A inteligência artificial já interage fluentemente em linguagem natural, criando oportunidades para experiências que combinam escala com personalização, o que deve transformar nos próximos anos as experiências do consumo. Com isso, surgirão desafios ligados a privacidade, ética, controle tecnológico e responsabilidade. Transformar tais tecnologias em soluções concretas requererá profissionais capazes de aproveitar as oportunidades enquanto aprendem a lidar com os riscos emergentes.
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As universidades brasileiras enfrentam um dilema: embora voltadas ao longo prazo e à formação de líderes, dependem de financiamentos instáveis de curto prazo. Para garantir sustentabilidade, precisam mostrar como seus objetivos dialogam com demandas imediatas do mercado.
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Entender os diferentes papéis da universidade ajuda a alinhar objetivos estratégicos e práticos. Inovações muitas vezes surgem de aplicações inesperadas da pesquisa básica. O código de barras só foi possível graças à pesquisa básica em física que deu origem aos lasers.
É impossível prever a próxima grande inovação. Por isso é essencial cultivar a diversidade de ideias, incentivar o diálogo entre áreas e estreitar a relação entre universidades e empresas. Interações fortuitas podem transformar teorias abstratas — como álgebra linear ou teoria dos números — em soluções práticas. Assim, as universidades funcionam como incubadoras de inovação.
Novas ideias percorrem várias etapas até gerar impacto real, e cada etapa exige perfis distintos de pesquisadores: pioneiros (que abrem fronteiras), expansores (que desenvolvem áreas), organizadores (que formam novos talentos) e aplicadores (que conectam ideias ao mercado). No Brasil, os incentivos promovem, quase exclusivamente, expansores. Isso desequilibra o sistema, pois também são necessários pioneiros, organizadores e aplicadores para gerar valor econômico à sociedade.
Empresas que atuam em áreas como IA precisam ser adaptáveis numa arena onde a obsolescência é rápida. Toda tecnologia tem elementos estáveis (como algoritmos) e outros que se tornam obsoletos (como linguagens específicas). Inovação demanda revisitar conceitos fundamentais no contexto de novos problemas. Dominar conceitos é essencial para a sobrevivência. E é nas universidades, com seu ambiente de troca constante e busca por conhecimento, que tal domínio se desenvolve.
A USP tem incentivado parcerias entre pesquisa e setor produtivo. O Centro de Inteligência Artificial e Aprendizado de Máquina (CIAAM-USP), ligado à Reitoria, conecta empresas ao ecossistema de inovação aberta. Essa colaboração gera novas possibilidades para pesquisa e formação de lideranças técnicas. Exemplificando esse modelo de parcerias, foi criado recentemente, dentro do CIAAM, o Telus Digital Research Hub, com a missão de incentivar pesquisa e formação de pessoas em IA centrada no ser humano.
O futuro pertencerá não apenas a quem domina a tecnologia atual, mas àqueles que compreendem como a inovação duradoura nasce do diálogo entre ciência fundamental e aplicações embarcadas em produtos que atendam às necessidades do mercado. Para o Brasil conquistar protagonismo na era da IA, é essencial fortalecer as universidades como espaços vivos de criatividade, ousadia e encontro com os desafios do mercado.
Esse é o caminho para transformar promessas em realidade.
*Renato Vicente é professor da USP e diretor do Telus Digital Research Hub