No histórico festival de 1967, a família de Carlos Malta se dividia entre as músicas concorrentes, como “Domingo no parque” (Gilberto Gil), “Roda viva” (Chico Buarque) e “Alegria, alegria” (Caetano Veloso). O menino de apenas 7 anos disse: “Quem vai ganhar é o ‘Ponteio’.” Acertou. A canção de Edu Lobo e Capinan, interpretada por Edu e Marília Medalha, marcou para sempre a vida de Malta.
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Ele incluiu “Ponteio” no primeiro disco de seu grupo Carlos Malta & Pife Muderno. Agora, para celebrar os 30 anos do conjunto (completados em 2024), o flautista e saxofonista dedica um álbum inteiro à obra de Edu Lobo. “Edu pife” reúne 13 temas em 12 faixas.
— Na adolescência, eu praticava ouvindo os discos do Edu, com o Danilo Caymmi tocando. Ganhei intimidade com essa música — conta Malta, que sempre considerou as composições de Edu (a quem chama de “mestre e timoneiro”) muito “pifemudernizáveis”, como diz. — O nosso combo é altamente brasileiro, com flautas e percussão, trazendo o batuque afro, as músicas dos povos originários e o tratamento jazzístico que permeia o nosso som.
O grupo tem dois grandes nomes do sopro brasileiro (Malta e Andrea Ernest Dias), que tocam pífanos (flautas de som bem agudo tradicionais no Nordeste) e outros instrumentos, três percussionistas (Marcos Suzano, Bernardo Aguiar e Durval Pereira) e um baterista (Fofo Black). Sem Suzano, que estará em São Paulo, o conjunto lançará o álbum nesta quarta-feira (19), às 19h30, no Teatro Rival, na Cinelândia, Centro do Rio.
Edu acompanhou todo o projeto e participou fazendo vocalizes em três faixas: “Zanzibar”, “Casa forte” e “Água forte”.
— Desde que ouvi o Pife Muderno pela primeira vez, fiquei encantado com a ideia do Malta, desenvolvendo o som da Banda de Pífanos de Caruaru com a utilização de flautas diversas, com a Andrea e os quatro percussionistas, criando um modo brasileiro e altamente moderno — exalta Edu. — Eu sempre disse que, com um bom planejamento, eles deviam cruzar o mundo inteiro fazendo apresentações. São projetos como esse que precisam ser feitos para o bem de todos que, como eu, vivem a paixão pela música.
O sexteto esteve na China em 2011, o que resultou num disco lançado em 2014, para marcar os 20 anos de estrada. Neste ano, há apresentações marcadas em Portugal e França em julho e na República Tcheca em agosto.
Além de Edu, participam do novo álbum o cantor Matu Miranda (vocalizes em três faixas), o violoncelista Jaques Morelenbaum (em “Repente”) e Hermeto Pascoal — com quem Malta tocou por 12 anos — em “Vento bravo” e “Casa forte”.
— Nós preparamos o piano para o Hermeto — conta Malta. — Quando chegou, ele disse: “Muito óbvio.” Pegou um copo e fez sons dentro dele com a boca em “Vento bravo”.
Hermeto, então integrante do Quarteto Novo, tocou flauta no festival de 1967, acompanhando Edu em “Ponteio”.
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Malta descobriu o pífano aos 12 anos, ouvindo a Orquestra de Pífanos de Caruaru tocar “Pipoca moderna”, de Caetano, na abertura do disco “Expresso 2222”, de Gil.
— Aí me interessei por Quinteto Violado, Orquestra Armorial, Banda de Pau e Corda e Zé da Flauta tocando com Alceu Valença — diz.
A ideia de um grupo marcado por essa sonoridade surgiu por um infeliz acaso. Ele teve quase todos os seus instrumentos roubados no próprio apartamento.
— Só sobraram os pífanos. Então, pensei: “Vou fazer uma banda de pífanos” — recorda. — Quis montar uma banda que não tivesse piano, baixo e violão. Acabei montando duas: Pife Muderno e Coreto Urbano.
O repertório de “Edu Pife” tem a “Abertura do circo” e outras duas composições da trilha de “O grande circo místico”: “A história de Lily Braun” (“Demos um molho de xote, tiramos do cabaré e botamos no forró”, diz Malta) e “Na carreira” (“em ritmo de galope”). Entre as outras estão “Uma vez um caso”, “Viola fora de moda”, “Lero lero”, “Bate boca” e “Frevo diabo”.
Carlos Malta & Pife Muderno vem de quatro suítes com músicas de Gil, lançadas em 2022. O baterista Oscar Bolão, que morreu em fevereiro daquele ano vítima de Covid-19, participou das gravações, mas não pôde vê-las prontas. Ele foi substituído no grupo pelo maranhense Fofo Black.
O próximo show será em 11 de abril no Teatro Cesgranrio, no Rio Comprido. No desta quarta, também haverá homenagem a Elis Regina, que teria completado 80 anos na segunda (17). O conjunto tocará três músicas de Edu que fizeram sucesso na voz dela: “Upa, neguinho”, “Reza” e “Arrastão”. Malta já gravou dois álbuns com o repertório de Elis: “Pimenta” e “Pimentinha sessions”.