados. Ele deixou claro, em uma entrevista à Fox News, que o financiamento tem como objetivo ajudar Milei antes da votação crucial do próximo mês.
Milei, um reformista pró-mercado, tem enfrentado crescente pressão financeira nas últimas semanas, desde que seu partido perdeu por ampla margem uma eleição provincial importante — um mau sinal a apenas um mês da votação nacional para o Congresso.
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A derrota levou investidores a retirarem seu dinheiro da Argentina, temendo que Milei esteja perdendo o apoio necessário para sustentar sua agenda de reformas pró-mercado, controlar a inflação e estabilizar uma moeda que já foi devastada por crises repetidas ao longo de décadas.
A iniciativa de Bessent também marca uma mudança extraordinária para um presidente dos EUA que foi eleito com a promessa de limitar intervenções militares e financeiras no exterior, preferindo se concentrar em questões domésticas. Desde que assumiu o cargo, Trump cortou bilhões em ajuda externa.
Mas, quando se tratou da Argentina — e de Milei — Trump estava pronto para ajudar.
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Aliado da Casa Branca na região
Em Milei, a Casa Branca encontrou seu aliado conservador mais ferrenho em uma região dominada por líderes de esquerda. Os cortes drásticos de Milei no Estado burocrático argentino foram citados como modelo para os próprios planos de Trump de enxugar o serviço público federal dos EUA.
E em Trump e Bessent, Milei encontrou dois apoiadores financeiros vindos da maior economia do mundo, prontos para intervir e impedir o colapso da moeda argentina, provocado por dúvidas sobre os próprios planos econômicos de Milei. E tudo isso ocorre às vésperas de eleições legislativas cruciais no próximo mês na Argentina, enquanto as pesquisas mostram a oposição liberal ganhando força.
Trump tem alimentado conflitos com líderes de esquerda na América Latina, impondo tarifas ao Brasil — cujo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é um dos veteranos da política regional. Ele também impôs tarifas ao México, presidido por Claudia Sheinbaum, entrou em conflito repetidamente com Gustavo Petro, da Colômbia, e ordenou ataques a barcos pertencentes a supostos traficantes no Caribe como alerta ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela.
Em contraste, Milei traçou um caminho amistoso com Trump, fazendo várias viagens aos EUA, incluindo para a posse de Trump em janeiro. Bessent também fez da Argentina um de seus primeiros destinos como Secretário do Tesouro, em abril, para demonstrar apoio ao programa econômico de Milei, poucos dias após o país conquistar um novo empréstimo do Fundo Monetário Internacional.