A capacidade do Brasil de liderar a transição energética é incontestável. O país apresenta uma ampla vantagem em relação às demais nações do mundo que buscam encontrar caminhos para a descarbonização das respectivas matrizes energéticas, de acordo com especialistas que participaram, no dia 18 de junho, no Rio, do evento “COP30 Amazônia, transição energética e mercado de carbono”, realizado pelos jornais Valor e O GLOBO e pela rádio CBN.
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Foi o segundo evento do projeto “COP30 Amazônia”. O primeiro painel tratou de “transição energética e oportunidades para o Brasil” e foi mediado pelo chefe da sucursal do Rio do Valor, Francisco Goes.
Os especialistas ressaltaram que a matriz energética do Brasil é mais limpa em relação aos países desenvolvidos: 50% vêm de fontes renováveis. Nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o percentual é de 15%.
No caso brasileiro, o percentual sobe para quase 90% quando o foco recai sobre a capacidade instalada de geração de eletricidade, enfatizaram.
Para Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), uma das participantes do encontro, o Brasil vai sediar a COP30, em Belém (PA), em novembro, no momento em que discute a possibilidade de se reindustrializar por meio de indústrias verdes, a partir do uso de energias renováveis nos processos produtivos.
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Nos últimos quatro anos, diz a executiva, foram aprovados projetos de lei no Congresso Nacional para implementar o plano de transformação ecológica do governo.
Entre os projetos estão os marcos legais do hidrogênio verde e das eólicas offshore, a criação do mercado regulado brasileiro de carbono e o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), lei de incentivos para projetos que substituem fontes poluentes por renováveis:
— Consigo enxergar mais oportunidades do que desafios, justamente porque o Brasil pode ser um importante provedor de soluções para transição energética e atrair investimentos. O Brasil tem uma das matrizes mais renováveis do mundo.
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A vice-presidente do conselho diretor da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Bárbara Rubim, disse que o país tem condições de expandir a oferta de energia limpa e renovável de maneira mais eficiente.
Na visão dela, um dos desafios está na forma como os planos são executados, sem continuidade. Para Bárbara, o país está sempre à procura “da próxima grande coisa” sem entregar o que foi planejado no passado.
Nesse mercado de energia renovável, a próxima tendência se concentra em tecnologias como hidrogênio verde, energia nuclear e sistemas de armazenamento de energia, além da chegada dos data centers, avalia Bárbara.
Ela alertou para o risco de o Brasil perder espaço e oportunidades exatamente porque já se encontra numa posição mais confortável no campo da energia renovável. A executiva salientou que é preciso assegurar a transição de forma justa para toda a sociedade:
— Nossa excelência pode ser nosso principal inimigo na transição energética. Temos o desafio de assegurar que a transição se concretize de maneira justa. E que as fontes consigam entregar uma energia justa e barata.
Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente, classificou os avanços no campo da energia renovável como “impressionantes”. Segundo ele, houve desenvolvimentos importantes nas últimas décadas, como no caso da energia solar, que saiu de 10 gigawatts (GW) de potência instalada em 2020 para quase 60 GW em 2025.
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Um dos desafios, hoje, é a necessidade de equacionar a geração com o consumo, considerando o perfil das fontes intermitentes, caso das eólicas e solares. Crescer a capacidade instalada dessas fontes, avalia, traz como consequência pontos que precisam de atenção, como os cortes de energia.
— Temos um paradoxo de ter um risco eventual no Brasil. Os eventos climáticos, como ondas de calor, geram novos desafios. Temos que entender como reduzimos as perdas com cortes de energias renováveis.
Baitelo disse que o Brasil descobriu uma maneira própria de implementar projetos de fontes renováveis e destacou que a dimensão continental do país faz com que se tenha várias transições energéticas.
Para ele, a maior dificuldade está nos sistemas isolados de energia, nos quais comunidades estão longe das grandes redes de transmissão e contam com baixo desenvolvimento econômico e social.
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Os palestrantes criticaram o uso de “jabutis” em projetos de lei para atender a segmentos do mercado. Em especial, citaram a derrubada, pelo Congresso, de vetos impostos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a emendas inseridas no projeto de lei do marco legal das eólicas offshore. “Jabutis” são emendas incluídas em um projeto em tramitação no Congresso sem relação com o tema principal.
Para Elbia Gannoum, da Abeeólica, o setor produtivo de energia de todas as fontes não precisa mais de subsídios. “Não faz mais sentido”, diz.
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A iniciativa dos parlamentares pode encarecer as contas de luz em R$ 197 bilhões nos próximos 25 anos, de acordo com estimativas do mercado. Essa medida, avaliam, prejudica a execução de projetos e deixa em segundo plano o que é mais importante neste momento de emergência climática, que é a transição energética para uma economia de baixo carbono.
O projeto “COP30 Amazônia” tem patrocínio Master de Eletrobras, patrocínio de JBS e Vale, apoio do governo do Estado do Pará, do governo do Estado do Acre, BNDES e Suzano, e parceria institucional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Instituto ClimaeSociedade.