Bolsonaristas usaram o Dia do Trabalhador para criticar a postura do governo em meio à crise provocada pelo INSS. No Congresso, o grupo político apresentou na tarde desta quarta-feira um pedido, com 185 assinaturas, para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigue as fraudes em descontos em aposentadorias e pensões pagas, revelado pela Polícia Federal (PF). Nas redes, deputados e senadores da oposição miram no ministro da Previdência Social, Carlos Luppi, que admitiu que sabia sobre o esquema, e culpabilizam o presidente Lula pelo escândalo.
Em um post feito na manhã desta quinta-feira, o governador de Minas Gerais e aliado do bolsonarismo, Romeu Zema (Novo-MG), se referiu ao dia como o “1º de maio de luto pelos aposentados roubados pelo PT”. No vídeo, em que vestia uma camisa preta com um laço branco, ele cobrou a demissão de Lula e questionou se o presidente estaria “com medo de que as investigações cheguem a mais companheiros dele”.
— Quem trabalhou a vida inteira foi roubado. Foram R$ 6 bilhões da sua aposentadoria. Sabe para quê? Para comprar joia, para comprar obra de arte, para comprar carrão tipo Porsche, Ferrari. E o que o Lula fez até agora? Nada. O Lupi continua ministro da Previdência. Como é que o Lula não demite um ministro que deixa roubar os aposentados? — perguntou.
Já o senador Rogério Marinho (PL-RN) publicou um vídeo pedindo que o governo oriente a sua bancada a apoiar a instauração da CPI e deixar de obstruir a votação no Congresso de um projeto que regulamenta o direito de se recusar pagar à contribuição assistencial sindical, prática extinta com a reforma trabalhista de 2017 e retomada por decisão do STF em 2023.
— Esse é o grande presente que poderíamos dar aos trabalhadores brasileiros que estão hoje na ativa, que são celetistas, e que trabalharam a vida inteira para construir esse país e que estão hoje aposentados à mercê dos bandidos que assaltaram, roubaram e surrupiaram o dinheiro dos velhinhos da Previdência — disse Marinho.
Outro a criticar a postura do governo nesta quinta-feira foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que comparou a atual gestão ao mandato de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), dando destaque aos R$ 6,3 bilhões fraudados do INSS, segundo a PF. Os números, no entanto, são referentes ao período de 2019 a 2024, também correspondendo aos anos do governo Bolsonaro.
Bolsonaro enfrentou o sistema: cortou privilégios, reduziu ministérios inúteis, segurou a inflação, enfrentou o crime organizado e botou a esquerda no canto da parede. E melhor, não tinha toda essa sacanagem contra o trabalhador, o empreendedor e os aposentados. Esse legado petista deixa um questionamento para o Dia do Trabalho: como que o Partido dos Trabalhadores é, na verdade, algoz dos trabalhadores?”, escreveu Flávio.
O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também comentou sobre as fraudes do INSS ao compartilhar um trecho de do pronunciamento de Lula, em que ele comentava sobre a crise, e escreveu na legenda que dizia “petista quando não está roubando está…”, pedindo para os seguidores completarem a frase.
O caso também virou assunto no ato 1º de maio organizado por centrais sindicais na capital paulista hoje. Com Lula ausente, a resposta governista na ocasião ficou a cargo do ministro Márcio Macêdo, da Secretaria Geral da Presidência, que defendeu a permanência de Luppi na pasta:
— Escândalo acontece em qualquer lugar do mundo. A diferença é como se enfrenta. Os regimes totalitários se escondem. Os regimes democráticos vêm à tona — afirmou. — O presidente Lula tomou uma decisão rápida e séria […] Afastou quem tinha que afastar, demitiu quem tinha que demitir, foi preso quem tinha que ser preso nessa fase. O processo vai continuar de forma transparente.
Sobre a posição de Lupi, ele disse que o ministro tem conduzido o caso de forma transparente e que “continua no cargo, cumprindo o seu papel”.
— Repetindo o que eu vou falar, não tem nada que desabone a conduta do ministro Lupi. Ele está conduzindo o processo de forma transparente e continua no cargo, cumprindo o seu papel, a sua missão que o presidente Lula deu. Vamos aguardar o processo, como será conduzido, tanto pelos órgãos de controle de um lado e pelo governo do outro, pela condução do ministro.
Macêdo também enfatizou o discurso do governo de que as irregularidades começaram em 2019, portanto durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Questionado se o escândalo poderia afetar a relação com centrais sindicais, minimizou:
— Isso não atrapalha em nada o curso democrático do governo nem a relação com as entidades do país.
O escândalo também foi mencionado por Lula, pela primeira vez, em uma mensagem direcionada à população, transmitido na rede nacional de rádio e TV na noite desta quarta-feira. Durante sua fala, ele criticou os descontos indevidos na folha de aposentados e afirmou que o esquema foi desmontado pelo governo.
— Na última semana, o nosso governo, por meio da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal, desmontou um esquema criminoso de cobrança indevida contra aposentados e pensionistas, que vinha operando desde 2019. Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas e obrigadas a ressarcir as pessoas que foram lesadas.
Durante seu pronunciamento, o presidente também sinalizou apoio à pauta que reivindica o fim da escala de trabalho 6×1 e indicou que promoverá um debate sobre o assunto dentro do governo.
— Nós vamos aprofundar o debate sobre a redução da jornada de trabalho vigente no país, em que o trabalhador e a trabalhadora passam seis dias no serviço e têm apenas um dia de descanso. A chamada jornada 6 por 1. Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade, para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras — disse Lula.
O tema também virou assunto nesta quinta-feira nos principais atos organizados pelas centrais sindicais, em São Paulo e São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Além disso, representantes do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), como o vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ) e a deputada Érika Hilton (PSOL-SP), participaram de manifestações no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP), respectivamente, além da organização de atos em outras oito capitais.
A mesma pauta também chegou a ser apresentada como uma demanda para Lula na última terça-feira, quando ele recebeu integrantes da Marcha da Classe Trabalhadora em Brasília. Essa agenda, no entanto, foi a única do presidente com lideranças sindicais nesta semana, estando ausente nos atos de hoje.
Membros da Esplanada, no entanto, foram mobilizados a comparecer nas manifestações e a gravarem vídeos destacando os feitos da gestão Lula para os trabalhadores. Entre os que publicaram os conteúdos, o ministro Márcio França, do Empreendedorismo, destacou a redução do desemprego e o aumento dos salários acima da inflação. Os mesmos feitos foram comentados por Gleisi Hoffmann, que está no comando da pasta de Relações Institucionais, em um post nas redes sociais.
Já a ministra Cida Gonçalves, das Mulheres, destacou a aprovação da Lei da Igualdade Salarial, em 2023, e a aprovação da Política Nacional de Cuidados, voltada para a corresponsabilização de homens e mulheres por cuidados de familiares.