O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, afirmou nesta segunda-feira que o Estado judeu está interessado em normalizar as relações com a Síria e o Líbano, desde que sob um acordo que reconheça as Colinas de Golã como parte do território israelense. A região na tríplice fronteira é motivo de disputa territorial entre os países desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando as forças israelenses ocuparam a posição estratégica.
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— Estamos interessados em adicionar países como a Síria e o Líbano, nossos vizinhos, ao círculo de paz e normalização, preservando os principais interesses de segurança de Israel — declarou Saar em uma coletiva de imprensa em Jerusalém, ao lado de sua contraparte austríaca, Beate Meinl-Reisinger. — Israel aplica sua lei às Colinas de Golã há mais de 40 anos. Em qualquer acordo de paz, as Colinas de Golã permanecerão parte integrante do Estado de Israel.
O aceno israelense ocorre em um momento em que os EUA pressionam atores da região a engajarem em iniciativas diplomáticas com Israel, na esteira do cessar-fogo com o Irã — obtido com ajuda direta do golpe desferido por Washington ao programa nuclear de Teerã. Em entrevista no domingo à agência de notícias turca Anadolu, o enviado especial dos EUA para a Síria, Tom Barrack, afirmou que era preciso que os israelenses alcançassem acordos de paz com a Síria e o Líbano após o fim da guerra com o Irã.
— O que aconteceu entre Israel e Irã é uma oportunidade para todos nós dizermos: ‘Pausa. Vamos abrir uma nova via’ — disse Barrack.
Tanto a Síria quanto o Líbano foram palco de operações militares israelenses no último ano, incluindo alguns casos recentes. Quatro pessoas foram mortas em bombardeios israelenses no sul do Líbano apenas na semana passada, apesar de um cessar-fogo em vigor há sete meses. As Forças Armadas israelenses afirmaram que os ataques foram direcionados a alvos do movimento libanês Hezbollah. No começo do mês, um ataque a drone matou uma pessoa e feriu outras duas em Mazraat Beit Jinn, uma cidade próxima à zona-tampão do Golã patrulhada pela ONU. O Exército disse se tratar de um homem do Hamas.
As ações militares israelenses nos dois países não foram direcionadas aos governos sírio e libanês. No caso do Líbano, Israel respondeu a ataques lançados pelo braço armado do Hezbollah, que passou a agir em solidariedade ao Hamas pela guerra em Gaza. Após desferir duros golpes ao movimento, incluindo uma operação por terra no sul do país e a morte do líder político Hassan Nasrallah, um cessar-fogo foi obtido com o compromisso do governo libanês de impedir que o movimento voltasse a se estabelecer militarmente perto da fronteira.
O governo do Líbano, liderado pelo presidente Joseph Aoun e o primeiro-ministro Nawaf Salam, afirma que está desmantelando a infraestrutura militar do Hezbollah ao sul do rio Litani, que fica a cerca de 30 quilômetros da fronteira israelense. Fontes ouvidas pela agência AFP afirmaram, após uma visita de Barrack neste mês, que o governo delibera exigir que Israel se comprometa a retirar totalmente suas forças do território libanês, o fim das violações do cessar-fogo, a libertação de prisioneiros (detidos durante a guerra) e a demarcação da fronteira.
No caso da Síria, além de ataques direcionados a grupos simpáticos ao Hamas, o governo israelense ampliou seus ataques a partir da queda do governo de Bashar al-Assad, derrubado no ano passado. Inicialmente, os ataques miraram alvos ligados ao arsenal do regime sírio, que os israelenses disseram ter preocupação de cair nas mãos de radicais. Foi neste período que o Estado judeu avançou com seu Exército sobre a zona-tampão na região do Golã, que separa os países.
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A relação com o novo governo, porém, acumula pontos de tensão. Israel lançou ataques contra áreas da Síria, incluindo Damasco, em retaliação à ação de grupos extremistas religiosos contra a população drusa do país, uma minoria étnica que também tem presença no Estado judeu.
Ainda na entrevista à agência de notícias turca, Barrack afirmou que o presidente interino da Síria, o ex-revolucionário Ahmed al-Sharaa — que se encontrou com o presidente Donald Trump durante agenda oficial no Oriente Médio — “não odeia Israel”, e que ele quer a “paz na fronteira”. O enviado classificou o acordo com Israel como “necessário”.
Fontes sírias citadas pelo jornal libanês al-Akhbar, uma publicação próxima ao Hezbollah, afirmaram que não há um “consenso real sobre o assunto” ao comentar sobre relatos de que al-Sharaa estava considerando seriamente a normalização das relações.
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“[O círculo íntimo de Al-Sharaa está] pedindo ao mediador americano que considere opções menos drásticas, como estabelecer um acordo de segurança nas áreas de fronteira e fazer com que Israel se retire do território em que entrou desde dezembro”, disseram as fontes, segundo tradução para o inglês publicada pelo jornal israelense Haaretz.
Ainda de acordo com as fontes sírias, os fundamentalistas no atual governo sírio não aceitariam uma tentativa aberta de normalizar as relações com Israel, sobretudo se envolvessem a entrega formal das Colinas de Golã. Há interesses de outros atores regionais, como a Turquia, contra um aumento da influência israelense no governo sírio.
O enviado americano à Síria também se pronunciou sobre a situação na Faixa de Gaza, onde o governo americano voltou a pressionar por uma solução negociada, afirmando que o mundo veria “um cessar-fogo no futuro próximo”. Embora a pressão interna sobre o premier israelense, Benjamin Netanyahu, também aumente para um fim do conflito, os ataques no front continuam.
Dezenas de milhares de palestinos fugiram da parte leste da Cidade de Gaza, no norte do território, no domingo, após Israel fazer um alerta sobre uma nova ofensiva. Nesta segunda, ao menos 25 pessoas foram mortas em ataques aéreos israelenses, segundo a contagem das autoridades locais ligadas ao Hamas, enquanto duas pessoas que buscavam ajuda também foram mortas perto de um centro de distribuição de ajuda no sul de Rafah, disseram fontes do complexo médico de Nasser à rede catari Al-Jazeera.
Uma delegação israelense deve comparecer a Washington para discutir sobre Gaza, em um momento em que quase dois terços da população israelense se pronunciam a favor do fim da guerra, segundo uma pesquisa divulgada pelo canal público israelense Kan 11.
— Faço um pedido ao primeiro-ministro Netanyahu e ao presidente [americano, Donald Trump] — disse Liri Albag, uma ex-refém libertada em janeiro durante uma trégua entre Hamas e Israel, durante uma manifestação recente. — Eles tomaram decisões corajosas sobre o Irã. Tomem uma decisão igualmente corajosa para interromper a guerra em Gaza. (Com AFP)